Capítulo 7: Temos que conter o mantimento sobre.

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   Viollet's POV  

  Eu lia e relia aquele bilhete e minha mente não conseguia processar o que estava escrito. Peguei meu telefone e liguei para a polícia, coisa que eu deveria ter feito assim que vi o corpo mortificado de meu pai. Enquanto eu esperava o socorro, deixei minhas pernas cederem e caí ao pé da cama. As palavras escritas naquela folha ainda martelavam em minha cabeça. Que diabos Dake teria a ver com tudo isso? Por que alguém faria uma coisa dessas? Só uma pessoa poderia esclarecer as minhas dúvidas. E essa pessoa morava na casa em frente a minha.
— Você faz ideia de quem poderia ter sido? — Um policial alto, forte e bem jovem me perguntou. Apenas neguei com a cabeça.
— Seu pai tinha algum... Inimigo ou coisa do tipo? — Uma policial baixinha e magrinha perguntou.
— Oficial... — Forcei a vista para enxergar a plaquinha de identificação na farda da mulher, sem sucesso.
— Hayley. — Ela completou.
— Oh, certo... Meu pai era apenas um vendedor de carros, não vejo como ele poderia ter um inimigo. — Suspirei um pouco mais alto que o planejado. — Nós podemos falar sobre isso em outro lugar? Quero dizer... — Olhei para mamãe do outro lado do quarto. Os policiais assentiram.
Minha mãe, que se encontrava encolhida num canto do quarto, chorava copiosamente, o que me partia o coração. Ela havia chegado há alguns minutos, um pouco depois da polícia. Mamãe sempre fora a forte da casa, raramente demonstrava emoções, pra falar a verdade, aquela fora a primeira vez que a vi chorar. Vendo aquela cena, um nó se formou em minha garganta, mas eu havia prometido a mim mesma que ficaria forte. Não seria fácil, mas eu precisava permanecer firme.
Após toda aquela movimentação de policiais em minha casa, eu não queria mais ficar ali. Mamãe já havia ido para um hotel no centro da cidade e, por mais que eu a amasse e não quisesse deixa-la sozinha, eu não conseguiria passar um minuto com ela naquele estado. Eu estava fazendo o meu melhor para, pelo menos, aparentar estar forte, e seria difícil continuar com essa máscara ao ver minha mãe, a mulher que eu mais amo na vida, sofrendo. Então fui para o único lugar que me pareceu certo: a casa de Victoria.
Bati apenas uma vez na porta e Vicky logo a abriu, ainda de pijamas, mas com os olhos vermelhos. A menina puxou-me para um abraço apertado e, eu juro, que até me senti melhor.
— Creio que você já soube...
— Sim. — Ela suspirou, se afastando do abraço e me puxando para dentro da casa. — Eu sinto muito, Viollet.
— Obrigada.
Eu não sabia mais o que dizer, nunca havia perdido um membro da família antes, não sabia como lidar com a pena das pessoas ou com meu próprio luto. Joguei-me no sofá, colocando os pés para cima, e Victoria sentou-se ao meu lado.
— Podemos, hm, não falar disso? Já tive tristeza demais por hoje. — Suspirei, passando as mãos nos cabelos.
— Tudo bem. — Ela respondeu, levantando-se. — Vou pedir uma pizza. Qual sabor?
— A de sempre.
— Ok, já volto.
Enquanto eu zapeava pelos canais da televisão, meu celular danou a vibrar no bolso do casaco de moletom desbotado que eu usava. O nome de Dake brilhava no visor do aparelho. Engoli em seco antes de atender.
— O que você quer? — Perguntei sem um pingo de educação.
— Viollet, nós precisamos conversar. Pessoalmente.
Desencostei do sofá, curvando-me para frente, na defensiva.
— Conversar sobre o quê? — Respirei fundo. — Sobre como você fez com que meu pai fosse assassinado?
— Exatamente. Onde eu posso te encontrar?
Abri a boca em choque, incapaz de dizer uma palavra.
— Eu não... Eu não acredito!
— Viollet, eu sei que você tem muitas perguntas e eu pretendo responde-las. Então me dê uma chance pra eu poder fazer isso.
— Tudo bem, eu passo aí na sua casa e...
— Não estou em casa, depois de tudo o que aconteceu, eu não posso continuar naquela casa. Eles vão me achar lá. — Sua voz ficou mais rouca do que o normal. — Agora eu sou praticamente um maldito fugitivo.
— Dake, — Fechei os olhos e suspirei fundo. — quem são "eles"?
— Onde você está?
— Na casa da Victoria. Você não vai...? — Ele me interrompeu.
— Eu passo aí em quinze minutos.  

End of Viollet's POV  

  Victoria sentou-se ao lado da amiga, que tinha a cabeça enterrada em suas mãos. Victoria franziu o cenho paraViollet.
— O que houve?
— Dake me ligou... — Suspirou. — Ele quer me ver, quer conversar.
— Vai ver ele só quer te dar as condolências. — Viollet bufou, revirando os olhos, e logo se deu conta de queVictoria não sabia do bilhete. A menina abriu seu sorriso mais convincente, fazendo a amiga arquear uma sobrancelha.
— Você tem razão, Vicky.
E levantou-se. Colocou o celular no bolso e caminhou até a porta, abrindo-a.
Dake já estava esperando Viollet na esquina da casa de Victoria. O rapaz usava uma jaqueta de couro preta e óculos escuros, mesmo sendo quase dez da noite. Viollet, mesmo sentindo a raiva borbulhar dentro de si, não conseguia parar de admirar a beleza do rapaz. Seus cabelos estavam bem penteados, diferentes de como estavam naquela manhã. A menina suspirou. Parecia que eles não se viam há dias e não, horas.
Viollet suprimiu a vontade esmagadora de abraçá-lo enquanto chegava mais perto e sentia o perfume dele invadindo suas narinas.
— Vamos pra um lugar mais seguro, não quero correr o risco de nos acharem aqui, no meio da rua. — Dake pegou a mão de Viollet, pondo-se a andar. Viollet resistiu, não queria sair dali, onde Victoria podia vigiá-la apenas olhando por sua janela. — Viollet... Se não sairmos daqui, o próximo lugar onde vão procurar vai ser a casa de Victoria. Você quer isso?
Viollet negou com a cabeça, ainda emburrada, mas não deu nenhum passo a frente.
— Para de fazer bico, você já está grandinha pra isso. — Ela mostrou o dedo do meio para Dake, que revirou os olhos, perdendo a paciência. — Viollet, se eu precisar te carregar, saiba que eu irei.
— Se você encostar um dedo em mim, saiba que eu gritarei.
— Meu Deus! Cadê a Viollet da noite passada? A Viollet divertida, madura, que não tinha essa cara de cu. — Dake falou, bufando. Começou a andar, dando passos largos, deixando Viollet para trás.
— O que aconteceu? — Ela gritou, ainda parada no mesmo lugar, enquanto uma lágrima solitária descia por sua bochecha. Dake virou-se para Viollet, vendo seu rosto permanecer calmo, mas seus olhos... Tão cheios de dor. — Eu acabei de perder meu pai, Dake, por favor...
Dake caminhou até Viollet e a abraçou forte. As paredes que ela havia construído para proteger seus sentimentos caíram no exato momento em que o rapaz havia a segurado em seus braços fortes e aconchegantes.
— A gente precisa seguir em frente, Viollet... — Dake sussurrou e Viollet levantou os olhos marejados para ele. — Vai dar tudo certo, não vou deixar mais ninguém se machucar. Eu vou te proteger, Viollet, custe o que custar.  


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