Miguel foi à casa de Marina para vê-la, mas Verônica não permitiu. Disse para ele não voltar mais.
Para a mulher e o marido, Miguel era o culpado da filha ter descoberto a verdade e agora estar tão triste. Eles não queriam os dois juntos.
Na escola o jovem tímido foi surpreendido pelo palhaço, perguntando como Marina estava. Miguel estranhou. Ele disse:
- Ela não quer me ver.
A garota triste não pretendia sair do quarto. Ela chorava, tão fraca e despedaçada.
De repente uma sombra instalou-no no ambiente. Ao olhar para a janela, viu Kill.
- Não fique com medo. Eu vim só para conversar. - ele foi logo dizendo.
Naquele momento Marina percebeu como queria um abraço. Assim, sem mais nem menos abraçou Kill. Ela começou a desabafar, e Kill teria sua chance de ganhar a confiança dela.
- Os meus pais são dois monstros Kill. Você tinha razão.
Ele mostrou-se solidário.
- Eu disse aquelas coisas porque sabia que eram importante para você.
- Você se mostrou um amigo. De verdade.
- Mas eu tinha o dever de te falar.
- Ainda não imagino como seria morrer tendo a alma levada por espíritos.
- Vem. Sente-se. - Kill ajudou Marina a sentar-se na cama.
- A pessoa que eu mais queria que estivesse aqui comigo parece que me abandonou.
- O seu namoradinho?
- O Miguel ainda não veio me ver. E já fazem cinco dias desde...
Kill colocou a mão nos lábios dela.
- Não precisa continuar. Se você quiser eu posso vir todo dia.
- Acho melhor não.
Kill aborreceu-se um pouco.
- Então você quer que eu vá embora para sempre? - perguntou.
- Não é isso Kill. Eu não gosto de ficar me afundando aqui sozinha.
- Certo. Então você não quer que eu venha, mas também não quer que eu vá?
- O Miguel não pode saber que você anda vindo me ver. Ninguém pode saber.
- Mas pelo menos eu estou aqui. E ele... onde ele está?
Marina pensou por um momento.
- Ele não me abandonaria.
- Se você diz.
Verônica bateu na porta.
- Mãe, eu não quero falar com você.
- Eu já volto com alguma coisa para você comer.
A mulher desceu as escadas.
- Eu entendo como você está se sentindo. - Kill continuou com seu jogo, que não era de todo falso. Ele também gostava de Marina.
- Não Kill. Ninguém entende. Agora acho melhor você ir.
- Só se você me der outro abraço.
Não era justo com Miguel. Não era justo com eles mesmos. Afinal, ela ainda sentia que não podiam se aproximar.
Marina o abraçou.
- Amanhã eu volto. - Kill prometeu, antes de sair pela janela.
Alguns minutos depois.
- Marina, abra essa porta!
- Entre. Está escorada.
Ela não olhou em nenhum momento para a mãe.
- Eu trouxe sanduíche e suco.
- Pode deixar aí na cama.
- Filha, por que não olha para a sua mãe?
- Eu não tenho mãe.
- Não diga uma coisa dessas. Eu e o seu pai também estamos muito tristes. Não se esqueça.
- O Miguel não apareceu?
- Não.
- Então já pode sair.
Marina esperou a mãe sair. Foi para a janela, onde sua tristeza só aumentou ao ver a rua, as pessoas, os cheiros, os movimentos, as cores, a vida, e não poder tocá-los.
Depois da escola Miguel trancou-se em seu quarto. Pensava em Marina. A respirava. Era injusto não poder ajudar ela naquele momento.
- Eu fui, mas era como se ela não estivesse lá. A rainha, A sombra do mal não me permitiu. Agora meus olhos molham, porque não consigo viver sem ela. Inocente inocência. A rainha não me permitia. Não conseguia ver. Ela ainda não havia sido derrotada, ferindo meu coração. A transformou em pétalas de uma rosa esquecida não não sabia mais amar. Eu via. Me afogava. Hoje posso chorar por ti minha princesa. - Miguel refletiu por um momento.
Marli entrou no quarto dele.
- Miguel, o que está acontecendo? - perguntou decidida. Ela e Fernando não gostavam de ver o filho cabisbaixo.
