q u a r e n t a

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[quarenta] "ainda tem medo de trovões?"

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"Limpamos aquilo amanhã." Concluo, sentando-me no sofá.

O cara-de-camelo entra na sala, vestindo apenas uma boxer. Pergunto-me se ele dorme sempre apenas de cueca, mesmo no inverno.

A chuva começa a cair furiosamente lá fora, fazendo-me torcer o nariz.

Não que eu não goste de chuva, muito pelo contrário. Mas... Chuva no verão? Em Miami?

"É o aquecimento global." Dean comenta, enquanto se senta ao meu lado e pega no controle da televisão, mudando de canal.

"Mas nem pense nisso! Vai estrear um episódio novo de American Horror Story!" Resmungo, tentando tirar-lhe o controle.

"Sim, e? Os Miami estão jogando contra os Knicks, não posso perder esse jogo!*" Ele reclama e estica o seu braço para longe, para eu não conseguir alcançar o controle.

"Por favor!" Faço beicinho, olhando para ele, e pisco os meus olhos repetidamente.

"Não vai conseguir me fazer ceder!" O cara-de-camelo exclama dramaticamente.

"Odeio-lhe." Murmuro e cruzo os braços contra o meu peito.

"Ótimo." Ele sorri e aumenta o volume da tv.

Mantenho a minha posição de zangado, não sabendo o que fazer. O único lugar nessa casa onde tenho alguma coisa para fazer é a sala e o controle está com Dean.

Tem o computador dele no quarto... Mas não quero sair daqui.

Um estrondo, que logo reconheço como sendo um trovão, me faz encolher, tampar os ouvidos e fechar os olhos.

Segundos depois, abro um olho, observando em volta e saio da minha posição lentamente... Mas outro trovão volta a soar e logo volto a minha posição anterior.

Boa! Ótimo! Começou a trovejar!

Sinto o olhar do cara-de-camelo em mim e abro lentamente os olhos, para confirmar.

"O que foi?" Ele pergunta, chegando-se mais perto.

"Está trovejando." Respondo baixinho, ainda encolhido.

"Oh, ainda tem medo de trovões?" Dean murmura e larga o controle ao seu lado. Apenas assinto.

Lembro-me perfeitamente de uma vez que começou a trovejar muito, quando eu e o Dean estávamos indo juntos para casa. As nossas mães tinham combinado algo e disseram para irmos ambos até a casa antiga do Dean. Assustei-me tanto com um trovão que o empurrei para uma poça de lama.

A tv desliga-se repentinamente, assim como todas as luzes da rua que são possíveis ver através da janela, ao som de mais um trovão, fazendo-me dar um pequeno salto. Consigo sentir os meus olhos humedecerem lentamente e eu sei que, eventualmente, vou começar a chorar.

Porra para mim e para o meu medo de trovoadas!

A única luz que temos é a luz da lua e das estrelas, que é praticamente nula. Ainda assim, consigo ver parcialmente o cara-de-camelo.

"Vou buscar uma lanterna ou algo assim." Dean declara e levanta-se do sofá, tropeçando nos próprios pés, enquanto faz o seu caminho para fora da sala.

Puxo as minhas pernas contra o meu peito e tampo os meus ouvidos, preparado para mais um trovão.

Segundos depois, o meu companheiro de casa aparece com uma vela em uma das mãos; ele pousa-a na mesa em frente ao sofá e senta-se a minha beira.

"Relaxa, não vai acontecer nada." Ele tenta confortar-me e isso resulta por uns segundos... Até voltar a soar mais um trovão.

"DEAN!" Grito e agarro-me ao seu braço nu, sentindo uma lágrima escorrer pelo meu rosto.

Tenho que admitir: os seus bíceps são, de fato, grandes. É claro que eu já tinha reparado nisso, mas nunca tinha percebido que eram assim TÃO grandes.

Deus.

"Tenha calma." O cara-de-camelo tenta, mais uma vez, confortar-me e agarra o meu rosto delicadamente. "Está chorando? Não chore, estúpido!"

"É realmente encorajador da sua parte me dizer para não chorar na mesma frase em que me chama de estúpido." Resmungo, limpando o meu rosto.

"Eu sei." A luz da vela ilumina um pouco o seu rosto, dando-me uma vista para o seu sorriso.

Mais um trovão soa, fazendo-me agarrar mais fortemente ao Dean.

"Vem cá..." Ele murmura e puxa-me para o seu colo, fazendo as minhas bochechas aquecerem drasticamente.

Você está seminu, Dean. E eu tenho hormônios, ok? Um homem não é de ferro!

"Ew, não, Dean. Demasiado contato." Reclamo, tentando sair do seu colo, mas logo desisto dessa ideia ao ouvir mais um trovão e acabo por ficar onde estava, agarrando-me ao pescoço do mesmo.

"Já vai passar..." O cara-de-camelo murmura, enquanto a sua mão entra lentamente pela minha camiseta e ele começa a fazer pequenos círculos nas minhas costas.

Numa situação normal, eu iria gritar com ele e dizer-lhe para não me tocar porque o odeio... Mas está trovejando, caramba!

Mais um trovão soa, seguido por um soluço meu. E mais uma lágrima escorre. Volto a colocar as minhas mãos nos meus ouvidos e não tenho intenção de tirá-las de lá.

Dean diz qualquer coisa imperceptível e limpa o meu rosto com o seu polegar; logo a seguir, afunda o meu rosto no seu peito. Consigo ouvir um trovão mais alto que todos os anteriores, mesmo estando com os ouvidos tampados, fazendo-me soltar mais um soluço.

O rapaz que me segura nos seus braços tenta fazer com que eu retire as mãos dos ouvidos e eu acabo por ceder lentamente.

"Já acabou, Cass." Ele murmura e os seus dedos tomam lugar no meio dos meus cabelos.

"E se voltar?" Pergunto, surpreendendo-me a mim mesmo com o meu tom infantil, e agarro-me ao pescoço dele.

"Se voltar, vamos todos para o inferno."

A minha boca entreabre-se e eu o encaro, pasmo com a sua resposta e preparado para começar a chorar de novo. Não é como se fosse algo que eu consiga evitar!

"Hey, calma... Calma, calma! Eu estou brincando!" Ele explica-se e puxa a minha cabeça para o seu peito. "Dorme... Não parece que a luz vá voltar assim tão rápido."

Preparo-me para voltar ao sofá, mas o Dean rodeia a minha cintura, não me deixando mover. Encolho os ombros, agradecendo-lhe de um certo modo, e fecho os olhos.

Amanhã o sol vai voltar a brilhar e eu vou voltar a odiá-lo.


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*os (new york) knicks e os miami (heat) são duas equipes da NBA que têm muita rivalidade.

se quiserem que eu dedique algum capítulo, é só pedir :-)

Marry You ➸ destiel versionOnde histórias criam vida. Descubra agora