013-Mais uma dose por favor!

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-Mais uma, Jack!

Eu estava sentada na bancada de bebidas da Submundo, não em um banquinho, na bancada mesmo! Jack era o barman, um cara barbudo que usava macacão jeans todos os dias, acho que era tipo um uniforme.

Ja fazia uma semana que eu ia pra lá toda noite, em uma dessas vezes, encontrei um amigo de infância e acabei fazendo merda, se é que me entende a "merda" que eu fiz!

-Viola- Jack já havia decorado meu nome- você não é muito nova pra estar tomando tanta tequila não?

-Ah, se liga cara! Eu tenho vinte e um!- falei e ele deu risada, ja sabendo que era a maior mentira.

-Oh loira, tem um cara ruivo vindo aí, acho que é aquele de que você tanto fala.

Olhei pra trás e vi Mathias chegando perto, ele não havia me visto. Passei as pernas pro outro lado do balcão e desci, seguindo pra pista de dança, esbarrei no seu ombro, o que fez nossos olhares se encontrarem.

Segui em frente com um meio sorriso no rosto. Comecei a dançar, não do jeito que eu dançava pra mim (pois esse jeito eu só pretendia mostrar em uma ocasião especial), mas sim, como se quisesse extravasar mesmo. Eu me controlava pra não mostrar de mais a minha necessidade de estar ali no meio da pista, mas mesmo assim, chamava a atenção de algumas pessoas.

-Oi gata!- um homem alto com cabelos castanhos segurou o meu quadril.

-Cai fora otário! Você tem idade pra ser o meu pai!- bati na mão dele.

-Ei! Você tá dando em cima do meu namorado?- revirei os olhos ao ver a mulher, que era do meu tamanho, batendo o pé na minha frente.

-Olha aqui, esse babaca que veio pra cima de mim, e a culpa não é minha se você não põe coleira no cachorro, é por isso que ele, com certeza, foge pra foder outras cadelas!- e é por isso que é sempre mais sensato levar Melissa comigo nas boates.

-Calma, Monica!

A mulher, que agora eu sabia que se chamava Monica, levantou a mão aberta e me acertou no rosto, dei uma risadinha, foi tão fraco que fiquei com pena.

-Muito forte você, hein?

-Monica! Vamos embora!-o homem falou encostando no ombro dela.

-É, escuta o Cebolinha e some daqui!- onde está Melissa quando eu estou fazendo merda?

A tal da Monica correu e agarrou meus cabelos, a empurrei rapidamente e, por impulso, fechei o punho acertando-a no olho. Ela abriu a boca num 0 e abraçou o cara que tinha me chamado de gata, os dois foram embora, enquanto a roda que havia se formado em volta de nós três se dispersava. Voltei pro bar.

-Jack! Preciso de mais umas trezentas doses de tequila, porque somente o José Cuervo me entende!

Ele encheu um copinho e me entregou, virei pro lado, encontrei um ruivo com olhar de incredulidade, mas ao mesmo tempo, irônico.

-Que foi? Não fala comigo ha duas semanas, mas rir da minha desgraça pode?

-Ei, ei! Eu não te vejo ha duas semanas no colégio! Você sempre mata as aulas que temos juntos!

-Não! Eu só mato as de biologia, geografia e filosofia! A gente tem português e química juntos, você que não presta atenção!

-Eu não quero brigar, até porque, sua cota de socos diários ainda não esgotou, o que seria um puta de um problema pra mim! Mas... Ah, sei lá!

-Ha duas semanas você não fala comigo e sua explicação é "Ah, sei lá"? Vai se foder!

Ele riu! Ferrugenzinha de merda!

Vou até parar de pensar um pouco, minha mente tem mais palavras ofensivas do que eu posso dizer!

Pedi a última dose e fui embora. Estava amanhecendo e foi aí que percebi: "eu deveria ter ido de tênis!" Pois um coturno de salto quinze era a coisa mais confortável do mundo.(olha a ironia batendo na porta)

Tirei os sapatos e vesti meu sobretudo azul marinho, cobrindo minha meia-calça recém rasgada e meu camisetão do Iron Maiden.

Andei pelas ruas até achar uma padaria, teve que ser a padaria da minha rua mesmo. Comi um croissant, tomei um café e fui pra casa. Subindo as escadas, ouvi Melissa conversando no celular com alguém que ela parecia adorar chamar de "amor".

Entrei no meu quarto e logo minha mãe entrou também, eu ja estava deitada na cama e só pensava em uma coisa, mas mamãe me infernizava com um sermão enorme.

-Você não vai voltar a ser do jeito que era quando morávamos no Mexico, aqui você não tem os amiguinhos má influência! Não fode com a vida boa que você tem, Violeta!

Eu odiava quando minha mãe me chamava pelo nome e não pelo apelido! Xinguei todas as pessoas possíveis naquele momento, mas somente balancei a cabeça, me rendendo, não queria mais arranjar briga com outra pessoa.

E o que eu não parava de pensar era: "Eu preciso arranjar uma escada de cordas pra pendurar no meu telhado, assim ninguém me vê saindo, nem chegando!"

Entre janelas e telhadosOnde histórias criam vida. Descubra agora