- Eu e a Marina, mãe.
- Aquela garota é amaldiçoada. Vocês não podem ficar juntos.
Miguel irritou-se. Quem era a mãe para falar aquilo de sua amada.
- Mãe, você não sabe o que diz. Ninguém entende. Nós sempre vamos nos amar e pronto.
- Eu só espero que depois não se arrependa.
- Vamos mudar de assunto?
- Isso não está certo. Você deve pensar na sua bolsa de estudos. A loja de brinquedos usados e concertos do seu pai não daria para pagar uma boa escola pra você. Pense nisso.
No final da tarde Verônica voltou a bater na porta do quarto de Marina. Ela não abriu a porta. Somente perguntou por Miguel e com o novo não, pediu para a mãe deixá-la em paz.
O livro de capa preta não tinha quase mais utilidade, mas nos dias sozinha, ajudava Marina a não perder o controle.
Com o cair da noite, Marina tirou sua caixa de lembranças tristes do armário. Ela desceu e subiu as escadas sem que a mãe percebesse. Juntou todas as dezesseis fotos tiradas naqueles que eram o dia mais triste do ano e foi cortando uma a uma. Depois colocou-as dentro da caixa de madeira. Molhou-as com álcool. Com um único palito de fósforo riscado deu fim aquelas lembranças. A garota triste assistiu ao espetáculo de pé. Então uma forte dor de cabeça a atingiu. Ela gemeu. Cheia de tontura, sentou-se na beirada da cama com o livro de capa preta.
"Flores mais vermelhos nascerão para você minha pequena. O sol continuará brilhando em algum lugar. Não ouça os espinhos, apenas mergulhe nos sons que vem do coração. Ser feliz não é fácil, mas deixar-se tomar pela tristeza não ajuda em nada. Olhe as flores e elas olharam por você." - Marina leu, mas de nada adiantou.
Muito tempo depois ela abriu os olhos para ver que estivera adormecida no chão. Abatida, levantou-se indo em direção à janela. Precisava de ar. Ficou ali na janela olhando as estrelas e sonhando com o dia em que poderia sentir tamanha beleza.
Marina ouviu o pai chegar do escritório de advocacia perguntando por ela. Ela fechou a janela e rapidamente limpou a sujeira que fizera ao queimar suas fotos. Depois sentou-se na cama, dando um jeito nos cabelos desarrumados. Lavou o rosto no banheiro e trocou de roupa. Sabia que era só questão de tempo para os pais baterem na porta de seu quarto. Não demorou muito, eles subiram as escadas. Antes de baterem na porta, ela gritou para eles irem embora.
- Você precisa comer minha filha. - Disse Verônica, olhando para o marido.
- Já disse para não me chamar de filha.
Foi a vez de Robert.
- Marina, nós trouxemos seu jantar.
Ela cedeu. Mas não completamente.
- Tudo bem. Eu vou abrir a porta, mas não me dirigam a palavra. Deixem o jantar e saiam.
Assim aconteceu.
O homem e a mulher voltaram para a sala.
- Ela não vai nos perdoar nunca. - Verônica lamentou.
- Um dia ela vai entender. Você verá. - Robert passou o braço sobre os ombros de Verônica.
- Eu não queria que isso tivesse acontecido. Me arrependo tanto.
- Eu também. - Robert viu-se pensativo. - Mas a Marina é mais forte do que parece. Ela vai nos perdoar.
- Eu não paro de sonhar com o dia em que terei nossa filha de volta. - concluiu Verônica.
Ela abraçou o marido, mas ele só pensava em como a filha ainda não sabia de toda a verdade. Do começo de tudo. Se Marina os perdoasse, ele levaria tal segredo para o túmulo.
Minutos depois lá estava Verônica novamente no quarto da filha. Ela pegou as sobras que Marina deixara e ao se preparar para sair, ouviu:
- Ele não veio?
Mas Verônica respondeu com mais um simples e vazio não.
Miguel passou aquela noite se perguntando que motivos Marina teria para não querer vê-lo.
Da mesma forma, a garota triste se perguntava porque Miguel não aparecia. Ela se preparava para dormir quando outra coisa invadiu seus pensamentos. Foi até a janela e a abriu. Um vento forte e gelado penetrou em seu rosto. Ela pensava em alguém que não era Miguel.
