Uma semana depois...
Eles inauguraram a agência de ecoturismo com a agenda lotada. Foi por isso que, por exigência de Açucena, um jovem da aldeia fora contratado para ajudar nas tarefas administrativas e nos passeios pela floresta.
O rapaz, de cabelos castanhos lisos e olhos amendoados, que havia completado dezessete anos de idade recentemente, era franzino, e parecia ainda mais jovem do que era. Mas sua agilidade e coragem eram de um grande guerreiro e ele conhecia muito bem a floresta.
A indicação do jovem fora feita por Saraíba, o que levou Eduardo a ficar ressabiado. Em poucos dias, porém, Jurandir demonstrou ser um ótimo guia turístico, embora tivesse um pouco de dificuldade para aprender as tarefas administrativas, a mexer com o computador.
Nas primeiras excursões, ele procurou ficar logo atrás de Eduardo, acompanhando-o de perto, como lhe solicitara Açucena. Contudo, logo tomou a dianteira e passou também a explicar aos turistas sobre a flora e a fauna local, com a propriedade de quem nasceu e cresceu naquelas matas e desenvolveu perfeita simbiose com a natureza; com a propriedade de quem aprendera desde cedo os segredos da selva e a utilizar muito bem os seus sentidos, sobretudo a audição e a visão, que eram imprescindíveis para a sobrevivência na selva. Ele também conhecia perfeitamente os perigos camuflados entre a vegetação e os hábitos alimentares de todos os animais diurnos e notívagos, algo que era igualmente indispensável para alguém que, desde a mais tenra infância, adorava sair para caçar com seu pai e irmãos mais velhos.
A única falha de Jurandir, pensava Açucena, é que ele se alongava demais em suas explicações. Por isso, era preciso controlar o seu tempo e sua empolgação quase que constantemente. Mas isso era simples de resolver e Eduardo já havia se encarregado de conter o rapaz.
Naquela sexta-feira tipicamente quente, conforme regras de segurança estabelecidas por Açucena, e aprovadas por Eduardo, Jurandir seguia na frente do grupo, ela seguia no meio e Edu no final da pequena fila de excursionistas que agora caminhavam por uma trilha estreita.
Na primeira parada para descanso, ela falou sobre a cultura e ritos indígenas, com o jovem Jurandir acompanhando tudo ao seu lado, já que ele também ficaria responsável por essas mini palestras em sua ausência. O público que ela atenderia, a partir do mês seguinte, seria o de estudantes e pesquisadores das mais variadas áreas das ciências biológicas, que seriam organizados em dias diferentes dos grupos de turistas comuns.
Enquanto Açucena tirava as dúvidas de alguns excursionistas, Eduardo, que observava a todos com especial atenção, percebeu quando uma bela morena, que não tirava os olhos dele desde a saída no escritório, se distanciou do grupo e, instantes depois, surgiu às suas costas.
— Olá!
— Olá!
Ela estava agora estava de frente com ele. E os olhos e o sorriso na boca pareciam um convite.
— Você é daqui?... — A voz macia tinha um sotaque italiano. — Quero dizer, daqui da Amazônia.
— Não. Sou de São Paulo. Mas já estou morando aqui há alguns meses.
— Eu desconfiei...
— Desconfiou?! — Ele ergueu uma sobrancelha.
— Sim, desconfiei... pelo sotaque. É que meus pais são paulistas. E muito embora eu tenha nascido na Itália, a gente vem periodicamente para São Paulo... Aproveitando, o meu nome é Giulia.
— Prazer. — Ele girou o rosto e observou Açucena. Os olhos se encontraram neste instante e ela não lhe pareceu aborrecida. Continuou solícita ao pequeno grupo que a cercava. — O meu é Eduardo.
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Corações Selvagens (Capítulos para degustação)
Misteri / Thriller"NA ÍNTEGRA ATÉ 15/12/16''. S I N O P S E: Ele: um oficial apaixonado pelo trabalho, movido pelo perigo e por ímpetos altruístas, que sempre acreditou que o peso do compromisso e o apego para com o dever tornavam o seu coração forte o sufic...