Capítulo 2

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O final da tarde foi bem agradável, fui correr com Bolla e passei na casa de meu pai, no qual estava discutindo com minha mãe.

- Vejo que cheguei em Péssima hora - falei meio constrangido.

- Que é isso filho, você é bem vindo aqui não interessa qual seja a situação - Dona Marta como sempre um poço de simpatia e humildade.

- A senhora continua a mesma de sempre mãe - não consegui conter um sorriso - sempre querendo manter as pessoas confortáveis. Sabe, as vezes a senhora faz uma falta danada.

- Claro, até porque você sempre foi um ótimo cozinheiro.

Nos dois caímos na gargalhada, meu pai voltou para sala curioso, querendo saber do que aquela conversa se tratava, então olhei para a mamãe e disse o que realmente me trouxe até ali naquela tarde.

- Mamãe eu te amo tanto, mas hoje vim por um motivo importante, preciso muito falar com o papai em particular, se trata de negócios.

Ela concordou e mencionou que iria fazer um lanche enquanto conversávamos.

- Pai eu vim aqui falar sobre o meu cargo na empresa - fiz uma pausa - estou ficando muito sobrecarregado com tudo, é muito trabalho para uma pessoa só, já estou ficando doido.

Falei o que já deveria ter falado há muito tempo, mas fiquei com receio de que ele me tirasse da empresa de uma vez, Eu nunca ficava no mesmo cargo por muito tempo, eu sempre peço pra trocar, e isso o deixava furioso. Mas esse realmente estava me tirando do sério, e já estava sufocado, não aguentava tanta papelada, não aguentava mais ler, não aguentava mais assinar, não aguentava mais aquela vida de empresário. Não suportaria ficar ali mas nenhum dia sequer.

- Eu não acredito que você teve a cara de pau de vir aqui me pedir pela centésima vez para trocar de cargo, eu não estou nem acreditando nisso. Eu deveria deixar você no cargo de serviços gerais, só assim você aprende e deixa de ser esse menino mimado que você é. - estava altamente furioso e no fundo, bem no fundo eu sabia que era com razão.Eu sempre tive tudo o que eu queria, talvez fosse esse meu problema.

- Mas pai eu não tenho culpa se eu não me dou em nenhum cargo daquela empresa eu não tenho cabeça para tudo aquilo. - tentei me defender.

- Ah não! Claro que não! você não tem cabeça pra nada, só pra sair para festas, se divertir, virar noitadas com seus amigos e beber até o dia raiar.

Fiquei sem saber o que dizer, ele sempre foi um bom observador, e sempre esteve na minha cola, brigando e dizendo o que fazer e o que não fazer. Até agradeço pela preocupação mas tenho certeza, absoluta certeza que ele nunca me entenderia.

- tenho os meus motivos, e garanto que o senhor não os entenderia.- formou-se um nó em minha garganta.

- Claro que eu não o entenderia, eu não sou um moleque. E quer saber? o papo acabou por aqui. Ou você fica no cargo em que você está ou eu lhe demito sem ter ao menos uma pensão, pois você já está bem crescido, deveria tomar vergonha na sua cara, porque se eu lhe demitir você vai ter que procurar um emprego por conta própria e do jeito que as coisas estão, talvez você não encontre mais do que um emprego com um salário mínimo. O que seria uma vergonha para nossa família.

Realmente ele estava certo, não estava me dando conta do que eu possuía, do poder que eu tinha e de quantas pessoas dariam tudo para estar no meu lugar. Assenti e pedir desculpas. E prometi que daria o melhor de mim daqui por diante, e era exatamente isso que eu ia fazer. Teria que me esforçar, me dedicar, dar o melhor de mim para o meu trabalho, se quero continuar sendo bem-sucedido, porque diferente de cada um na Consilius, eu fui bem privilegiado, já todos tiveram que passar por seleções e muitas provas pra chegar até ali. Eu deveria ter  valorizado mais, deveria ter sido mais simpático com cada um naquela empresa, pois diferente deles eu nunca passaria sequer na primeira prova, nunca fui bom no colégio, aliás, nunca me vi bom em nada, mas aquelas pessoas eram super inteligentes e simpáticas. Eu deveria ter dado mais valor, eu deveria ter dado mais de mim. Não sei porque fui tão egoísta com elas afinal somos gente da gente, a mesma nação, estamos todos juntos, unidos para fazer a empresa crescer, todos ali estamos juntos no mesmo propósito, o fato de eu ter mais poder do que cada um ali acabou revirando minha cabeça e me transformando em um completo imbecil. Não sei como pude deixar isso acontecer, mas sei que na próxima vez que eu botar o pé naquela empresa tudo será diferente. Nada será como antes.

                            ***       

E lá vai eu pra mais uma longa jornada, mais um dia de trabalho, mais um dia exaustivo, mas trabalho é trabalho, e é sonho de muitas pessoas estar onde eu estou, deveria era glorificar, aliás, vejamos pelo lado bom, tenho uma super amiga, Lúcia, que sempre está de conversinha mole comigo, e o filho do Chefão que todos alegam ser nariz empinado, o grande "eu sou" não foi tão duro comigo, aliás, não até agora.

Antes de sair, não podia esquecer da comida de Norah, repus um sachê em sua tigela e enchi a outra de leite, o suficiente para o dia inteiro, dei um leve beijinho em sua cabeça, e ela como sempre, miou pedindo mais carinho, mas eu nao tinha mais tempo de mima-la, peguei as chaves, a bolsa e sai em disparada.

Deixei o carro no estacionamento, quase ia me esquecendo de travar o carro, ultimamente minha cabeça não estava boa para lembranças, e Norah sabe muito bem disso, ela foi o principal alvo. Semana passa fui trabalhar e esqueci de repor sua comida, quando cheguei, encontrei minha gatinha zonza de fome.

Entrei no elevador apertando o número do andar onde ficava a minha sala, assim que o elevador fez sinal para abrir, respirei fundo fechei bem os olhos e pensei, memorizei bem as palavras, eu quero, eu posso, eu consigo.

Ela se foiOnde histórias criam vida. Descubra agora