Capítulo 2

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Upside Down

— Quarenta e um, quarenta e dois, quarenta e três... Vamos lá Natasha - berrava Alex, enquanto eu executava alguns movimentos com as pernas, segurando na barra.

Ele havia me dado cinco minutos de descanso após uma hora de treino sem parar. Estava sentada em frente à grande janela de vidro do salão observando a neve cair ao lado de fora. Não parava de pensar em como seria minha vida se meus pais ainda estivessem vivos. São poucas as lembranças que tenho sobre eles, mas ainda assim consigo me lembrar da minha mãe cantando para mim enquanto me colocava para dormir, eu deveria ter uns três ou quatro anos na época. Fui tirada dos meus pensamentos pela voz grave de Alex.

— Chega de sonhar acordada, Natasha. Hora de voltar ao trabalho.

⍟⍟⍟

— Muito corajosa... Você vai ser uma boa menina pra nós, não vai? - questionou-me um dos cientistas da KGB. - Agora vai tomar seus remédios.

— Respondendo bem a dosagem? - perguntou Alex.

— Claro, ela é forte - afirma o outro homem.

— Esta sobe efeito agora?

— Com certeza.

— Muito bem. Preste atenção, Natasha... Eu vou contar, e quero que você conte comigo – falou Alex, enquanto ligava a TV a minha frente com a imagem de uma bailarina executando uma sequência de passos.

— Quarenta e um, quarenta e dois, quarenta e três... – eu contava os passos da bailarina junto com Alex.

— Oh, não... Por favor, não...— gritava enquanto me contorcia na cama.

"Sua conta está jorrando vermelho, e você não vai quitar isso."

"Por favor, não me mate – um homem me implorava enquanto apontava uma arma para sua cabeça, disparando-a em seguida."

Após alguns minutos sendo torturada por essas lembranças do meu passado que sempre me assombram em pesadelos, desperto em um impulso. Minha respiração estava descompassada e meu corpo coberto de suor. Sento direito na cama e abraço minhas pernas na tentativa de me acalmar.

Essa era a terceira noite ruim em seguida. Pensei que tinha superado a culpa muito tempo atrás, quando comecei a ajudar a salvar as pessoas. Mas vejo que meu passado sombrio sempre ira me atormentar. É algo que não tenho como evitar.

Lembrar-me daquela sala de tortura mental e das aulas de balé com Alex Bolshoi faz com que minha cabeça lateje cada vez mais. Tento afastar aqueles malditos pensamentos fechando os olhos com força e apertando as mãos contra a cabeça.

Fico cerca de trinta minutos naquela posição até que resolvo levantar e tomar uma ducha fria. Sigo até o banheiro e me livro do pijama molhado de suor, entro embaixo do chuveiro e deixo a água gelada escorrer pelos meus cabelos e corpo. Fico ali por quinze minutos. Ao sair do chuveiro, me enrolo em uma toalha branca e pego outra para tirar o excesso de água dos cabelos. Saio do banheiro e ando até minha mochila que estava em uma poltrona ao lado da cama e de lá tiro dois frascos de remédios, um calmante super forte e outro para dor de cabeça. Mesmo sob efeito desses remédios eu sei que não conseguirei dormir novamente, e nem quero mais. Se não estivesse sendo procurada pelo governo e com amigos presos precisando ser resgatados, iria fazer o que mais gosto para limpar a mente desses tormentos, escalar rochedos.

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