Capítulo 2: O que você sabe?

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  As luzes da varanda da casa de Violett estavam acesas, mas parecia que os vizinhos ainda não haviam chegado.Victoria apertou o braço da amiga, incentivando-a a entrar na casa, que respirou fundo e virou a maçaneta da porta, abrindo-a. O cheiro maravilhoso que vinha da cozinha foi o empurrãozinho que Violett precisava para conseguir cruzar a entrada. A Ruiva gritou a mãe enquanto subia as escadas, avisando que havia chegado e que estava indo tomar um banho. Entrou em seu quarto e jogou-se na cama, Victoria sentou-se ao seu lado.
— Amiga, vai tomar um banho, eu escolho uma roupa pra você. — Disse, enquanto alisava seu vestido preto com bolinhas brancas, cruzando as pernas. Violett assentiu enquanto caminhava para o banheiro em passos lentos e curtos. — Anda!
A Ruiva trancou a porta do banheiro e jogou suas roupas usadas debaixo da pia, ligou a ducha e se esgueirou para debaixo da mesma. A agua era morna, seria um momento perfeito para várias reflexões sobre a vida, porém ela não tinha muito tempo. Ao desligar a ducha, enrolou-se em sua toalha florida e andou para fora do banheiro, quase escorregando no piso molhado.
— Opa! — Violett se segurou na cômoda para não cair e se quebrar toda.
Vicky, que estava de costas para a amiga, soltou uma risadinha e virou-se, segurando um vestido degrade de azul-claro e lilás. Violett vestiu-se com suas peças íntimas e sentou-se na cama para Victoria a maquiar.
— Me deixa parecida com uma palhaça e eu te bato. — Vicky revirou os olhos e Violett riu.
Quando a campainha tocou e o vestíbulo da casa encheu-se com as vozes dos convidados, Violett agarrou no braço de Victoria, respirando fundo e as garotas desceram as escadas. Um perfume masculino dançava pelo ambiente e Violett se sentiu inebriada pelo aroma amadeirado, cutucando Victoria e sussurrando em seu ouvido:
— Amiga, ajuda. Eu. Preciso. De. Ajuda.
Victoria deu uma risadinha e apertou a mão da amiga, num gesto para mostrar que estava ali e não ia deixa-la cometer nenhuma besteira. A sala de jantar estava iluminada e limpa, o que era praticamente um milagre, já que ninguém jantava ali. A família de Violett preferia jantar em frente à televisão na sala ou cada um em um canto da casa. O cheiro de frango assado fez o estômago vegetariano de Violett se revirar, mas ela não iria voltar para o quarto, sua mãe já havia visto ela e Victoria descendo as escadas. Droga!
As meninas entraram na sala de jantar e Violett logo reparou na mulher incrível parada ao lado de sua mãe. A mulher usava um vestido esmeralda que realçavam seus olhos verdes, seus cabelos eram cor de mel e estavam presos num coque elaborado. Ela não parecia ser muito mais velha que Violett e Victoria, aparentava ter uns vinte e poucos anos, no máximo vinte e cinco. Violett deu um muxoxo e virou-se para Victoria, que encarava o homem sentado ao bar junto com o pai da amiga. A Ruiva virou-se lentamente para seguir o olhar da amiga e, quando seus olhos encontraram o alvo, ele estava olhando diretamente para ela.
Um arrepio percorreu o corpo da garota, mas ela não ousou quebrar aquela ''conexão'' e, aparentemente, nem o homem maravilhoso do outro lado da sala. A Ruiva começava a sentir falta de ar, o cheiro do frango ainda embrulhando seu estômago, ela sentia que desmaiaria a qualquer minuto e não estava muito ansiosa por isso.
— Eu preciso sair daqui.— Violett falou, um sussurro quase inaudível e Victoria assentiu vagarosamente, ajudando a amiga a sair da sala, levando-a para a varanda.
— Vou buscar um copo d'água pra você, calma aí e não desmaia.
— Hum... Tá, vou tentar. — Disse a garota, sentando-se na cadeira de balanço. Várias coisas se passavam pelo cérebro de Violett: uma música antiga, a última peça de teatro da escola, aquele sapato vermelho que ela adorava... Os olhos daquele cara que estava, agora, saindo pela porta de sua casa, indo em direção à garota. Violett arregalou os olhos, assustada. Os olhos do homem eram indecifráveis, porém algo neles mostrava preocupação. Ele sorria e tinha uma taça de vinho em mãos, Violett imaginou que seu pai teria oferecido para a ele. Ela revirou os olhos imperceptivelmente.
