Capítulo 3

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- Fantus avec morus avec obscurita abisso avec fatur.

Sarah dizia calmamente tais palavras. Estava usando uma roupa que poderia ser a bata do Papa, embora com o espaço para os pulsos bem mais largo. Seus braços estavam abertos e seus olhos vermelhos. Laanis observava de longe, rezando pela amiga e comendo um pedaço de peixe. A roupa azul escura de belas listras douradas qual Sarah estava usando poderia fazer parte da parede naquela escuridão. Aletha estava parada no centro do círculo, apreensiva. Então, a maga chocou as duas palmas. Um vento vindo de todo lugar e de lugar nenhum invadiu a sala, um vento tão forte que quase que derrubava a porta. O cômodo se revolveu e o olho do centro do círculo se iluminou. A aura vermelha se acendeu em volta da Aletha. O olho ficou mais brilhante, reluzindo como um holofote de Las Vegas. No teto era possível ver a imagem de um olho gravada a queimaduras. A aura vermelha continuava a resistir. A luz tornou se
negra. Uma nuvem de escuridão se direcionou ao escudo, criando rachaduras e fazendo o mesmo tremer. Mas ele se regenerava numa velocidade impossível. O olho piscou aos pés de Aletha e evaporou junto com a névoa negra.
- Mas isso... - Sarah murmurou - É impossível.

As pedras explodiram uma a uma. O olho queimado no teto começou a derreter em alguma substância negra e pegajosa.

- É impossível.

Castelo escarlate

- ONDE ESTÁ A MALDITA POÇÃO! - A rainha escarlate gritou. Jogou um acessório de cristal no chão. Ele quebrou em vários pedacinhos. Foi ouvido um rugido de leopardo.

- Cyan, calma! É só um pouco de barulho! - Gritou ela.

Começou a andar em cima do pequeno grupo de cavaleiros que tinha chegado.
— Onde está minha poção?
Um dos cavaleiros começou a tremer. Ele disse:
— Sarah está fazendo... — A rainha o fuzilou com o olhar — Minha Soberana.
Ela sorriu e levantou arrogantemente a cabeça. Se sentou no trono. Seus curtos cabelos estavam pouco escondidos pela grande coroa dourada. Sua pele branca estava coberta de desenhos rúnicos. Seu sorriso não mostrava os dentes, mas sim uma certa malícia. Apontou o dedo com uma longa unha para o guarda que tinha esquecido de dizer a saudação.

  —  Fol— Ela simplesmente disse. Um monte de insetos, aracnídeos e anelídeos brotou de dentro da armadura do guarda. Baratas, escorpiões, aranhas e minhocas. Seus olhos saíram das órbitas e de dentro da cabeça rastejaram besouros. A rainha sorriu, foi até os cavaleiros e chutou a carcaça do morto para o lado. Os animais se dispersaram e ela perguntou
— Se não quiserem ver mais de vocês mortos, é simples: Lembrem se de quem é a rainha.

Ela estalou os dedos e os soldados se curvaram, logo em seguida correndo para fora. A soberana estalou os dedos novamente e a sala iluminada se escureceu.

A cabana de Sarah

Sarah jogou tudo que estava em sua mesa no chão. Pergaminhos, livros, poções, ingredientes. Colocou um grande livro feito de couro negro por cima da mesa. As páginas eram amareladas e estavam escritas em tinta vermelha, parecida com sangue. Ela começou a ler rapidamente. Suspirou e deixou o livro aberto e largado na mesa, abrindo outro, com a capa parecida de pêlo, cor de creme, e letra barroca em tinta negra. As páginas eram leves e brancas. Nada. Aletha observava ela com um ar de incompreensão.
A maga olha para ela, tira um pedaço de madeira mínimo do bolso e coloca ele em mãos. Começa a se alongar e se torna um cajado feito de madeira branca e uma pedra azul flutuando em sua ponta. Direcionou a gema em direção da Aletha e uma luz roxa e negra começou a se formar.
— ET BACULUM DI MALEFICIA. — Ela gritou. A luz explodiu.

Mas o escudo continuou ileso e intacto.

— ISSO NÃO É POSSÍVEL! — Ela berrou. A casa tremeu e acessórios de cristal explodiram. Bateu o cajado no chão e milhares de feitiços foram lançados em direção do escudo.
Mas ele continuou ileso.

Sarah se descontrolou. O cajado dela explodiu em pura magia éterea e subtéreo. Negro, branco, roxo e verde se misturaram. Pura magia se juntou contra o escudo. Uma explosão digna de bombas nucleares concentrou-se no escudo.

Mas o escudo continuou intacto.

Sarah caiu no chão e começou a chorar. Chorou. E o escudo continuava intacto, ileso, impenetrável, indestrutível.
— Impossível. Impossível. Impossível. — Ela choramingava. Olhou odiosa para Aletha — Isso é impossível.

Aletha se ajoelhou e abraçou ela. Ela continuou a chorar.

Castelo Lunar

Lunar estava com seu olhar triste e habitual de sempre. Seus olhos negros, perdidos no nada, no vazio da alma. Usava seu vestido branco encardido que não trocava a anos. Seus cabelos estavam amarrados. Sentada no trono, esperando ou o fim ou um recomeço. Suas mãos passavam levemente sobre a parte de madeira do trono. Uma dama adentrou o salão. Viu Lunar com o mesmo olhar de sempre. Estava com aquele olhar desde que perdera a coroa e seus cidadãos.

  — Senhorita Lunar? — Era a primeira voz que ela tinha ouvido em todos esses anos. Despertou do transe e olhou para a dama, com um olhar esperançoso. — Escarlate conquistou mais terras — Ela continuou olhando, esperando uma boa notícia. — Ela contratou, ou melhor, acuou a maga Sarah para lhe fazer a poção Onisciem... —  Lunar suspirou e voltou a olhar para o nada. — E Aletha Aalis voltou.

Ela voltou o olhar novamente à dama. Abriu um grande sorriso, e lágrimas escorreram. Seus cabelos presos se soltaram. Ela se levantou do trono. Notou só agora a fome crescendo em seu estômago, mas ignorou: Comida tinha muita. Salvadoras não.

— Chame Melia! Eu vou pegar... a . — Ela disse gritando. Sua voz saiu rascante e rouca, como se fossem anos sem falar ou abrir a boca. E foram. Ela correu até uma da salas e abriu a porta. Dentro, tinha uma espada de prata, com o cabo feito de cristal. Na lâmina tinha a inscrição "Sitalam".

  — A espada do Inverno. —  Ela colocou a espada em mãos de uma armadura vazia, feita de prata e cristal. Ao lado desta, tinha uma armadura feita de ouro e berem, um metal branco. Porém, a armadura estava sem a espada. — Está quase completo.

Ela olhou para a parede,  na qual se estendia um pergaminho. Passou a mão por ele e analisou as imagens estampadas. O destino corria. Lunar obteria sua coroa de volta. E escarlate seria morta. 

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