Família Perfeita

233 21 33
                                    

Capítulo inspirado na música Dollhouse

Aquilo foi humilhante.

Quando Cry Baby deixou o banheiro suas pernas tremiam. Seu cabelo cheirava a leite e estava todo sujo de migalhas de cookies que mais parecia areia. Ela era tão idiota... Tão idiota que acreditou que Rose poderia ser uma pétala, quando na verdade, era o espinho.

"Você leva as coisas a sério demais, depois desmorona", dissera ela, "você tenta explicar tudo mesmo antes de começar ou saber o que falar."

E Rose estava certa. Ela sabia que não deveria ter agido por impulso. Que pessoa se torna melhor amiga para sempre nos primeiros minutos de conversa? Cry Baby era muito moldável, muito fácil de manipular, seu coração era grande demais pro seu corpo, sua lógica era pequena demais comparada aos sentimentos.

Uma parte dela gritava e dizia para cessar as lágrimas, para superar, passar por cima, porque ela era forte e durona, a outra parte continuava chorando.

Cry Baby observou o pátio: totalmente vazio. Barulho vinha das salas de aula, algumas bolinhas de papel voavam e professores gritavam batendo o pé. Quanto tempo ela passara no banheiro? Ninguém sentiu falta dela na sala?

As pessoas eram horríveis. Nenhuma frase poderia ser tão verdadeira quanto essa. Sua mãe bebia até surtar e descontava na filha, seu irmão era a melhor pessoa do mundo na frente dos pais, seu pai passava o dia trabalhando e não tinha tempo para nada, seus "amigos" a humilhavam e ninguém oferecia ajuda, só ficavam exibindo seus sorrisos acusadores, assassinando com os olhos, incriminando lágrimas antes de saber o motivo delas. A sociedade era podre, todos estavam cegos demais para ver isso.

Talvez Cry Baby enxergava melhor porque seus globos oculares eram constantemente lubrificados.

Ela congelou. Não sabia como agir. Para onde iria? O que faria? Como olhar no rostos dos alunos novamente sabendo que todos estavam rindo da sua cara?

Em meio a todos esses pensamentos ela só teve uma ação: correr. Foi como se estivesse programada para isso, ela simplesmente virou para a direção do portão de saída e partiu em retirada.

Os pés se moviam numa velocidade em que Cry Baby nunca tinha conhecido, o cabelo era empurrado pelo vento, as lágrimas eram jogadas para trás. A menina queria que elas ficassem alí e a tristeza fosse arrancada do seu corpo, mas não era tão simples.

Ela fugiu da escola e de si mesma, tentou fingir que nada havia acontecido.

Cry Baby deveria ter se sentido feliz por estar fora daquele lugar onde sofria todos os dias, porém, um buraco mais profundo se abriu em seu peito quando percebeu que saiu do colégio normalmente, como se fosse invisível, ninguém a percebera, ninguém a notara. Talvez fosse mesmo uma pirralha sem importância.

Os primeiros passos foram leves e suaves como caminhar sobre uma trilha de algodão, o pensamento era perturbador como caminhar sobre brasa acesa. Ela não sabia para onde ir, quem procurar, se é que alguém a ajudaria. De qualquer maneira, não iria para casa, sua mãe não poderia saber que ela escapou das aulas, do jeito que estava era capaz de bater em Cry Baby com um pedaço da sua garrafa de conhaque russo, e digamos que isso não está na lista de surras preferidas de Cry Baby Sweet, é sério, ela tem uma lista.

Um dia a Sra.Sweet tentou marcar Cry Baby com pedaços quentes de marshmallow, outra vez, ela ameaçou afogá-la em cauda de chocolate ou entupir suas narinas com glacê de bolo. Todo ano, mamãe Sweet promovia o dia da foto de família, quando todos se aprontavam e posavam para uma fotografia que se tornaria mais um daqueles quadros velhos pendurados na parede. Num dia de foto, Cry Baby gritou pela casa se recusando a ficar frente à câmera, sua mãe então, disse que caso ela não fosse, cortaria seus cachinhos castanhos e penduraria-os pela casa no natal em vez de meias.

Cry Baby - Através das CortinasOnde histórias criam vida. Descubra agora