Capítulo 01 - Andando em busca do cheiro atraente

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Ultimamente a temperatura aqui tem aumentado em muitos graus célsius... rum rum rum (risos). E eu tenho estado cada vez mais entediado. Diferente de uns e outros, não sou uni em coisa nenhuma e passo a eternidade esperando que me deem alguma tarefa para fazer.

Dificilmente posso sair e qualquer pisada fora da linha é motivo para uma punição demoníaca - que irônico. O fato é que acostumei com as punições, elas já não doem tanto como as primeiras. Não sei se os carrascos estão ficando fracos ou se eu é que estou mais forte. A verdade é que os castigos não superam e por isso não apagam meu prazer infinitamente prolongado a cada nova aventura.

Neste momento não sei se o que está queimando mais são as escoriações causadas pelas chicotadas, ou todo o resto por culpa desse calor infernal. Já conversei com meu chefe e tentei fazê-lo entender que não há sentido em continuar mantendo essa temperatura se nem ele aguenta. Tentei fazê-lo comprar alguns ares-condicionados - dinheiro ele tem para isso - mas o cara não quis.

Não estamos em cima, nem embaixo, muito menos dos lados, mas os humanos acham que sabem tudo sobre isso aqui. Acham-nos perversos, mas nós só fazemos o nosso trabalho e não entramos de enxeridos em lugar algum. Fiquem sabendo que vocês estão sempre nos chamando, invocando, contratando os nossos serviços seja racionalmente ou não.

***

Em um dia desses de tédio, resolvi sair para dar uma espairecida.

Lúcifer estava cuidando de atormentar as almas que haviam acabado de chegar.

Eu sabia que mesmo saindo sem que ninguém percebesse, uma hora dariam por minha falta e o castigo seria meu presente ao regressar.

Foi fácil driblar a segurança, as coisas aqui são sempre tão iguais que todos vivem entediados e por isso prestam pouca atenção em suas atividades.

Escolhi Fortaleza para ser meu point, os ventos de lá são sempre tão refrescantes e o sexo é sempre tão... Fácil. Não que não seja em outros lugares, é só que lá ele tem um sabor diferente, uma dose a mais de malícia combinadas a algumas gotas de pecado. Não escolhi outro país porque creio que não há lugar mais relaxante do que o Brasil. Já ouvi dizer que tudo de ruim vai para lá e por isso deduzi que naquele lugar estaria em casa.

Senti-me tentado ao passar pelos pontos de prostituição. Por que não tentado? Afinal eu só atento quem me atenta. Mas não, definitivamente eu queria algo com mais conteúdo, não era para ser diversão de apenas uma noite.

Continuei minha procura como um ótimo predador que sou. Sentia que logo encontraria a presa perfeita para saciar minha fome de sacanagem.

Andei por um bom tempo em uma longa avenida. Se não falha a memória chama-se Coronel Carvalho, mas talvez não seja necessário focar nesses pequenos detalhes. Havia muito lixo jogado no chão - prova que os humanos não são mais limpos nem melhores do que eu. Em alguns pontos via-se bem nítida a falta de atenção dos governantes para com a cidade que mostrava sinais de desleixo em sua infraestrutura. Uma vez ou outra eu encontrava um morador de rua ou um grupo deles. Presenciei um assalto praticado por dois menores de idade contra um homem bêbado. Eles o atingiram com socos e pontapés para no fim levar sua carteira com dois reais. Por último, antes de entrar em uma rua que levaria até minha presa, avistei dois mendigos estuprando uma bêbada, eles a fizeram de gato e sapato, colocaram-na do "avesso" e no final saíram correndo deixando seu corpo imundo estirado no chão completamente embriagado e "arregaçado".

Só não entendo como essa raça consegue sentir-se tão superior, se não tem compaixão nem mesmo com seus semelhantes, se para eles o outro possa se ferrar, se foder ou ser fodido desde que isso seja o motivo do seu prazer.

Não entendo como ELE acha que essas pessoas ainda possam ter alguma salvação. É tão mais fácil condená-las ao inferno. Que besteira estou dizendo, transformaram o planeta numa cópia quase perfeita do inferno que nem estranham muito quando chegam.

Voltando ao assunto da bêbada: não posso dizer que senti pena dela. Porque não senti. Porém, resolvi não aumentar sua desgraça, fui piedoso, apenas suguei a energia sexual podre que a envolvia e continuei minha caminhada.

Ao chegar à Rua Rio Araguaia do bairro Jardim Iracema, senti um cheiro agradabilíssimo. O odor da proibição que embaralha a cabeça dos humanos misturando certo e errado, confundindo as duas coisas. Anulando uma das coisas.

Segui o cheiro até chegar a um prédio no número novecentos e treze. Era imenso, aparentava abrigar a classe média. De fora se via as janelas em fumê. No térreo um enorme portão preto fechado guardava um salão, do lado esquerdo um portão de grades também pretas era a única proteção dos moradores, do lado de dentro havia um interfone com vários botões contendo o número dos apartamentos. Ao entrar um enorme corredor levava a uma escadaria que levava à outra e outra até o último andar. Em cada apartamento havia uma grade de aço inox e a porta logo depois desta. Os corredores dos halls eram estreitos apesar de extensos e todo o prédio era pintado com uma cor branca que doía na vista.

******

Andei em cada canto daquele lugar tentando encontrar a fonte que emitia o cheiro de pecado tão maravilhoso.

Naquele momento vários casais transavam: uns com mais desejo, outros com menos, uns com mais amor, outros com mais paixão. Senti-me no paraíso, o cheiro de sexo espalhava-se pelo prédio, as energias acumulavam-se dentro dos quartos com as portas fechadas e as janelas travadas.

Com toda a eternidade que me restava resolvi entrar em todos os apartamentos para sugar aquelas energias.

Dos apartamentos visitados, três me chamaram mais atenção, ou agradaram-me mais se assim posso dizer.

No trinta e quatro, um casal gay transava como se o mundo estivesse acabando e eles estivessem tendo sua última vez. Pelo cheiro de suor que impregnava o ambiente pude perceber que não haviam tomado banho antes da prática. Eles "pulavam" feito animais sobre o outro, acariciavam-se com vontade e deleitavam-se com a dor associada aos espasmos.

No segundo apartamento, um casal hétero colocava todo o seu amor e paixão no ato. A atmosfera era inocente e pervertida ao mesmo tempo. Malícia e inocência pareciam até a mesma coisa. O parceiro deixou que sua parceira acaricia-se seu ânus; ela permitiu ser usada de todas as maneiras.

O cinquenta e nove foi o último. Duas mulheres "atacavam" um homem sobre a mesa da cozinha.

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