Quando amanheceu, o garoto que usava óculos não sentia-se bem para ir à escola. Fernando e Marli acabaram o obrigando a sair de casa. Não queriam de jeito nenhum que ele perdesse a bolsa de estudos.
Ao passar na casa de Marina, novamente foi impedido de vê-la. Antes de passar pelo portão da Colors City High, Miguel parou para conservar com o palhaço.
- Ela não quis me ver outra vez. - disse ele. De certo modo tinha aquele palhaço como um amigo.
- Eu sinto muito por vocês dois.
Marina não saiu da cama nem para escovar os dentes. Sentia-se vazia. Não esperava mais nenhum dos dois. Queria tanto Miguel de volta, mas também estava sendo agradável o tempo que passava com Kill. Eles não podiam se aproximar. Ele insistia pois não sabia muito sobre, já Marina de um jeito ou de outro não estava ajudando em nada.
Quando a sensação de invalidade passou um pouco, levantou-se para fechar a janela que devia ter abrido sozinha. Ao se aproximar, foi surpreendida. Abrindo um sorriso de susto e alívio ao mesmo tempo.
- Eu disse que viria. Mas pelo que me parece alguém aqui não acreditou. Fechando a janela assim na minha cara.
Os dois riram.
Se abraçaram e Marina o convidou para sentar-se com ela na cama.
- Ainda bem que você veio. Eu estava me sentindo tão pra baixo sem ninguém aqui comigo.
- Você não ficará mais sozinha. Todos os dias eu estaria aqui. Isso se você permitir.
Ela sabia que não era bom eles ficarem assim tão perto, mas ele estava sendo seu escape. Ela não poderia dizer não.
- Sabe Marina, eu também me sinto muito sozinho. - isso era verdade. - Vou para o centro da cidade e só volto para a casa do Willy somente à noite. Ele é minha única companhia.
- Então você mora na casa desse Willy. E como assim, você anda trabalhando? - Marina perguntou surpresa.
- Sim, o Willy é um cara bem legal. Ele foi minha salvação quando eu fiquei perambulando dias pelas ruas. E eu tenho que trabalhar para continuar morando na casa dele.
- Por que não volta morar com os seus pais?
Kill estava gostando de responder. Afinal, ele jogava como amava Marina. Agora ele estava sendo verdadeiro. Mesmo que essa verdade futuramente pudesse se transformar em algo doentio.
- Não, nunca mais quero depender deles.
- Saiba que isso me admira. Ai! - Marina gritou a última palavra.
- O que você tem? - Kill perguntou preocupado.
- Não precisa se preocupar. É só mais uma das fortes dores de cabeça que eu costumo ter. Vai passar logo.
- Tem certeza?
- Tenho sim. De você estar aqui já me ajuda bastante.
- Agora eu fiquei pensando. Se o Miguel não veio mais, tem alguma chance de vocês terem terminado o namoro? - um sorrisinho surgiu em seu rosto.
- Claro que não Kill. O nosso amor nunca morrerá, mesmo que acabe. Agora espere um pouco que vou ao banheiro escovar os dentes e trocar de roupa.
O garoto rebelde não gostou no que Marina disse, mas não quis criar motivos para ela não querer mais vê-lo.
Quando Marina saiu do banheiro ele arrumaram o quarto. Várias filhas se espalhavam pelo chão. Eles pegavam essas folhas quando seus dedos se cruzaram. Um ficou paralisado no olhar do outro. Pela primeira vez Marina sentiu seu corpo estremecer ao olhar para ele. Aproximaram seus rostos. Rolou um beijo verdadeiro, porém, ouviram passos se aproximando dali. Só poderia ser Verônica. O encanto teve fim. Kill saiu rapidamente pela janela. Marina juntou as folhas e ouviu:
- Marina, trouxe seu café.
Na escola Miguel andava pelos cantos. Ainda tinha que suportar as ironias vindas de Liza. A patricinha só pensava no baile de máscaras.
Miguel voltou para casa e trancou-se no quarto. Nem vontade de comer sentia.
Marli pediu para ele abrir a porta.
- Como foi na escola? - ela perguntou.
