Capítulo 1: Eu vi tudo.

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  Era uma bela manhã em Black Wood Pines, o sol brilhava timidamente por trás de toda neblina que cobria a cidade, as pessoas já se encontravam de pé, andando sem rumo pelas ruas. Violett ainda dormia, havia preferido ficar em casa a ir à escola mais uma vez. Um zumbido, vindo de debaixo do travesseiro da garota, a fez despertar-se parcialmente. Sentindo o início de uma insistente dor de cabeça, Violett levantou o travesseiro e pegou seu celular, vendo em seu visor uma mensagem não muito bem-humorada de Victoria. A garota estava furiosa com a amiga por ter faltado outra vez, alegando que se Violett faltasse outro dia, ela perderia de ano. Violett revirou os olhos ao ler a mensagem, pouco se importando em perder de ano, afinal ela já estava no último ano e faltavam apenas algumas semanas para as férias de verão. Optou por não responder à amiga, pois se fizesse isso, provavelmente sua resposta seria algo relacionado à falta de sexo.
Passado alguns minutos, Violett levantou-se da cama, olhando para a janela de seu quarto, os olhos fixados no pequeno prédio da frente. Na janela em frente podia ser visto um corpo másculo de costas, os cabelos negros bem penteados, as covinhas no cóccix, os ombros largos... Violett deixou-se admirar aquele homem até então desconhecido e acabou sentando-se em sua cama, para observá-lo mais confortavelmente. Enquanto o estranho passava as mãos por seus cabelos, os olhos de Violett localizaram a grande aliança dourada em sua mão esquerda. Desiludida, a garota levantou e caminhou até o banheiro de seu quarto para um banho gelado para acordá-la dos insistentes devaneios sobre o tal cara do prédio a frente.
Ao sair de seu banho, tratou de vestir-se com a primeira peça de roupa encontrada em sua cômoda e desceu. Seus pais estavam na cozinha, conversando sobre contas, dinheiro e coisas chatas como sempre. Taylor, mãe de Violett, olhou de relance para a filha, fazendo um sinal para a mesma parar de andar.
— Pode parar aí, mocinha. — A mulher disse, segurando no pulso da filha, que revirou os olhos dramaticamente para a mãe. — Aonde a senhorita vai? Ah, e a pergunta que vale ouro, por que a rainha do universo não foi à aula hoje? Quero dizer, não só hoje, como ontem. E anteontem. E nessa semana inteira.
— Não estava me sentindo bem, ok? — Violett respondeu sem ao menos tentar ser convincente. Seus pais estavam mais que acostumados com as desculpas esfarrapadas da filha, e a garota nem se importava em pensar em algo inteligente, pois sabia que os pais não a castigariam. — Tô indo na casa da Victoria, volto mais tarde. — Respirou fundo. — Na verdade, vou dormir lá essa noite.
Violett subiu correndo as escadas que a levariam para seu quarto, pegou seu pijama, uma calcinha e seu travesseiro. Desceu as escadas com o mesmo entusiasmo e, ao sair, bateu a porta. A garota pôde ouvir o pai xingando alto quando já estava no portão e não pôde deixar de dar uma risadinha irônica, mesmo sabendo que seu pai não poderia ouvi-la.
Victoria atendeu a porta na primeira batida, o que Violett a agradeceu mentalmente, afinal conforme a tarde ia chegando, o frio chegava junto. Enquanto Violett trancava a porta da frente, Victoria já pegava a pipoca e o refrigerante, preparando-se para uma sessão de filmes de terror, os quais Violett adorava tanto quanto a amiga. O cheiro de manteiga logo impreguinou a sala, as garotas agora se acomodavam confortavelmente no sofá enorme que havia bem no meio da sala, enquanto Victoria dava play no primeiro filme. Uma música tensa começou a tocar enquanto o nome dos atores principais e os personagens que eles representavam apareciam na tela da televisão, Violett suspirou alto, andava pensando nas costas irresistíveis de seu vizinho desconhecido desde que o vira mudando de roupa mais cedo. Victoria olhou-a, com uma mistura de confusão e desconfiança, estreitando seus olhos.
