Estilhaços de Esperança

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No primeiro momento não acreditei no que estava vendo, e no segundo fui tomada por uma enorme curiosidade. Atrás da cerca baixa de madeira estavam duas pessoas conversando tranquilamente, o que era estranho, porque se o lado de fora era realmente tão perigoso, como elas poderiam estar lá tão despreocupadas? Elas não deveriam estar dentro de casa? Ou pelo menos estressadas? Isso me intrigou tanto que não consegui conter minha curiosidade e acabei chamando por elas.

  — Hey! Ei, vocês! O que estão fazendo aí fora? — Grito tentando chamar a atenção delas, porém sem sucesso. — Hey! Heey! — Começo a gritar mais alto e a bater na janela para tentar fazer com que me notassem, mas parecia em vão. Se caso elas estavam conseguindo me ouvir, estavam me ignorando. Continuei a gritar, desta vez um pouco mais alto, porém, quando conseguiram me ouvir e estavam procurando de onde vinha o barulho,  sinto alguém me puxando com força pelo ombro. 

Caio de costas no chão e percebo que quem havia me derrubado era meu pai, que tinha entrado sem que eu percebesse. Ele desmontou o  empilhado de caixas e, assim que terminou, se virou para mim com a mais pura raiva.

  — O que pensa que está fazendo?! — Meu pai fala com um tom duro e furioso que me deixou com medo, ele nunca tinha ficado tão bravo assim.
— Eu... eu... — Gaguejo sem saber o que falar, por causa do medo.
— Você jamais deve fazer isso! Você é proibida de ficar olhando pela janela! — Ele fala mais alto e eu me encolho um pouco.
  — Você disse que é perigoso sair.... Ma-mas eu vi aquelas pessoas lá fora e.. — Digo baixinho e com um pouco de medo, mas ele me interrompe antes que conseguisse terminar.
— Eu disse que é perigoso se você sair! Não tem problema as outras pessoas saírem, só você precisa ficar aqui!
— M-mas porquê?
— Porque você não pode sair desse maldito lugar! — Ele praticamente grita e eu me encolho mais, recuando um pouco por medo dele me bater.
— Mas por que eu não posso sair? Pai, por que você...
—Não me chama assim! — Ele grita e anda até mim, pegando meu braço de forma bruta e me arrastando. — Já chega disso!
— Não! Para com isso! — Digo tentando me soltar, enquanto ele continua me arrastando até o canto do quarto.
— Você vai ficar aí quieta! — Meu pai me solta e vai até as caixas, as pegando e tirando do porão. Fiquei parada no mesmo lugar em que tinha me deixado, com medo dele ficar mais irritado caso saísse. Quando ele desceu para pegar a última caixa ele me olhou com raiva e repulsa, logo antes de sair e trancar a porta, me deixando ali sozinha.

Ainda no mesmo canto do porão, abraço meus joelhos e começo a chorar, de forma silenciosa para não ser ouvida. Por que ele me odeia tanto? O que eu fiz para ele me trancar aqui nesse lugar? Eu não fui boazinha? Tem alguma coisa errada comigo? Ele me deixa aqui desde que eu era muito pequena, não me deixando fazer ou ver quase nada. O que aconteceu para ele não gostar de mim desse jeito? Ele é meu pai, não deveria gostar de mim? Não deveria ao menos cuidar de mim? 

Fiquei pensando nisso enquanto chorava até soluçar encolhida em meu canto, até que já tivesse feito tanto que as lágrimas custassem para sair. Chorar já estava cansativo, então apenas fiquei apenas olhando para o céu já escuro que aparecia pela janela.

Agora, eu pensava outra coisa ao olhar para ela. Como se as palavras duras e lágrimas tivessem lavado minha mente, agora as estrelas, assim como o lado de fora, pareciam mais próximas. Podia ser apenas impressão minha, mas sair dali não parecia ser mais algo impossível. Comecei a pensar em planos para uma possível fuga, algo que não fazia antes, pois, como uma boa garota que acredita em seu pai, pensava que era muito perigoso sair. Mas não era realmente, era?

Com esses pensamentos consegui pensar na minha fuga. Peguei uma gaveta do pequeno armário que tem e usei para quebrar a maçaneta da porta e depois prende-la. Depois arrastei a cama até a janela e a virei, para que ficasse em uma altura boa. Em seguida, peguei a maçaneta quebrada da porta e subi na cama, ficando em pé nela. Então enrolei a minha mão na manga do moletom e comecei a bater com a maçaneta no vidro da janela, pois quando ainda era muito pequena meu pai as pregou para que não abrissem. Dei uma pancada forte no vidro fazendo com que o mesmo rachasse, porém as pancadas faziam barulho e logo ouvi meu pai tentando abrir a porta. Escuto ele mexendo na maçaneta, seguido do som dela caindo no chão e gritos furiosos me mandando abrir a porta. Já nervosa, segurei firme a parte da porta que tinha em minhas mãos e uso toda minha força para bater no vidro, que por usa vez, se quebra em vários estilhaços. Eu não preciso viver trancada e com medo.

Feita de Porcelana e Flores BrancasOnde histórias criam vida. Descubra agora