Diversão e Jogos

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Capítulo inspirado na música Carousel

A luz do sol insistiu em passear por seu quarto.

Sua pele estava um pouco fria quando finalmente acordou, parecia se levantar de um túmulo depois de séculos sendo consumida pela terra, suas articulações doíam por tanto tempo imóvel.

— Por quantas horas eu devo ter dormido? – perguntou-se confusa.

Na parede, a sombra criada pela luz que batia nas palhetas do ventilador de teto movia-se com velocidade formando uma cena hipnotizante. A poeira voava perto da prateleira, os livros estavam organizados como sempre, nenhum novo bilhete se exibia preso entre páginas para lhe assombrar.

Estava tudo completamente normal, o que chegava a ser estranho. A única anormalidade alí era o relógio, ou mais especificamente, o tempo. Eram pelo menos quatro horas depois do horário habitual para acordar. Ou Cry Baby estava ficando maluca ou Vyle estava.

Sua cama rangeu quando ela tentou se levantar, o verniz na madeira pintada de vermelho incomodava-a. Quando pôs os pés no chão, percebeu que estava sem pantufas, a roupa que a cobria com certeza não era um de seus pijamas, procurou sua mamadeira mas ela não estava em lugar nenhum.

Tudo bem. Ela era a detetive da casa, se algo estava acontecendo ela iria descobrir, até porque algo estava realmente acontecendo. Respirou fundo, o mais fundo que conseguia e obteve todo o ar que precisaria para suportar as torturas do seu lar.

O piso gelado fazia sua pele se arrepiar quando seus dedos o tocavam, a maçaneta brilhava do outro lado do quarto insistindo seu uso, bastava girá-la para ter acesso a todos os cômodos, todas as pessoas, toda a família falsa. Sweet se aproximou da porta e abriu-a com segurança, deu uma rápida olhada no ambiente e desceu os degraus da escada demonstrando despreocupação.

Sua mãe estava na cozinha com um avental branco enquanto lavava o chão. Seu cabelo loiro esta desgrenhado e seu olhar exibia grandes olheiras, a expressão era monótona, indirefente de qualquer outro dia. O pano molhado deslizava pela madeira retirando manchas peculiares.

— Bom dia filha. – disse ela.

— O que aconteceu? – perguntou Cry Baby apontando para a sujeira.

— Ah, isso? Eu me descuidei bebendo vinho pela manhã. – explicou, o que também era bem difícil de acreditar.

— Falando em manhã, por que não me acordou hoje cedo?

Vyle pegou o pano encharcado e o espremeu num balde alí próximo, a água caiu vermelha como sangue.

— Você parecia cansada, te encontrei dormindo no banheiro e a levei para o quarto nos braços, o que me faz lembrar que precisa emagrecer. Dormiu até então.

— Impossível, – comentou Cry Baby – se o que diz é verdade eu estive dormindo por quase um dia inteiro.

— Então me diga a última coisa que se lembra.

Ela fez uma varredura rápida na sua cabeça: foi à escola, levou um banho de leite, sonhou com um vale sombrio, voltou para casa, encontrou papai, participou de uma fotografia, encontrou um bilhete de Marte, descobriu que Ed traía sua mãe e adormeceu no... Banheiro.

— Não é possível. – engoliu em seco – Onde está papai?

— Viajou a trabalho, uma viagem longa. – por mais que se tratasse da ida de seu marido, Vyle pareceu sorrir.

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⏰ Última atualização: Jul 31, 2016 ⏰

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Cry Baby - Através das CortinasOnde histórias criam vida. Descubra agora