009-Arrumando um emprego

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-Mãe, eu quero trabalhar.

-O quê?

-Vou arranjar um emprego, não importa qual, mas quero ganhar minha própria grana!- mentira, eu só queria ficar fora de casa mesmo

-Sabe, tem um bar precisando de atendente lá perto do colégio.- era Mathias saindo do meu quarto como se fosse a coisa mais normal do mundo.

-O que você tá fazendo aqui?

-Oi Sra. Roberts, oi John!- ele nem olhou na minha cara

-Boa tarde Matty.
 
  Olhei furiosa pro ruivo que estava prestes a dar um sorriso colado com meu punho.

-Sobe o resto das escadas agora, seu doido varrido!
 
  Entramos no meu quarto, estava quentinho e confortável, Mathias sentiu a mesma coisa, pois se deitou na MINHA cama enquanto eu tentava o repreender.

-Não fique chateada Abelhinha!-aquilo me estremeceu, a voz com que ele me chamou daquele jeito.

-Abelhinha?

-É... Você é loura, tem olhos cor de mel e só usa roupas pretas: Abelhinha.

-Não me coloque apelidos, mas até que faz sentido- fiz uma pausa- sabe o que não faz?-ele negou com uma expressão divertida-Você entrando no meu quarto desse jeito.

  Ele se encolheu um pouco.

-Desculpa, é que agora que somos amigos, pensei que não haveria problemas.

-É, mas não somos tão amigos assim a esse ponto!

-Que ponto?-se fez de idiota

-Ponto de ir entrando no meu quarto, invadindo minha privacidade, não era por isso que tínhamos discutidos na primeira vez que nos vimos?
 
  Privacidade. Eu estava pouco me ferrando pra isso, eu estava agitada de mais, só não sabia por quê.

-Ta, okay, desculpa por invadir assim... Mas eu ia te chamar pra sair!

-Que?- arregalei os olhos

-Não! Calma! Não desse jeito. Credo

-Credo- fingi colocar o dedo na goela

-É que a galera vai sair pra um bar, coincidentemente, o bar que precisa de atendente, vim saber se você e a Melissa querem ir.

-Mel!- gritei e ela apareceu- vamos num bar, quer ir?

Ela me olhou com cara de "não" mas fiz biquinho e ela aceitou.

-Pode ser!

  Descemos as escadas correndo e passamos pela frente da cozinha.

-Mãe, vamos sair, tchau.
 
  Nem deu tempo para reclamações,- corremos pra fora e entramos no carro de Mathias.
 
  Ele ligou o som e uma música conhecida começou a tocar. Fomos direto para o bar, o nome era "Ogro de Tocaia", o lugar até que era bonitinho por fora.
 
  Adentramos o bar por uma porta de madeira estilo velho oeste, o cheiro de bebida e suor impregnava o ar, haviam todo tipo de gente, desde motoqueiros barbudos à garotas delicadas.

-Mathias! Estamos aqui!- ouvimos Dylan gritar de um canto.

-Hey, Dylan!-falei e ele se levantou pra me abraçar

-Ei! Larga meu amigo!-Jacob falou brincalhão

-Amigo?- Dylan faz cara de bravo pra ele

-Desculpa, eu quis dizer: larga o meu namorado, força do hábito Dy!
 
  Todos rimos com a demonstração de carinho que foram os olhares que os dois trocaram. E em falar de olhares, Melissa estava quase sendo engolida pelos olhos de Arthur. Pigarreei e olhei diretamente pra ele como uma fuzilada, ele baixou a cabeça.

-Vamos beber então!
 
  Antes de beber muito naquele dia, Mathias me apresentou ao dono do lugar e disse que eu estava procurando emprego, na hora o dono aceitou, dizendo que " Se é amiga do Matty, é amiga minha!". Inclusive ele disse que não iria sem importar que eu ainda não tivesse dezoito anos, já que completaria a idade logo.
 
  Depois de muita bebida, fomos pra casa, sorte que o ruivinho estava mais ou menos sóbrio para dirigir.

                             [...]

  Deitei na minha cama e pensei em pular a janela pra provocar o Mathias no quesito privacidade, se ele invadiu a minha, eu tinha que dar o troco, mesmo que amigavelmente.

  Entrei no quarto dele, estava arrumado, o que é bem estranho: o quarto de um adolescente, arrumado.

  A porta do banheiro estava fechada e dava para ouvir o chuveiro. Imaginei a água caindo sobre o corpo dele, mas balancei a cabeça espantando o pensamento idiota que me fez rir.

  A porta estava destrancada, dei risada do meu pensamento de ir entrando, mas percebi que era uma ideia maravilhosa! Entrei.

-Matty! Boa noite!- me olhei no espelho enquanto arrumava o cabelo.

-Caralho, Viola!- ele desligou o chuveiro e enrolou a toalha na cintura, eu ri.

-Lembra do assunto privacidade? Eu só queria dar o troco.- ri mais ainda

-Entrando no banheiro enquanto eu tomo banho?

-Ta assustado assim por que? Não confia no taco?- eu não parava de rir um segundo.

-Ah Viola, sai daqui.

  Ele foi me empurrando pra fora do banheiro, dei um empurrão sem pensar e na hora que ele foi cair, me puxou junto. Rolamos no chão e ele ficou por cima de mim, me olhando com uma expressão perdida, como se estivesse hipnotizado, eu só o encarava. Por um instante pensei que ele estivesse se aproximando.

-Então né!- falei sem graça e dei dois tapinhas em seu peito.

-Que merda hein!

  Ele se levantou rápido, rápido o bastante para a toalha cair enquanto eu ainda estava no chão. Ele arregalou os olhos, puxou a toalha e se cobriu, fechei os olhos na hora, morrendo de vergonha.

-Não fale nada, não quero saber qual é sua opinião sobre as minhas partes!

-Desculpa, é que... Eu juro que não olhei... Acho que vou pro meu quarto.

  Ele concordou e quando eu já estava no meu quarto, só conseguia lembrar da cena anterior, seria cômico se não fosse trágico, mas, cara... Foi constrangedor demais.

Entre janelas e telhadosOnde histórias criam vida. Descubra agora