A maldição

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Em um mundo de muitas cores vivia uma garota triste que passara a infância devastada entre pesadelos e previsões de futuros próximos de pessoas conhecidas que sempre tornavam-se realidade. Certo dia, depois de uma noite mal dormida, sentou-se à mesa para tomar café da manhã decidida. Expressaria seus sentimentos solitários diante dos pais mais uma vez.
Engoliu rapidamente um pedaço de pão com manteiga, olhou para os lados procurando criar coragem. Mas ela ficava sempre tão nervosa. Sabia por experiência que os pais a ignorariam. Alguns segundos passados em profundo silêncio, ela piscou os olhos e buscou coragem onde não tinha.
- Mãe, pai, vocês imaginam por que eu sou assim? - Perguntou Marina.
Como de costume, Verônica fez-se surpresa. Olhou para o marido com olhos de quem não sabe o que fazer. Ela disse:
- Assim como, filha?
Mesmo sem esperança de ter uma resposta satisfatória, a garota triste pensou que naquela manhã abriria um sorriso. Ao contrário, seus olhos começaram a encher-se de lágrimas. Ela despejou de uma única vez:
- Vocês não percebem que não aguento mais? Minha vida não poderia ser pior. As minhas dores de cabeça se tornam cada vez mais fortes e isso tudo é muito difícil para mim...
- Marina, nós sabemos que é difícil, mas não podemos fazer nada. - Lamentou-se Robert.
Ao ouvir as palavras do pai, ela desatou a chorar. - Vocês acham que é fácil? Passei todos esses anos sonhando, tendo pesadelos horrorosos, sempre prevendo o que não queria e me faz tão mal. Vocês podem não acreditar, mas as minhas previsões continuam me comendo por dentro. Só de pensar me dá calafrios. E querendo ou não, eu sempre vou ter em mente e manter em segredo que muitos chorarão no dia seguinte.
- Filha, se Deus lhe deu este dom, só resta você aceitar. - Verônica disse, tentando acalma Marina. Mas nada a acalmaria. Palavras que não transmitiam verdade não a acalmariam. - A vida não foi, não é e nem será justa comigo. Vocês poderiam ser pais melhores. - Ela mostrou sua dor e indignação, antes de correr para o quarto, de onde só sairia no dia seguinte.
Robert e Verônica sempre souberam quanto a vida da filha poderia ser cheia de lágrimas. O pior é que resolveram nunca revelar para ela a causa de tanto sofrimento.
Marina nascera na primeira sexta-feira treze de ano de 1981. Era noite e muitos de seus antepassados em forma de espíritos rondavam a simples casa da família na floresta de Reidh. Robert e Verônica sentiam-se tristes. A filha havia nascido tão sem forças que beirava a morte. Do lado do berço, desolados, olhavam para a pequena criatura sem saber o que fazer. Ali, tão frágil, em um enorme mundo ainda desconhecido, Marina tinha pouquíssimas chances de viver. Ela poderia ter tido sorte. Ou quem sabe alguma ajuda dos céus. Entre os vários espíritos que ali se encontravam, um era de luz. Estava pronto para salvar a vida da garotinha. Sua principal intenção era devolver a ela saúde longa. Por outro lado, os espíritos do mal também a queriam salva, mas transformando assim sua vida em um verdadeiro inferno.
Dois anos antes de Marina nascer, O pai fizera algo que ocasionara a vinda daqueles espíritos do mal. Tal segredo ele guardou só para si e nem mesmo Verônica parecia saber.
Os espíritos aproximaram-se do berço. O espírito de luz tentou ser mais rápido, porém, ao sentir-se invadindo o corpinho quase sem vida de Marina, foi imensamente atingido pelos muitos espíritos do mal. Uma bola de luz escura e de intensidade capaz de cegar qualquer pessoa foi formada. Era do tamanho de uma lâmpada. As janelas foram abertas. O vento chegando cada vez mais forte e frio deixou Robert e Verônica apavorados. Quando notaram a bola, não conseguiram enxergar mais nada. A bola dividiu-se em três. Cada parte entrou em um respectivo corpo. Ao saírem dos corpos dos pais e da filha, voltaram a ser uma. De repente, cenas de como seria o futuro da menina passaram a ser mostradas dentro da bola que diminuiu o brilho e aumentou de tamanho. Nas cenas, Marina aparecia triste, chorando, tendo pesadelos. Prevendo a tristeza de outras pessoas e pior de tudo, ficando louca. Como num misterioso passe de mágica, a bola desapareceu, voltando a ser os espíritos de antepassados de Marina. Robert e Verônica não reconheceram aqueles rostos. Deviam ser de parentes de séculos longe. Sem o espírito do bem, todos eles foram embora, prometendo voltar todos os anos no aniversário de Marina para levar sua alma embora.
O tempo passara, e se não fosse pelo terrível erro cometido pelo pai, a garota triste não seria triste e seu mundo seria colorido. Ela vivia em um mundo colorido, mas seu mundo passava longe das cores.

MARINA - A Garota TristeOnde histórias criam vida. Descubra agora