— Você tá bem? — O homem perguntou. Sua voz era tão linda quanto ele. Violett assentiu com a cabeça, com medo de falar e sua voz sair toda desafinada e horrível. — Parecia que você ia desmaiar lá dentro. O que aconteceu? —"Que homem curioso, meu Deus!", Violett pensou.
— Ah... Eu não sei. — Ele lançou um olhar para a garota enquanto bebia um gole do vinho, o maxilar travado. A linha do maxilar dele... Meu. Deus. Violett suspirou. — Acho que era por causa do frango. Eu sou vegetariana, fico enjoada só com o cheiro de carne.
— Entendo... Na verdade, não entendo, mas entendi o que você quis dizer. — Ele riu. — . Quero dizer, meu nome é.
— Violett.
— Eu sei.
Seus olhos se encontraram com os de Violett e eles não disseram mais nada por alguns minutos. De repente uma luz se acendeu no cérebro de Violett, a voz de não era a mesma do cara que havia ligado para ela? Ou, ao menos, era bem parecida. Em sua cabeça, a garota se decidia se perguntava ou não se ele havia ligado para ela mais cedo. Se fosse ele, ela perguntaria o porquê e cessaria todas as dúvidas que vinham martelando em sua pequena mente. Se não fosse, ele a chamaria de louca e perguntaria "por que diabos eu te ligaria? Eu nem te conheço, garota!". Algumas coisas são melhores deixadas para lá.
— Você tá pensando em que? — quebrou o silêncio, fazendo Violett dar um pequeno pulo de susto. O rapaz riu.
— Em nada, na verdade. Eu estava cochilando. — Ela riu e ele a acompanhou, soltando uma gargalhada gostosa. — Há quanto tempo vocês são casados? — Disse, apontando para a enorme aliança que usava. O rapaz se virou, apoiando-se no muro que cercava a varanda, ficando de costas para Violett. Ele deu um longo suspiro antes de responder.
— De verdade? — Violett assentiu. — Mais tempo que o necessário.
— C-Como assim? — Ela gaguejou. — Você não a ama?
virou-se para Violett, ele carregava um sorriso tristonho no rosto e a garota só queria ser capaz de se levantar e o abraçar. Ele caminhou até ela e sentou-se ao seu lado, num banquinho de madeira. Prendeu seu olhar nos olhos de Violett, mais uma vez naquela conexão que era impossível de ser quebrada, e respirou fundo.
— O que eu posso dizer? Stacey é incrível, muito bonita, inteligente, engraçada... Mas não é o que eu procuro, sabe? — Violett acenou com a cabeça. Ela não sabia do que ele estava falando. se inclinou, se aproximando de Violett. — Quando nos casamos, eu era jovem, tinha acabado de me mudar para Londres a trabalho... Eu tinha apenas dezoito anos quando nos casamos. Muita coisa mudou nesses dez anos.
— Dez anos é muito tempo. — Violett comentou.
— Eu sei.
Quando o Rapaz e Violett voltaram para dentro, parecia que havia se passado segundos e não minutos. Todos se encontravam sentados à mesa, deliciando o jantar, conversando sobre coisas aleatórias.O rapaz puxou uma cadeira para Violett se sentar e sentou-se ao seu lado. Os olhos de Victoria passavam do sorriso de canto no rosto de para as bochechas rosadas de Violett até pararem no olhar que a amiga a lançava. Com um gesto, as duas se levantaram e correram escada acima, se trancando no quarto de Violett.
— Conta tudo! — Victoria praticamente gritou, virando a chave para trancar a porta. Violett sentou-se em sua cama, as pernas cruzadas e abraçando seu travesseiro. — O quê você sabe dele? O quê vocês conversaram? Descobriu o nome dele? Sim, claro que você descobriu. — A garota desatou a falar e Violett só fazia revirar os olhos.
— O nome dele é . Vinte e oito anos, aparentemente, já que se casou aos dezoito e o casamento deles tem dez anos de existência. E só.
— Só? Que absurdo! Agora desembucha. Sobre o quê vocês conversaram?
