Capítulo 2

56 6 6
                                    

Não pode responder. Ao começar o pronunciamento, subitamente ouviu um barulho de gritos e neve sendo amassada, revolvida. A gata se sentou rapidamente e miou para a maga cinza. Ela assentiu e abriu uma mão. Dela, se formou um portal nebuloso. Laanis, ou Gata, pulou dentro do portal. Aletha deu de ombros e entrou também.

Dentro do portal era estranho. Como estar flutuando num cômodo etéreo e metafísico inexistente entre vários planos dimensionais regionais. A gata se transformou novamente e Laanis reapareceu, limpando pêlos de seu vestido. Fora do "cômodo etéreo metafísico", elas viram soldados invadindo a cabana. Sete homens e sete mulheres, em extravagantes armaduras brancas e douradas, segurando espadas brilhantes com ornamentos de prata. Uma das mulheres tirou o capacete e revelou seus cabelos cacheados, ruivos e belos, sua pele puxada para o negro e olhos cinzentos. Falou em voz jovial:
- Sarah. É muito bom encontrar com ti por aqui. - Colocou a espada na bainha - Um pássaro nos contou que você está abrigando uma Criatura mundana e uma deusa em sua casa. - De fora, vindo da nevasca, apareceu um corvo branco, com um bicho peculiar, também branco. Ele fez o barulho
habitual de um corvo.
- Mentiras - Sarah foi até sua lareira e mexeu uma mistura num caldeirão que Aletha não tinha notado antes.
- É a poção..?
- Sim. Mas não encontrei um jeito de fazer ela sem erros..
- A rainha escarlate já está impaciente com a espera. Por falar nisto, você tem um prazo de dois dias para terminar essa poção... Se não, bem, você sabe... Masmorras e... - A soldada limpou a garganta. - Prazo até amanhã. - Colocou o seu capacete e arrumou as belas penas vermelhas. Subiu em seu cavalo negro e esperou os outros soldados montarem. Balançou as rédeas e o cavalo saiu galopando, junto com os outros soldados atrás. Sarah suspirou e balançou a mão, suas pulseiras não antes vistas por Aletha reproduzindo um barulho semelhante ao chacoalho. O lugar onde a menina se encontrava se revolveu, expelindo ela para o mundo carnal, ao lado da maga. Ela olhou para baixo e resmungou algo parecido com "Patético". Começou a remexer a poção, apreensiva. Ela tinha uma aparência roxa esquisita, e era pegajosa. Aletha olhou para a poção.

- O que há de ser isso? - Questionou.

- É a poção Oniscentum. Concede onisciência temporária para qualquer um que tomar ela. A pessoa pensa em, por exemplo, saber o que irá fazer hoje e a poção revela. Porém, eu não encontro um jeito certo de a fazer funcionar. E... CUIDADO!

Os longos cabelos castanhos de Aletha saíram do coque no qual estavam amarrados e encostaram na poção. Começaram a se dissolver, deixando o cabelo dela curto até o final do pescoço. Irregular, mas belo. A poção borbulhou. As bolotas de ingredientes se dissolveram e a cor mudou de púrpura para dourado.
- Mas o quê... - A maga pegou levemente uma concha de prata e a afundou na poção. Subiu ela e provou uma gota. Por um segundo, veio na cabeça "deu certo". Ela não tinha conhecimento para saber o que lhe dizia isso. Até notar que a poção funcionou. O efeito se esgotou.
- Funcionou? - Uma voz veio detrás de Aletha. Ela se assustou e deu um pulo, vendo Laanis observando ela.
- Deu... tem algo na Aletha que... - Ela puxou a menina e começou a analisar o cabelo dela.
- Cabelo de fada. Mas não tem asas!
Laanis deu um miado de susto.
"Fada caída?" Questionou mentalmente Laanis.
"Provavelmente. Talvez fada Forad" Respondeu a maga.
Sarah tocou a testa da menina de cabelo agora curto. Ouviu alguns barulhos estranhos, como um grito mental — de alguém possuidor de uma voz grossa — ecoando. Continuou ouvindo até um zumbido invadir seus ouvidos. Barulhos de guerra e medo. Quanto mais Sarah ouvia, mais se encolhia. Era aterrorizante. Então sentiu em sua mão delicada um choque. Se afastou e levantou uma varinha que parecia um chifre de algum animal. Da ponta desse chifre saíram algumas faíscas de eletricidade
- Hum... O que foi? - Perguntou Aletha
- Sua memória... alguém apagou... E tem ecos de magia.
- Ecos de magia? - Perguntaram Aletha e Laanis ao mesmo tempo.
- Sim... - Ela guardou a varinha e distribuiu a poção do caldeirão em vários frascos repetidamente. Limpou o mesmo com água quente e corrente, logo depois o enchendo de água gelada e colocando o caldeirão por cima do fogo. Pegou alguns ingredientes e jogou na água, que ficou da cor branca. Pegou um frasco de pó e alguns objetos.
- O cabelo de uma anja caída... Pó de fada... O ouro de um duende... - Jogou outras coisas em rápida sucessão. Uma fumaça negra saiu do caldeirão. Algum líquido pegajoso, escuro e borbulhante era visto dentro do caldeirão. Ela pegou com a concha um pouco do fluido e inseriu em um frasco.
- Beba - Ela colocou a poção nas mãos de Aletha. Ela bebericou. Esperava um gosto horrendo, mas era até que com gosto bom, e transmitia uma sensação de conforto. Bebeu o resto é limpou a boca.
- E? - Perguntou ela. Nada acontecia. - Ainda acho que vocês estão loucos. Ou que é uma pegadinha.
- Laanis... isso devia funcionar... - Sarah pegou a varinha e lançou um feitiço contra ela. Um fio cinzento começou a envolver ela, mas uma aura avermelhada surgiu quebrando as amarras.
- Como imaginei - As mãos de Sarah estavam tremendo. - Alguém usou Praencantium Carminus contra ela. Magia vermelha protetiva de alto nível. E a única coisa que pode quebrar magia vermelha nesse nível é ou magia vermelha no mesmo nível, ou... magia negra.

Aletha olhou para sua gata e depois para a maga. Queria que fosse brincadeira, mas seus olhares estavam sérios. Ela começou a soluçar. Sua vida normal seria um presente agora.
- Laanis, prepare o ritual Sakrabeth - Disse determinada Sarah.
- Mas isso pode destruir a alma dela! Tornar ela apenas uma casca vazia!

Sarah lançou um olhar ameaçador de resposta
- Que bom que serei eu a administrar esse ritual. - Disse ríspida e friamente. Laanis se metamorfoseou en um gato e começou a correr até uma das portas fechadas. Se levantou como humana e abriu ela. Dentro, havia um círculo de giz desenhado. Ela colocou no exato centro do desenho a imagem de um olho perfeitamente desenhado. Nos pontos cardeais principais desenhou uma águia, um unicórnio, a cabeça de um dragão e uma coroa. Nos outros pontos cardeais colocou os símbolos dos principais elementos mágicos: Étereo, Subtéreo, Essência e Carmíneo. Em cada símbolo mágico colocou uma pedra azul com os elementos que representavam.
- Venha Aletha - Sarah disse, a levando para a sala. Bateu a varinha na própria roupa e ela mudou de cor, se tornando azul com listras douradas nas bainhas.

Ela respirou fundo e entrou na sala. Seja lá o que ia acontecer, não tinha boa impressão.

Lendas de AlloranOnde histórias criam vida. Descubra agora