- Nada de interessante. E sem a Marina fica difícil de se concentrar nas aulas.
Marli reparou como o filho estava abatido.
- Você precisa comer. Eu vou preparar uma macarronada bem deliciosa.
Miguel não falou nada. Aquilo irritava a mãe.
- Ela esqueceu de você meu filho. Só você que não quer ver.
- Eu já disse mãe. O nosso amor nunca morrerá, mesmo que acabe.
- Enquanto a isso eu realmente não posso fazer nada.
A noite logo chegou. Marina lembrava como os olhos de Miguel brilhavam quando estavam juntos. De repente outra lembrança a invadiu. Ela olhou-se no espelho, tocando a própria boca, pensando sobre o beijo de Kill.
Em casa, o Sr. Lewis finalizava os preparativos para o dia que mudaria para sempre a história de Colors City. Ele escrevia uma carta para o prefeito.
-"Querido prefeito. Estaremos todos esperando pela sua ilustre presença no cartório. Eu e os cidadãos de Colors City estamos preparando uma grane surpresa que fará a economia da cidade aumentar em até quarenta e cinco por cento. Tenha certeza de que será um grande negócio. Se for de todo seu interesse, por favor, não deixe de comparecer. A data marcada está logo abaixo. Com carinho, Seu amigo Jorge Lewis.
Ao terminar de escrever, o Sr. Lewis riu de suas próprias palavras. Mas também não lhe faltou seriedade. Ele seria visto como um herói.
Marina chegou a conclusão de que os pais ainda lhe deviam algumas explicações. Ela esperou o pai chegar do trabalho. Eles demonstraram surpresa ao vê-la descer as escadas.
- Bem, eu pensei muito e resolvi que nós precisamos ter mais esta conversa. - Marina disse secamente.
- Que bom te ver aqui filha. - Verônica soltou um sorriso esperançoso.
- Primeiro sentem. - Marina exigiu. - nesses últimos dias eu tenho pensado muito sobre umas coisas que aconteceram quando nós morávamos em Reidh. Isso está me perturbando. Agora eu preciso tirar tudo a limpo. - ela sentou-se no sofá pequeno. Olhou para o pai - Por que a velha corcunda dizia para eu estar preparada? Isso está relacionado à maldição? A minha maldição. - ela lamentou.
Robert ficou vermelho. Levantando, criou coragem para novas mentiras.
- Eu realmente não sei Marina. Eu tinha negócios com ela e só. Ela não me falava nada sobre a vida dela.
- Você não quer que eu acredite nisso, não é?
- Eu vou falar. Ela é sua tia. A velha da floresta é sua tia. Ela sempre estava me ajudando com dinheiro. Mas nós ficamos ricos. Depois disso ela só me ajudava a controlar nosso patrimônio.
Marina não iria acreditar. Mas sabia que alguma relação o pai e a velha tinham.
- Do que vocês estão falando? - Verônica entrou na conversa.
- Sabe mãe, algumas vezes quando eu passava em frente à casa da velha eu ouvia a voz dela dizendo para eu estar preparada. Daí um dia eu acabei entrando na casa dela e quem estava lá? O meu pai. Eles conversavam estranhamente. Ele me contou uma história qualquer e a idiota aqui acreditou. Ou pelo menos deixei de lado. No dia que nós saímos da floresta a velha foi lá em casa para se despedir de mim.
- Então se ela for mesmo sua tia, ela deve saber muitas coisas sobre a sua maldição. Coisas que nós duas não sabemos.
- Pai, você tem mais alguma coisa a dizer?
Mãe e filha o fulminavam com o olhar.
- Tudo que foi dito até aqui é verdade. Eu não tenho mais nada para esconder. Eu sei que sou um monstro, mas também não podemos fazer mais nada. E eu fiz tudo pensando no melhor.
- De repente você apareceu em casa milionário. Com uma mala cheia de dinheiro. Lembra Robert? - Verônica perguntou.
- E como não me lembraria. Mas você nunca foi contra Verônica. Para você todo aquele dinheiro foi a melhor coisa que aconteceu.
Vai negar?
- Nós precisávamos do dinheiro. Como eu poderia me opor?
- Pai, você é um monstro. - Marina falou cheia de fúria e nojo do pai.