— Quem é o cara? — A Morena soltou, com um sorriso maroto nos lábios.
— Meu vizinho. — Violett disse após um tempo, lançando a amiga um olhar sonhador. — O que é incrível mesmo é que eu nunca tinha visto ele. Bom, até agora eu só vi as costas dele, que eram maravilhosas, diga-se de passagem.
— Bate na porta do apartamento dele e pede um copo de açúcar, amiga. — Violett revirou os olhos enquanto Victoria ria escandalosamente como se não houvesse amanhã. — Eu tô falando sério! O que você tem a perder?
— Minha dignidade? Meu orgulho? E, possivelmente, meus dentes, considerando a hipótese da mulher dele atender a porta. — A Ruiva arqueou a sobrancelha pra amiga, que suspirou alto, deitando-se no sofá. — Shhh, começou o filme!
Violett não tirava aquele completo estranho de sua cabeça, cada vez mais ansiosa para vê-lo novamente, cada vez mais obcecada por ele. O segundo filme já estava nos créditos finais quando o celular de Violett tocou,tirando-a de todos os devaneios. Na segunda chamada, a garota atendeu.
— Alô? — Um suspiro alto foi ouvido do outro lado da linha e depois um silêncio fez-se presente na linha. — Oi? Quem tá aí do outro lado?
— Ahn... Esse é o número da Violett? — Uma voz máscula, porém aveludada, e meio rouca fez o corpo de Violett estremecer.
— Sim? — Após uma pausa de alguns segundos, Violett respondeu, sua afirmação saindo como uma pergunta. — Quem tá falando?
— Ninguém. — Um longo suspiro. — Desculpa o incômodo.
— Mas que porra? — Violett perguntou para o telefone que já estava mudo, a chamada havia sido encerrada.Victoria olhou a amiga, a confusão em seu olhar. Sem nem precisar pedir por mais detalhes, Violett desatou a falar: — QUEM ESSA PESSOA PENSA QUE É? Eu, hein! Me liga, pergunta se é meu número, não diz quem é... Mas que caralho! E essa voz? Que voz, Jesus! Que voz! Deus... Victoria riu da garota enquanto levantava-se para deixar os copos e a tigela de pipoca na cozinha, deixando Violett completamente imersa em pensamentos. Um em especial não saía da cabeça da garota. De quem era aquela voz? Por Deus, seria de quem ela estava esperando que fosse? A garota deitou a cabeça no braço do sofá e fechou os olhos, sentindo que logo uma dor de cabeça se apossaria dela se continuasse pensando muito nisso. Violett sentiu suas pernas serem levantadas e abriu apenas um olho, captando o momento exato em que Victoria estava se sentando, seus olhos Azuis focados na careta que Violett fazia. A Morena ficou em silencio por poucos minutos, olhou ao redor da sala e voltou seu olhar para a amiga.
— Eu definitivamente já vi de tudo. — Victoria disse, balançando a cabeça, um sorriso começando a se formar em seus lábios.
— Hum? — Violett perguntou, suas sobrancelhas se juntando na dúvida. — Que aleatória você. — A Ruiva riu. — Do que você tá falando, Vicky?
— Eu nunca pensei que veria você, Violett O'conor, apaixonada. — Violett arregalou os olhos Azuis para a amiga. — Ainda mais por um cara que você nem conhece.
— Que drogas você tá tomando? — Victoria abriu a boca para falar alguma coisa, mas desistiu ao ouvir a famosa música do Red Hot Chilli Peppers, Dani California, anunciando que o celular de Violett estava tocando mais uma vez. — Que cacete... — A garota pegou o telefone e olhou o visor. Mamãe. Atendeu o aparelho e colocou no viva-voz. — Fala oi pra Vicky, mãe.
— Oi, Victoria!
— Oi, tia. — Victoria respondeu.
— Violett, pra casa agora! Os nossos novos vizinhos vão vir jantar aqui e a família tem que estar toda reunida. — O queixo de Violett caiu, Victoria a olhava com os olhos arregalados e tapando a boca. A garota assentiu com a cabeça, percebendo que sua mãe não poderia vê-la. — Ah, a Vicky pode vir se ela quiser. — Chamada encerrada.  


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