Capítulo 1

96 8 16
                                    


Aletha acordou de repente, se vendo em um campo de grama baixa e seca. Um pouco de neve se ajuntava ao seu redor e em cima de seu vestido. Tremia de frio tal qual estivesse dentro de um iceberg. Enrolou-se em seus cobertores fofos como se quisesse dormir ali, mas sua gata lhe arranhou. Ela levantou assustada e o pequeno felino estava olhando profundamente nos olhos dela. Quase agradeceu a gata por ter sido acordada. Pegou os cobertores e se enrolou em dois deles, como o terceiro fazendo uma espécie de bolsa ou sacola em que depositou a gata. O felino acomodou no cobertor e ela colocou no ombro. O frio entrava por frestas da coberta. Poucas quantidades de neve caíam do céu. Ela andou com dificuldade e a gata soltou um miado, como se fosse de alerta. O ignorou e começou a andar.

Poucos minutos depois, ela estava coberta de neve. Seus cabelos castanhos estavam brancos. Seu vestido curto e casual não lhe ajudava muito. O cobertor que estava enrolado em formato de uma bolsa estava com um pouco de neve no fundo. A gata ronronava e miava como em protesto. Começou a acariciar levemente a cabeça dele, dando algumas fungadas. Uma nevasca estava começando, e de proteção só dois cobertores. Com um dos cobertores cobriu o buraco da sacola improvisada e ela se tornou quase uma cesta. Com o último cobertor, se enrolou e prendeu com seu colar dourado ele ao corpo. Andava com dificuldade no chão frio e fofo, seus pés descalçados. A neve parecia estar contra ela, enquanto ela choramingava. A gata miou e enfiou a cabeça para fora. Olhou, e então saiu da bolsa, correndo. Aletha, com medo de perder sua gata, correu atrás dele. Não sabia o que estava fazendo naquela cortina de terror branco. Então viu uma cabana. Era só a silhueta, poderia ser facilmente um monte de árvores. Correu até lá e viu a gata em frente à porta, olhando. Seu rabo se mexia em um movimento peculiar. Aletha quase largou os cobertores de felicidade, mas não o fez. Foi até a entrada e girou a maçaneta da mesma. Abriu-se e revelou um interior feito de madeira e pedra. Uma lareira feita de tijolos estava acesa e um cheiro de baunilha impregnava o ar. Entrou de mansinho e olhou em volta. Ouviu um barulho de uma música. Fechou a porta calmamente até ver que a gata não entrava. Tentou puxar ele para dentro, mas o felino a arranhou e mordeu. Seus pelos se eriçaram e arqueou as costas. Foi colocado fora da casa novamente. Ele sentou e seus pelos arrepiados voltaram ao normal. Olhou naturalmente para a dona até que uma voz se sobrepôs ao barulho da nevasca.

— Quem é você?

Aletha se virou rapidamente e quase caiu para fora da cabana. Uma mulher altiva, de cabelos castanhos e olhos da mesma cor, estava em pé atrás dela. Em seus lábios se destacava uma substância vermelha muito semelhante ao batom, só que evidentemente mais brilhante. Usava um vestido cinza e justo, com um cinto negro de couro, afivelado. Em sua cabeça tinha um chapéu também cinza, daquele tipo pontudo que eram retratados como possuídos por bruxas.

— Eu... Eu sou Aletha Belia Aalis. E... Você? — Perguntou ela. A moça retirou seu chapéu e deixou os cabelos castanhos e lisos se soltarem. Piscou e dava para ver uma espécie de runa desenhada nas duas pálpebras. Runas brilhantes e rosadas.
— Sou Sarah Zirk, maga cinza.

Aletha piscou e começou a tremer. Maga? Nevascas? Não era o lugar onde morava. Ela pensou que estava a viver um sonho. Então sorriu e começou a rir.

— Não, não, não. Isso só pode ser uma pegadinha. Não existem magos, nem feitiços, nem...

A moça de chapéu pontudo estalou os dedos criando uma nuvem de faíscas inesperada. Surgiu uma mesa com um cálice de prata cheio de uma substância dourada. A gata miou para a maga e ela assentiu com a cabeça.

O que ocorreu foi estranho. Primeiro, se encolheu. Começou a brilhar, um brilho tão forte que Aletha teve que fechar seus olhos. Então, quando os abriu, não havia mais uma gata, e sim uma mulher num vestido cinza quase idêntico ao de Sarah. Sua pele era negra e tinha belos cabelos ondulados. Em sua cabeça havia uma pequena coroa feita de prata e esmeraldas. A gata... Ou ex-gata, adentrou a cabana. Estendeu a mão para Aletha levantar, e a mesma aceitou a ajuda lhe oferecida. Suas mãos eram macias e tinham unhas grandes e cheias de esmalte. Agora Aletha sabia para onde ia todo o esmalte que ela perdia.

— Quem... Quem é você?

— Você costumava me chamar de gata. Por falar nisso, que nome criativo. — Se empertigou, pigarreou e disse — Meu nome é Laanis, sua familiar. E onde você está... Bem, é sua terra natal. Bem vinda a Alloran.

A menina abriu a boca, surpresa e com medo. Seu coração batia rápido. Ela sabia que não era um sonho. Se não, seria um sonho lúcido. Mas ela não tinha controle. Começou a tremer e Laanis fechou a porta da cabana rapidamente, logo em seguida dobrando e guardando os cobertores. Sentou-se em cima de uma mesa e começou a encolher. Tomou a forma de um gato.

— Sente-se, Aletha. Temos muita coisa a conversar se você quiser entender o que diabo está acontecendo aqui e como sair daqui. — A maga puxou uma cadeira na qual Aletha sentou-se, apreensiva. Laanis pulou no colo dela e se espreguiçou, pedindo carinho. Mesmo sendo uma pessoa, a menina não conseguia deixar de gostar da gata, por mais estranho que fosse estar acariciando a barriga de uma humana sapiente.

— Então Aletha. Você conhece sua mãe?

A menina parou de acariciar a gata. Encarou a moça de cinza nos olhos e abriu a boca para responder.

Lendas de AlloranOnde histórias criam vida. Descubra agora