Capítulo 3 - Sobrenatural

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Marina observou as janelas durante uma semana e elas continuaram abertas.
Durante as noites, ela achou ter escutado várias vezes objetos rolando no chão.
Letícia nunca acordava com esses barulhos, então Marina não dizia nada a ela.
  Durante uma tarde Marina estava sozinha editando algumas notas no notebook, ela estava usando fones, mas a música não estava alta o suficiente para a impedir de escutar o barulho de alguém batendo na porta.
“Entra”- Disse Marina sem tirar os olhos da tela.
Um momento se passou e ela ouvi novamente a batida, Marina tirou seus fones e fechou o notebook.
  “Pode entrar”- Disse Marina, virando para olhar.
  A porta estava completamente aberta, e ela havia deixado aberta de propósito já que Ian (Um garoto que ela estava ficando) ia passar por lá. Marina ouviu a batida novamente, atrás dela e ela literalmente pulou da cadeira.
  Dessa vez estava vindo do outro lado da parede – o closet. O closet que ficava na parede dividida com o quarto 733.
“Letícia, isso não tem graça”.
Silêncio...
“Letícia, eu juro por deus que
eu vou dar na sua cara”- Disse Marina brava.
Silencio...
Marina andou até o closet e segurou a maçaneta.
“Letícia, você é uma completa...”
“Completa o que?”- Disse Letícia na porta do quarto atrás dela.
Marina soltou a maçaneta e deu passos para trás, seus olhos estavam arregalados. Letícia jogou as coisas dela na cama e virou para Marina, cruzando os braços.
“Uma completa o que?”- Perguntou Letícia muito brava.
“Eu...eu achei que você estava se escondendo no closet”- Disse Marina.
“O que? Por quê?”- Perguntou Letícia.
“Porque alguém estava batendo na porta”- Respondeu Marina.
“Meu Deus, Marina”.
Letícia foi em direção ao closet, abrindo as portas logo em seguida. Não havia nada lá além de roupas e caixas. Ela estendeu um braço para o closet como se estivesse dizendo “Viu?”
“Eu juro Letícia”
“Marina, não tem nada aqui.”
“Eu sei o que eu ouvi.”
As duas ficaram uma fitando a outra até que a pequena discussão foi interrompida pela chegada de Ian.
Ele imediatamente sentiu a tensão no quarto.
“Oi, moças... quais são as novidades?”
Marina continuou fitando Letícia de uma maneira não muito amigável. “Tem alguma merda acontecendo no quarto vizinho, mas isso não é novidade”- Disse Letícia.
“Qual? O 735 ou o vazio?”
“O vazio”- falou Letícia.
“733... Bom, eu não estou surpreso, é o quarto do suicídio”
“É, nós ouvimos falar sobre as mortes”- Disse Marina .
“É bastante esquisito, três suicídios em apenas um quarto”- Falou Ian.
“Três?Nos disseram que foram dois”- Disse Letícia muito surpresa.
“Bom, teve um casal nos anos 70 e depois um cara... uns 10 anos depois. Ele pulou da janela”- respondeu Ian.
Marina e Letícia se olharam, assustadas, e mesmo que fosse Letícia quem tinha medo de altura, Marina não conseguia imaginar uma morte pior do que essa.
“Admito que três suicídios no mesmo quarto seja perturbador”- Disse Letícia, num tom mais calmo, como se estivesse pedindo desculpa.
“Eu ouvi que tem algo lá” Ian disse.
“Tipo o que?”- Marina perguntou.
“Ninguém sabe, mas todo ano alguém aparece com uma teoria nova, geralmente perto do Halloween alguma coisa é publicada no jornal do campus...mas seja o que for eu não acho que seja amigável”- Ian respondeu.
“Mais alguém já se matou em outro quarto?”- Marina perguntou.
“Não, só o 733. Eu fiquei surpreso quando ouvi que iam abrir a ala norte esse ano”- Disse Ian.
“Eles nos disseram que essa era a maior turma de calouros em 20 anos”- Disse Marina.
“É, eu ouvi isso também. Vocês podem sempre pedir uma mudança de quarto.” Ian disse.
Ele sentou na cama e Marina se apoiou nos ombros dele.
“Eles não iam nos deixar juntas novamente, Marina e eu somos melhores amigas desde pequenas, nós não vamos dividir quarto com outras pessoas”- Letícia interrompeu.
“Então a gente vai continuar aqui, vivendo do lado de Satã?”- Respondeu Marina. “Pelo menos vamos ter algo pra contar depois que nos formarmos”- Retrucou Letícia.
“Esses não são os tipos de história que quero contar”- Respondeu Marina.
Alguns dias depois, Letícia começou a acreditar na história do closet. Marina acordou no meio da noite com o som de alguém sussurrando, ela olhou para Letícia e ela já estava olhando de volta, com olhos arregalados.
Ela levou um dedo aos lábios lentamente.
Marina ouviu calmamente, tentando entender o que a voz estava dizendo e de onde estava vindo, mas ela não conseguia entender uma palavra sequer. Ela levantei da cama na ponta dos pés e foi para a cama de Letícia.
Os sussurros estavam definitivamente mais altos lá, provavelmente porque a parede dela era a mesma do 733. Marina tentou escutar novamente.
Nunca......pega....bocas....dos idiotas.....
Mas que porra...? Letícia encostou a orelha na parede e os suspiros simplesmente sumiram e Marina encostou-se à parede logo em seguida. De repente, ouviram um alto “bang” do outro lado, o que fez com que Letícia tirasse o ouvido da parede e choramingasse de dor, colocando uma mão no ouvido.
Alguém estava lá, pensou Marina.
Com mais raiva do que medo Marina abriu a porta do quarto e foi em direção ao 733, batendo seus punhos com força na porta, não se importando se alguém iria acordar ou não.
“Você tá’ de brincadeira?Essas gracinhas não tem mais graça, sai desse quarto, seu otário”- Marina gritou para a porta.
Silêncio...
E então a maçaneta começou a girar.
Marina não sabia o que esperar, mas com certeza não era aquilo, ela se afastou tão rápido da porta que bateu  na parede em frente.
  Assim que a maçaneta foi girada por completo, a porta começou a abrir, um rangido insuportável começou, mas a porta não foi totalmente aberta, pois a fechadura não permitiu.
Marina segurou a respiração até que a pressão na maçaneta sumiu e ela voltou á posição normal.
Ela percebi que Letícia estava olhando do quarto delas e suspendeu as mãos como se perguntasse “o que aconteceu?”
“Alguém se acha muito engraçado.”   Respondou Marina em voz alta.
Letícia balançou a cabeça e voltou para dentro do quarto.
Marina ajoelhou e apoiou a cabeça no chão, tentando ver por debaixo da porta, foi a primeira vez que ela viu o quarto por dentro.

Quarto 733 Onde histórias criam vida. Descubra agora