- Pode deixar Marina. Quando você quiser nós iremos ver aquela maldita velha. Vamos fazer ela nos contar tudo.
- Vocês não sabem o quanto ela pode ser perigosa.
- Não venha dizer isso agora. É melhor você se acostumar que de hoje em diante você não dorme mais no quarto. Pode ficar com o sofá.
Homens não choram.
É claro que choram, ainda mais quando estão arrependidos de certos atos.
Robert ficou ali, sentindo-se o pior pai do mundo. O pior homem da face da terra.
Ele disse para si mesmo:
"Meu coração de espinhos tem de murchar. Só assim toda doçura poderá prevalecer. Eu sou sujo, tenho de ir embora para as flores florescerem. Se eu ficar, como ela poderá enxergar as cores?"
A garota triste e a mãe estavam em seu quarto. Marina só sabia chorar, enquanto Verônica procurava a consolar.
- Agora você precisa ser mais forte do que nunca. Amanhã eu quero ver você sorrindo e indo para a escola. - disse Verônica, acariciando os cabelos sedosos da filha. Marina e Miguel voltariam a se ver, mas para Verônica não tinha outra alternativa.
- Nada me faria rir mãe. Depois de tudo isso, depois de quase dezessete anos é difícil recomeçar.
Alguns segundos em silêncio se passaram.
- Mãe, você acredita que espíritos possam mesmo levar minha alma embora?
- Enquanto a isso não precisa se preocupar. Enquanto existir coisas como crucifixos, você estará salva.
- Essa maldição não vai ter fim?
- Quando nós nos encontrarmos com aquela velha talvez ela possa nos dar uma solução.
Por um momento Marina sonhou com tal suposição.
- Aquela casa me dava calafrios.
- Por que você nunca se abriu comigo sobre isso?
- Mãe, vocês não se importavam comigo.
- Marina, nós não podíamos fazer nada. Esta é a questão.
- Nem amor vocês podiam me dar?
Ela pegou a mãe de surpresa.
- Medo. Por medo de nos aproximarmos muito e acabarmos lhe contando tudo. Você se distanciaria como fez. Mas eu sempre quis revelar tudo para você, mas o seu pai não queria.
- O meu pai. Ainda é difícil de acreditar.
- Pois é - Verônica resolveu perguntou logo - Você me perdoa por tudo filha?
Marina pensou por um segundo.
- Claro mãe. Agora eu já sei quem é o verdadeiro culpado. Eu não gosto de lembrar, mas às vezes a ninha raiva é tão grande que acaba sempre se transformando em crises.
- Respire fundo. Não deixe que tais lembranças façam mal à você.
Marina estava tão perdida ultimamente que não lembrava de uma coisa.
- Eu preciso fazer uma pergunta. - Disse impulsiva.
- Pode fazer.
- Onde está a Charlize? Eu nem conseguia mais lembrar daquela coisinha fofa. Seria tão bom ter ela do meu lado.
- Bem, A gatinha... eu a levei ao Pet Shop. Mas pode deixar que amanhã ela estará de volta. Agora você precisa descansar.Assim que acordou, Marina chamou a mãe e pediu para ela dizer ao Miguel que não queria vê-lo. Caso ele aparecesse. Era sua vez de dar um gelo nele, mesmo sentindo tanto sua falta.
Não demorou, Kill entrou pela janela. Eles conversaram e Marina mais uma vez não resistiu. Eles beijaram-se e Kill foi embora.Alguns minutos depois Verônica entrou no quarto da filha com uma maravilhosa surpresa.
- Você parece estar feliz. - ela reparou nos olhos de Marina.
- Felicidade é diferente mãe. Só estou lembrando de uma coisa boa.
- Se tal coisa está fazendo bem para você, eu também me sinto menos desanimada.
- Mas qual é a surpresa?
- Lembra o que eu disse ontem antes de você dormir?
Marina abriu um belo sorriso.
- Eu não acredito. Você foi mesmo buscá-la?
- Isso mesmo. A sua gatinha está lá na sala.
- Pode deixar. Eu vou até lá.
