Capítulo 5: Declarações

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       Já havia passado das duas da manhã e eu continuava deitada encarando o teto na mesma posição há horas. A imagem de Emily deitada naquele chão frio do porão totalmente intacta, não saia da minha mente. Eu nem ao menos conseguia olhar para o lado, porque sentia que se assim fizesse, mais esperanças surgiriam em minha mente e eu negaria ainda mais o fato da minha amiga está morta. E o pior: de ele ter voltado! Quando fecho os olhos, a cena do momento em que eu segui meu pai e encontrei ela estirada no carpete escuro, volta a minha mente instantaneamente e eu sei disso porque tentei, juro que tentei, dormir, descansar, fechar os olhos para esquecer aquele momento triste, mas a escuridão só me fazia lembrar do que eu definitivamente não queria.

       Eu estava profundamente triste e confusa em saber que tudo aquilo tinha acontecido novamente debaixo do nariz do meu pai, um conceituado investigador. Lembro- me que quando encontraram o corpo de minha mãe, meu pai decidiu se dedicar ao máximo em achar este louco que ataca mulheres. Minha mãe não foi a primeira e muito menos a última vítima deste sádico. Segundo o FBI, psicopatas assim costumavam cometer crimes desde criança, até chegar em uma idade onde as coisas sempre pioravam se não tivesse um tratamento adequado. Levei uma das mãos até meus olhos e os esfreguei com força, afinal eu precisava parar de pensar naquilo tudo. Coloquei o fone de ouvido e passei a noite encarando o teto.

        Olhei no celular quando já eram sete da manhã, e como eu esperava, não havia pregado o olho naquela noite. E também pudera não é mesmo? Meu pai havia me dito que eu teria que depor hoje, às nove. Segundo ele, assim eu teria pelo menos um tempo para pensar na situação e digerir o assunto, mas como eu já estava acordada, decidi ir cedo. Peguei uma calça comprida jeans rasgada em algumas partes e uma blusa de manga longa cinza escura. Decidi ir tomar banho no banheiro do corredor porque talvez, fosse a melhor escolha.

* * *

        A delegacia estava cheia. Quando entrei, pude ver algumas pessoas da faculdade saindo de algumas salas e entrando em outras. Provavelmente estavam dando depoimentos ou falando sobre o acontecido. Não havia sinal algum de Chloe ou de Enzo no lugar e para falar a verdade, eu nem havia visualizado as mensagens no meu celular desde que vi Emily.

— Ariel?— uma voz conhecida soou no lugar.

— Pai.— eu disse e corri para abraçá-lo. Foi uma ação diferente já que eu não costumava ser muito carinhosa com meu pai. Porém, naquele momento, sentia que precisava ser abraçada nem que fosse por alguns segundos.

— Por que veio tão cedo? Poderia ter vindo mais tarde.

— Achei melhor vim pela manhã. — Nos soltamos do abraço— Tenho aula mais tarde. — continuei encarando o chão.

—O que houve com seu rosto?

—Nada demais.

—Quem fez isso Ariel? Você se meteu em briga?

—Pai não tenho mais doze anos. E não, não me meti em nenhuma briga. Esse é o resultado de uma festa com gente louca e bêbada. Só isso.

        Ele levou a mão até a cabeça e respirou fundo. Meu pai e eu nunca fomos amigos ao ponto de conversamos sobre tudo. Para falar a verdade ele nunca foi um pai e marido muito presente. Creio que depois do acontecido com minha mãe, ele se arrepende disso até hoje. Ele sabia que eu não falaria além do necessário, até porque eu não dei tanta importância a essas marcas que Marian deixou em meu rosto, embora ainda estivessem doloridas.

— Quer dar seu depoimento agora?

— Já que é necessário, sim.

       Ele me levou até uma bancada e pediu para que assinasse meu nome ali. Logo após, fomos até uma sala iluminada que possuía uma mesa, estantes e dois homens: um sentado atrás da mesa e outro um pouco mais distante com um notebook em mãos.

A Vítima PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora