Um novo dia nasceu esplendoroso. A garota triste acordou e abriu a janela do quarto para respirar ar puro, coisa que não fazia há dias. O sol parecia entrar irradiando seu corpo. Sentia-se leve. Ao mexer no Guarda-roupa, sem querer pegou sua caixa de lembranças tristes. Marina escondia a caixa de madeira dos pais desde pequena. Era só dela e de mais ninguém. Ali guardava as fotos que para ela não podiam fazer parte de nenhum álbum de família. Eram dezesseis fotos, cada uma representando um de seus aniversários. Os pais a fotografavam em seu aniversário sempre sentada em uma cadeira que ficava na sala. Marina não sentia-se à vontade tirando as fotos, mas ainda assim tentava abrir um sorriso para agradar os pais, mesmo num mundo obscuro onde no fundo estava sempre pedindo ajuda. Além disso, achava tão estranho as velas, as cruzes e toda a água benta em seu triste aniversário. Era o dia mais triste do ano. Robert e Verônica sabiam que ela aí lá no quarto deles e pegava as fotos, mas nunca discutiram ou chegaram a comentar sobre. Marina sentou-se no chão com a caixa de madeira nas pernas. Agora olhando suas fotos, parecia que nenhum sol mais existia. A tristeza estava de volta. Observou uma a uma e as guardou em seguida bem no fundo do guarda-roupa. As lágrimas queriam cair, mas a garota triste prometeu para si mesma que a partir daquele dia sempre que a tristeza estivesse lá, ela tentaria ser forte o bastante para conseguir enxergar todas as cores e seguir em frente. Enquanto isso, em seu quarto, Kill começava planejar sua vingança. Pensava no dia anterior, principalmente na parte da noite. Percebeu que não tinha mais amigos e pior, Marina nunca olharia para ele do jeito que ele a enxergava. Sem pensar muito, encontrou o caminho perfeito. Passaria a atormentar a vida de Marina e enquanto a Kevin, Sean e Daniel, não queria nem sabia. O melhor para eles seria não terem nenhum contato. A parceria havia acabado. O garoto rebelde não estava disposto a ir à escola depois da vergonha que passara no clube noturno, mas Betina e Otávio não deixariam por isso. Se ele não fosse, teria sua gorda mesada suspensa por três meses.
Os pais esperavam Kill lá embaixo para o café da manhã. Ele não aparecia no alto da escada, impaciente e com muita raiva, Otávio foi buscá-lo no quarto. Kill não sabia como reagir diante deles. Uma breve discussão iniciou-se e teve fim. Betina e Otávio disseram para Kill que já estavam chegando ao limite e que não aguentavam mais fotos da família estampadas nos jornais locais. Se ele não parece de aprontar, logo seria expulso de casa, os pais deixaram claro. O bad boy colocou os braços para detrás da cadeira, cruzando e estalando os dedos das mãos. Ele disse: - Podem ficar tranquilos. Eu prometo ser um garoto de bem daqui em diante. - foi difícil dizer essas palavras. Ele ainda implorou para não ir ao colégio por uma semana, o que não funcionou. Miguel e Alice ainda estavam em casa. Ele abrindo-se para os pais. Ela para a tia. Os dois contaram a história de Marina, até onde sabiam. Fernando, Marli e Rosana prometeram nunca falar nada para ninguém. Em meio à surpresa que não deixou de gerar emoção, Alice voltou ao passado. Lembrou dos pais e das boas lembranças que guardava. O dia que aprendera andar de bicicleta, o dia em que os pais a viram lindamente na apresentação de teatro na escola. O último aniversário passado ao lado deles. Ao encontrar Alice na frente de sua casa, Miguel viu que ela andara pensando nos pais mortos. Abraçou a amiga fortemente. Depois foram andando até a esquina para encontrar Marina. Vendo eles se aproximarem, a garota triste pensou: - É claro que eles vão me ignorar e passar direto. Não vão nem olhar para o meu rosto. Eu não sirvo para eles. - mas estava completamente enganada. Assim como o garoto tímido que usava óculos, foi só ver Alice que percebeu. Ao fazer uma pergunta, a garota negra respondeu: - É que eu voltei a pensar nos meus pais, mas o meu sorriso não vai ficar muito tempo escondido dentro de mim. Pela primeira vez, ao estacionar seu belo carro na frente da escola, Kill sentiu aquilo que Marina, Miguel e muitos outros sentiam ao pôr os pés naquele lugar pela primeira vez. Talvez voltasse para casa dali mesmo. Depois de pensar muito, resolveu sair do carro. Com medo, dolorido e desengonçado, passou pelo portão. Estava tudo em ordem, até invadir o corredor dos segundos anos. Kill passou a ouvir risinhos malefícos, gritos. A palavra "BEBEZÃO." A palavra cicatrizou de vez sua ferida, fazendo-o perder-se dentro de si pela vez.
Kill ficou imóvel. Quando não aguentava mais, três garotos de bom coração apareceram para lhe devolver luz. Marina, Alice e Miguel o levaram para a sala de teatro. Tudo o que mais queria era ficar sozinho. De repente Kevin, Sean e Daniel entraram na sala ridicularizando ainda mais o garoto rebelde, como se não tivessem sua parcela de culpa. Uma fúria adentrou Kill e ele não partiu para a briga porque foi impedido. Naquela manhã, Marina e Miguel foram juntos com Alice para a sala onde estudavam pouco antes do término do intervalo. Sentaram-se e em menos de um minuto o diretor Lewis chegou de surpresa. Então começou a falar e eles perceberam. A lousa estava repleta de palavras obscenas. A cena perfeita para um belo castigo. O senhor Lewis, como era chamado pelos alunos e professores os levou para a diretoria. Parecia um zoológico com tantos quadros de bichos nas paredes e pequenas réplicas de animais sobre a escrivaninha. Indo ao que realmente interessava, O diretor perguntou o porquê das palavras escritas na lousa da sala de aula. Chocados, mas certos de que levariam a culpa, Alice respondeu: - Desculpe, Senhor Lewis. Nós não temos nada a ver com aquilo. O Senhor Lewis falou em chamar os pais deles e responsáveis, então, para pouca confusão, resolveram assumir a culpa. Como consequência foram levados à biblioteca, onde o castigo teria início. Segundo o Senhor Lewis os três amigos teriam de limpar prateleiras empilhadas de livros até a hora da saída. Eles não achavam justo, mas pensando bem era melhor do que a vinda de seus pais. Sentaram-se ao redor de uma mesa de leitura mostrando preguiça. Marina tinha tinha uma certeza absoluta dentro de si de que Kill era o responsável pelo castigo deles. Também não deixava de ser uma dúvida. Na sala de teatro Kill mostrara-se agradecido, mas isso não o impedia de aprontar. Enfim criaram coragem e começaram a limpar os primeiros livros. Uma coisa fantástica aconteceu. Marina colocou suas mãos delicadas em um livro de capa preta. Ao puxá-lo, com um pouco de dificuldade, pois ele parecia preso, um barulho que lembrava contos de fadas tomou conta do lugar. Eles três assustaram-se. Marina deu passos para trás. Ali, de onde puxara aquele livro, a prateleira dividiu-se em duas partes sendo arrastadas sozinhas para os lados, deixando uma passagem secreta à seu alcance. Por sorte, a biblioteca não costumava ter frequentadores naquele horário. Impressionados, entraram na passagem. Andaram durante alguns minutos pelo corredor escuro, mas iluminado por milhares de vaga-lumes. Com medo de que alguém entrasse na biblioteca, resolveram voltar. Então, ao darem meia volta, uma porta atrás deles abriu-se rangendo. Curiosos e ao mesmo tempo cheios de medo, passaram pela porta. Ficaram encantados com o que encontraram. Era o ar puro e a leveza que não existiam fora dali. Era um jardim, só que suas flores carregavam toque de magia. Elas brilhavam gigantescas e de todas as cores. Sim, ali Marina conseguia enxergar as cores. Borboletas apareceram do nada os rodeando. Uma pousou no ombro de cada um deles. Sorriram alegres. Ainda existia naquele mundo encantado uma árvore cheia de maçãs e um banco de madeira sob seus galhos. Bem na frente da árvore, um lago de águas violetas. Os três amigos Sentaram-se no banco sob a árvore e esqueceram de todo mal que os rondava fora dali. Foi a primeira vez que Marina sentiu-se como se não tivesse doença nenhuma. Miguel e Alice viram como ela pareceu bem ao ler o livro de capa preta que os levou até ali, mas pediram para ela guardá-lo. O livro poderia ser muito útil. Estava na hora de voltarem para a biblioteca. O Sr. Lewis ficou satisfeito ao entrar e vê-los limpando os livros. Antes de serem liberados do castigo, Alice perguntou ao diretor quem os teria denunciado. Com poucas palavras o diretor deixou entender que não era da conta deles. Mas eles não precisavam perguntar para sentirem que Kill era o único responsável. Agora os três amigos tinham um segredo só deles. Prometeram voltar juntos ao jardim encantado todos os dias. Para não levantar suspeita, no lugar onde ficava o livro de capa preta, Alice colocou seu livro. Todo mundo já tinha ido para casa, menos Kill. Marina, Miguel e Alice assustaram-se ao virar a esquerda de um corredor. O garoto rebelde colocou-se na frente deles feito uma assombração. Permaneceu imóvel olhando para eles como se estivesse possuído. Era de arrepiar. Até que Alice gritou. O Sr. Lewis apareceu e Kill trocou logo de expressão. Quem o visse naquele momento, o teria como um verdadeiro anjo. O diretor chegou a perguntar o que estava acontecendo. Kill disse que os outros três deviam estar imaginando coisas. Ainda com medo, sem dizer uma palavra, eles saíram apressados. Aproveitando que estavam sozinhos, o Sr. Lewis disse à Kill que sabia que ele tinha armado para os colegas de sala ficarem de castigo e mais: se o garoto não começasse a rever seus conceitos em pouco tempo seria expulso da Colors City High. O perdão não viria da próxima vez.