- Então vamos!Ao olhar para Charlize, Marina emocionou-se. Aquela gatinha de pelos amarelados iria fazer muito bem à ela. Ela estava constantemente tentando ser forte. Superar sua tristeza inabalável.
Miguel voltava da escola. Não comia quase nada ultimamente e andava fraco. Ele caminhava devagar, tentando chegar à casa de Marina. Em uma esquina, Miguel desmaiou, caindo nos braços de um homem que não conhecia.
Já passava do horário que normalmente ele chegava em casa, deixando a mãe preocupada. Para para qualquer dúvida, ele devia ter ido até a casa de Marina.
O garoto abriu os olhos em um quarto sujo, sem ter ideia de onde poderia estar. Ainda fraco, levantou-se, indo em direção à sala daquele lugar. Assustou-se ao ver um sujeito que nunca vira antes sentado em um surrado sofá, como se esperando por ele. Então uma lembrança aflorou em sua mente.
- Foi você que me segurou quando eu desmaiei?
- Não precisa ter medo. Fui eu sim. Agora sente-se aqui no sofá. Eu vou ver se encontro alguma coisa para você comer.
Miguel sentou e algum tempo depois o homem voltou do que parecia ser a cozinha trazendo nas mãos um prato repleto de comida. Ele comeu tudo rapidamente. Não podia negar, estava uma delícia.- Você tem alguma doença que possa ter feito você desmaiar de repente? - o homem perguntou, depois que levou o prato de volta para a cozinha e fez Miguel tomar um copo de água.
- Se o amor que eu sinto por uma garota possa ser considerado uma doença...
- O amor. Eu sei como você está se sentindo. Você não vai desistir da garota, vai?
- Sou seguir o seu conselho. Como você se chama?
- Willy. Pode me chamar assim.
- Willy. Interessante.
- Quando você quiser desabafar pode voltar aqui. Você sempre será bem-vindo. Agora eu acho que você precisa ir. Os seus pais devem estar preocupados.
- Espera. Não quer saber o meu nome?
- Prefiro não.Onde você estava indo, mãe? - Miguel perguntou assim que tocou na maçaneta da porta de casa e se deparou com a mãe abrindo a porta.
Marli o abraçou de tão aliviada. Ela pensava em ir à casa de Marina ver se Miguel estaria lá.
- Eu que pergunto. De onde você vem Miguel? Estava com ela?
-Não estava com ela. Na verdade aconteceu uma coisa.
- Como assim? Quer me fazer ficar preocupada de novo?
- Eu conheci uma pessoa. Um cara bem legal. Eu fui até a casa dele e pretendo voltar lá mais vezes.
- Um estranho. Uma pessoa que você nunca viu na vida. Pretende mesmo voltar na casa dele? Isso não é bom.
- É melhor eu ir pro meu quarto.
- Filho. - Miguel olhou para trás - Promete não se meter com gente ruim? - Prometo. - ele sorriu e foi para o quarto.Robert chegou do trabalho sentindo o desprezo da mulher e da filha. Elas não desceram as escadas nem para um boa noite. Verônica deixara o jantar para ele em um prato sobre a mesa. Elas estavam fechadas em seus quartos.
Marina colocou Charlize na cestinha para dormir e foi para a janela. Procurava respostas para todo o mal que o pai a causara, mas não encontraria.
Fernando e Marli esperavam Miguel na mesa para o jantar. Eles desceu as escadas carregando Runway no colo. Perguntou para os pais porque o gatinho estava tão magro.
- Vocês sabem que é lei. Os bichinhos de estimação não podem ser maltratados. Por que ele está assim?
- Que nós sabemos você quem ficou com a missão de cuidar dele. Você anda o alimentando? - Fernando questionou.
Miguel não soube o que responder. Realmente ele não estava cuidando direito do Runway.
- Tá vendo. - Continuou Fernando.
- Mas isso vai mudar, né Runway? - Miguel falou, acariciando o gatinho. - Depois do jantar o alimentarei direitinho.
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MARINA - A Garota Triste
RomanceEla passou a infância em meio a terríveis pesadelos e previsões de futuros próximos de pessoas com quem convivia. Ela sabia que muitos chorariam no dia seguinte. Ela cresceu, mas nada mudou. Aos dezesseis anos, ela é uma bela garota ruiva de olho...