Capítulo 4

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Nada mal, são boas pessoas assim como imaginava ser, são muito generosas, pois poderiam dar o troco se quisessem, mas não, foram gentis comigo mesmo assim.

Fui ao estacionamento e destravei o carro, peguei as papeladas que eu tinha deixado no banco ao lado e me dirigi devolta para a empresa.

Passei pela recepção e acenei para as recepcionistas, e elas retribuiram, me senti bem melhor, uma sensação de bem-estar, de estar bem com todo mundo, de estar bem comigo mesmo.

No caminho para o meu escritório, percebi que mal sabia o nome de ninguém, como iria se aproximar daquelas pessoas se não sei ao menos seus nomes?

Passei na sala da gerente e bati, ouvi a voz adentro afirmando que poderia entrar. Quando abri a porta, a vi mais concentrada possível na tela do computador, ela realmente se dedicava o melhor possível. Assim que levantou os olhos e viu que se tratava de mim, se levantou quase em um salto, passou a mão sobre a blusa, na probabilidade de querer desamassar-lá.

- Oi Sr. Johannes.

- Já disse que pode me chamar de Andrey. - dei um leve sorriso, e vi que ela fez o mesmo.

- Andrey, em que posso ajudá-lo? - percebi que ela estava nervosa.

- Em nada demais, só quero que me ajude a decorar os nomes de cada funcionário da Consilius, se for possível, claro.

- Hoje só faz duas semanas que estou trabalhando aqui, o que faz você pensar que sei o nome de todos? - ela arqueou as sobrancelhas.

- Você é bem desafiadora não? Pois bem, exatamente por isso, você é do tipo de pessoa que é extrovertida, simpática, e sempre quer impressionar os outros, já cursei psicologia e percebo o tipo das pessoas só pelo jeito e o olhar. - percebi que ela ficou surpresa, e continuei - e só não acho como tenho certeza que você já conhece todos, e tem contato diariamente com eles.

- Você está nessa empresa há anos, porque não conhece ninguém? porque não sabe nem sequer os nomes? Porque se mantém afastado?

Uau, ela é bem perceptiva, para pouco mais de duas semanas, percebeu até demais.

- Não me manti afastado de você.

- É exatamente isso que me intriga, porque? Porque foi gentil comigo enquanto ignorava a todos?

- Porque você é diferente.

                          ***

Após chegar em casa, fiquei repetindo várias vezes a frase em minha mente.

Porque você é diferente.
Porque você é diferente.
Porque você é diferente.

O que me tornava diferente para ele? O que eu fiz para ele achar isso? Afastei aqueles pensamentos quando me flagrei. pensando mais uma vez nas atitudes dele, e continuei a escrever no bloco de papel o nome de cada funcionário e suas funções específicas.

Depois de um tempo quando eu estava colocando os nomes em ordem, me peguei mais uma vez pensando no quanto eu fui ousada, fazendo milhares de perguntas e não percebi que por um mínimo detalhe ele poderia me colocar no olho da rua.

Como fui tão tola? ele agora deve está achando que eu sou atrevida. Meu Deus o que eu fiz? Enterrei as mãos sobre o meu rosto e fiquei refletindo durante mais ou menos dois minutos, sendo interrompida pelo zuar da campainha, fui atender a porta e me deparo com Lúcia, que entrou em disparada, sem nem ao menos pedir para entrar.

- Você ainda não me respondeu Nath, Você é fada não é!?

- Ah não Lúcia, não acredito que você veio até aqui para começar com essa historinha boba de novo - não estava com a mínima paciência para suportar os chiliques de Lúcia - e você não tá muito grandinha para acreditar nessas coisas não?

- Ah Nath, corta essa vai, me diz por favor o que você fez, prometo que eu não vou contar a ninguém, aliás, você sabe que eu não iria contar mesmo, só quero saber. - ela fez cara de cachorro pidão - por favor me conta vai.

- Deixa de ser besta Lúcia, eu não fiz nada, ele apenas fala comigo normalmente, e depois que ele passou por vocês naquela hora, ele foi na minha sala pediu o nome de cada funcionário, ele não é tão ruim quanto vocês pensam, ele quer fazer amizade com todos, eu estava até aqui fazendo a lista olha - mostrei o bloco - de todos que trabalham na Consilius.

- Meu Deus! o que será que houve com ele? Será que ele caiu bateu a cabeça em algum canto? Com certeza deve ter acontecido alguma coisa com ele pra ele querer ser amigável do nada.

- As pessoas mudam - respondi filosoficamente.

- Creio que pessoas como ele não tem conserto - ela pensou por um estante - ele é do tipo de pessoa que já nasce com aquilo sabe?

- não importa como a pessoa nasça, ela pode ter o poder de mudar o que quiser em si mesmo.

Ficamos em torno de uma hora conversando, mas não só apenas sobre Andrey Johannes, mas também sobre como estávamos levando o cargo na empresa, sobre planos pessoais, compras, e principalmente, sobre marido.

Lúcia já fora casada antes, mas se divorciou, pelo fato de seu marido ser um alcoólatra, e todas as vezes que ele chegava em casa, a maltratava, tanto com palavras como com porradas.

Já eu sempre fui solteirona, nunca me dei bem com os homens, aliás, nunca encontrei o cara certo pra mim, nunca encontrei um que seja compreensível, amigável, amoroso, cuidadoso, carinhoso, sensível, romântico, que não me fizesse jamais esquecer que não existe e nunca existirá alguém melhor que ele, alguém que faça eu me sentir única, que me faça sentir segurança em seus braços, que me faça delirar todas as noites, chamando seu nome, abraçada sobre o calor do seu corpo, talvez eu ainda ache essa pessoa, ou talvez essa pessoa não exista, talvez seja só um sonho de várias mulheres, talvez eu esteja querendo demais, esteja querendo o impossível, e mesmo que seja, eu nunca perderei minha fé.

Já era onze da noite e eu precisava dormir, no dia seguinte tinha que acordar cedo para enfrentar mais um dia de trabalho. Preparei a papelada dos nomes que o Sr. Andrey me pediu e os coloquei na pasta, junto com os relatórios do dia seguinte e deixei em cima da estante para facilitar na manhã seguinte, e em cima da pasta deixei as chaves da casa e do carro.

Tomei um banho bem demorado e relaxante, com bastante e sais minerais sob a bandeira. Vesti o meu baby doll de seda rosa, liguei o ar condicionado, apaguei as luzes e finalmente deitei para dormir, e caí no sono em menos de dois minutos.

Ela se foiOnde histórias criam vida. Descubra agora