Com tanta raiva por dentro, Kill prometeu seguir os conselhos do diretor, mas para si mesmo prometeu que aquilo teria vingança. Quando ia saindo, o Sr. Lewis falou:
- Eu estou de olho. No caminho para casa, Marina passou mal e precisaram sentar-se no banco mais próximo. O que não era difícil de achar em Colors City, pois Joseph Lock ordenara a muito tempo árvores frutíferas e bancos sob estas espalhados pela cidade. Alice e Miguel lembraram do livro de capa preta que Marina trazia em sua mochila. Miguel começou a ler o livro. Aos poucos, a tontura que a garota triste sentia foi passando. Eram poesias tão bonitas de se ler e ouvir. Sobre flores, pássaros, natureza e sentimentos humanos que eram inesquecíveis. Para agradecer, Marina abraçou o amigo. Ela sentiu algo diferente naquele abraço. Uma sensação boa de proteção que ainda não saberia explicar. Foi muito rápido. A garota triste tinha acabado de chegar em casa e subido para seu quarto. Não esquecia o abraço dado em Miguel. Tirou o livro que pegara na biblioteca da mochila e olhou para ele por algum tempo. Agora a sensação era tão estranha. Não era boa. Ela não queria, mas sentada na beirada da cama olhando para a capa daquele livro, lembrou do dia em que vira o pai conversando com a velha corcunda da floresta que vivia pedindo para ela estar preparada. No começo da noite o pai de Marina chegou em casa do escritório de advocacia. Pelo que sabia, o pai era um ótimo advogado. Ela desceu as escadas. Ansiosa, depois de anos criou coragem e perguntou sobre um livro de capa preta que o pai confessara a velha corcunda que tinha jogado fora. Robert não esperava. Mexendo no pescoço e gaguejando, disse que era um livro como qualquer outro de receitas medicinais. Tinha pedido a velha porque as cabritas que criavam antes de Marina nascer estavam doentes. Como não acreditou nas palavras do pai, ela disse: - Eu sei que você está mentindo pai, mas tudo bem. Eu tinha algo muito importante para te dizer. Melhor deixar pra lá. Eu vou voltar para o meu quarto.
Era melhor não insistir. Tentar descobrir alguma coisa realmente pelos pais não a levariam a lugar nenhum. A mãe arrumava a mesa na cozinha, então deve ter ouvido muito. Robert então parou para saber o que de tão importante a filha tinha para lhe dizer, mas Marina foi categórica: - Não pai... se me contar a verdade é tão difícil para você, então faço das suas palavras as minhas. Enquanto a garota triste subia as escadas de volta para o quarto, sem jantar, Miguel perguntava em casa aos pais se a garota de quem ele estivesse gostando fosse Marina, eles aprovariam. Marina tinha uma história assustadoramente triste. Ele tinha receio. - Filho, o que você achar que for melhor para você, será também o melhor para nós. - disse primeiro Fernando. - Miguel, meu filho, o seu pai tem razão. A sua felicidade depende apenas de você mesmo.
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MARINA - A Garota Triste
RomanceEla passou a infância em meio a terríveis pesadelos e previsões de futuros próximos de pessoas com quem convivia. Ela sabia que muitos chorariam no dia seguinte. Ela cresceu, mas nada mudou. Aos dezesseis anos, ela é uma bela garota ruiva de olho...