Saí de casa mais cedo que o necessário. Por causa do horário de verão, ainda estava escuro, mas o caminho para o colégio era curto e movimentado. Tá, nem tanto. Pelo menos, o suficiente para que eu não precisasse me preocupar em ser assaltada ou qualquer coisa do tipo.
A verdade é que eu não consegui dormir. Passei a madrugada estudando, mas não era bem o que eu queria. Tentei me deitar, e tudo o que aparecia na mente tinha relação com "Ian" e "como eu convidaria a Lara para minha casa". Ambos casos extremamente problemáticos para uma cabeça prática como a minha. Quando percebi que estava perdendo tempo, levantei-me para estudar
Foi produtivo. Porém, às seis horas em ponto, senti um cansaço de modo que, se eu deitasse naquele momento, não conseguiria acordar para as aulas. Como faltava apenas uma hora e meia, tomei um banho de cabeça e me vesti para o colégio.
E lá estava eu, sob o frio da manhã brasiliense. Fevereiro é sempre chuvoso, mas tive sorte do dia apresentar probabilidade de chuva, apenas, no final da tarde. Pena que isso não melhorava meu humor e nem tirava minhas olheiras.
— Bom dia – alguém disse. Provavelmente um transeunte feliz com a sua vida.
— Bom dia – respondi porque sou educada.
— Como está a futura médica hoje? Passou a noite estudando?
Nada de transeunte simpático. Quem estava ali era o professor de História Mundial, Henriques. Nem percebi que ele estava andando do meu lado.
— Exato. Por isso as olheiras.
Eu juro que não quis ser rude, mas realmente não estava pensando direito graças ao peso do sono. Percebi o quão desconfortável ele ficou e me senti um pouco culpada. Só não o suficiente para pedir desculpas ou algo do tipo.
Andamos alguns metros em silêncio. Não sei como não caí desacordada no meio do caminho. O sono estava batendo cada vez mais forte.
— OK. Serei direto e sem delongas. Gostaria de me desculpar pelo que aconteceu na segunda-feira – ele quebrou o silêncio.
Essa era nova. Até senti o cérebro despertando um pouco.
— Se está falando do que aconteceu durante a chamada, não se preocupe. O senhor não foi o único a me colocar na mesma situação – respondi, lembrando-me do feitiço do tempo que caira sobre mim naquele dia.
— É. Eu fiquei sabendo.
Concordei com a cabeça, porém não disse mais nada. Acho que não sabia o que dizer. Foi legal da parte dele ter se desculpado e só.
— Bom, já que você estudou a noite inteira. Por que não volta para casa e descansa?
— Um professor dizendo para uma aluna matar aula? Isso não faz sentido. – Na verdade, era absurdo.
— A sua primeira aula de hoje é da minha matéria. Eu digo agora o conteúdo que darei e você o estuda em casa. De preferência, não de madrugada.
Encarei o professor incrédula (percebi que ele não era tão mais alto do que os meus 1.65). Ele só podia estar tirando uma com a minha cara. Por que ele se comportava tão simpático rompendo o sistema? Será que ele tinha uma personalidade parecida com a do Lucas e queria algo em troca? Procurei e procurei, mas o rosto dele estava tranquilo. Não havia sinal de maldade ali.
— Eu não mato aulas. É contra as regras – disse, enfim. Ele riu. E finalmente vi algo que se sobressaia naquela aparência toda normal dele: o sorriso. Era aberto e caloroso. Bonito. O quê? O pensamento me fez corar e virar o rosto. Onde eu estava com a cabeça? Só podia ser o sono.
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A parede branca do meu quarto
Novela JuvenilApós ter um vídeo postado no Youtube sobre o surto psicótico que teve durante uma prova, Mariana Vilar virou uma celebridade da internet. Infelizmente, isso não trouxe nenhuma vantagem para a vida dela: foi expulsa do colégio antigo, perdeu o contat...