— Ah, nada em particular. — Violett olhou pela janela do quarto, a mesma janela pela qual o havia visto pela primeira vez. — Ele saiu e me perguntou se eu estava bem, eu disse que sim. Depois ele me contou sobre o casamento dele...
— O QUE? O quê ele disse? — Victoria interrompeu. — Desculpa, continua.
— Eu perguntei há quanto tempo ele e Stacey – é, esse é o nome da mulher dele – estavam casados, ele disse, e eu repito, "há mais tempo que o necessário". — A garota disse, imitando a voz grave de . — Eu fiquei tipo: como assim, Jesus? E eu perguntei, obviamente.
— Perguntou o quê?
— Perguntei "como assim? Você não a ama?" e ele disse "ela é incrível, mas não é o que eu procuro". Se eu surtei internamente? Sim. — Victoria riu, tapando a boca com as duas mãos.
— Mas e agora? Vocês dois são amigos ou o quê?
— Não somos nada. — Violett jogou o corpo para trás, atingindo a pilha de travesseiros e fechando os olhos. — Nós só conversamos, não é como se ele fosse, sei lá, se apaixonar por mim ou algo do tipo.
— Mas bem que você queria... — Victoria sorriu e deitou-se ao lado da amiga. — Ai, amiga... Você sabe que eu queria poder te ajudar, mas eu estou de mãos atadas aqui.
— Tô ligada... — Violett levantou-se e caminhou até sua cômoda, pegando dois pijamas e jogando um deles em Victoria. — E daí que eu ia dormir na tua casa? Você dorme na minha.
— Parece uma boa ideia.
Já passava da meia-noite quando Violett decidiu descer as escadas para pegar um copo d'água. Havia um burburinho na cozinha, o que a garota achou estranho, então inclinou a cabeça para a porta, a fim de ver o que estava acontecendo ali. Seu pai e o Rapaz conversavam amistosamente sobre alguma coisa, bebericando goles de uísque. Os olhos do mais velho localizaram uma Violett em seus pijamas, o cabelo preso em um rabo-de-cavalo, já sem nenhuma maquiagem, e a chamou.
— Qual é a boa, velho? — Violett disse, entrando na cozinha, passando as mãos nos olhos.
— Eu te amo taaaaanto, filha. — O homem disse, arrastando as palavras, sinal claro de que estava bêbado.
— Olha o que você fez com o meu pai! — A garota riu, empurrando o ombro de . — Não pode deixar a terceira idade ficar desse jeito, homem!
— Desculpa, a culpa é toda minha. — O rapaz deu uma gargalhada rouca e se levantou. — Acho melhor eu ir embora, tá meio tarde e amanhã o dia começa cedo.
— Imagina, . — O pai de Violett levantou-se, mas perdeu o equilíbrio e caiu sentado na cadeira, despertando uma onda de gargalhadas. — Acho que já estou meio alcoolizado.
— MEIO? — A garota riu. — Ok, se você está dizendo...
— Violett, minha querida, leva o rapaz até a porta. — Violett assentiu e saiu do cômodo com o homem logo atrás.
Ao chegarem à porta, um silêncio constrangedor se instalou no local, Violett desviou os olhos para os pés descalços enquanto vestia seu casaco. O rapaz pigarreou e Violett levantou seus olhos para ele, que sorria timidamente. A Ruiva não conseguiu evitar sorrir de volta.
— Por que estamos sorrindo mesmo? Acho que perdi alguma coisa. — Violett falou após alguns segundos.
— Eu também não sei. — se aproximou da garota. Seu cheiro, uma mistura de vinho, uísque e perfume caro, dominaram os sentidos de Violett. Seus olhos Azuis passeavam pelo rosto da Ruiva, assim como os olhos dela passeavam pelo rosto dele. Aquilo já estava ficando extremamente constrangedor, confortável até, mas principalmente constrangedor. Quando finalmente desviou os olhos, o rapaz soltou um suspiro alto antes de falar. — É... Eu realmente preciso ir agora.
— Ah, é. — Violett piscou algumas vezes, acordando do transe. — Boa noite.
— Boa noite, Violett.

Um pouco antes de o rapaz descer as escadas da varanda, Violett grita: -Você não me disse o seu nome! O rapaz se vira com uma afeição sexy e responde: -Dake, meu nome é Dake...                                       Os dois trocam olhares alguns segundos e depois seguem.

  

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