Capítulo 6: A melhor obsessão.

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       Já havia se passado três dias depois do enterro de Emily e para falar a verdade eu ainda estava um pouco abatida. Doía saber que a última vez em que tinha a visto, seria pela manhã do dia em que ela morreu. Nem ao menos deixaram seu caixão aberto para que pudéssemos dar um último adeus. Muitas coisas se passaram na minha cabeça nesse meio tempo e o bom é que mesmo sentindo muita falta da loira, eu tinha alguém para desabafar: Chloe. Passamos a ter mais contato nesses três dias, inclusive, no dia do enterro ela veio até mim e se ofereceu para dormir em meu quarto e eu aceitei. "Vai ser bom para nós duas" ela havia dito. 

     Conversamos durante muitas horas e acabamos indo dormir tarde, porém ainda assim o contato que tivemos me ajudou muito. Enzo não estava na universidade. Segundo ela, ele havia ido para a casa dos pais e iria voltar na semana seguinte. Não perguntei muito para não parecer tão interessada.

       Acordei e como de costume, tomei meu banho e fui resolver meus problemas do dia. Ainda que fosse sábado, eu precisava pegar a matéria do resto da semana, a qual eu não compareci as aulas. Fui até a biblioteca dar uma olhada nos livros que os professores haviam recomendado. Atravessei todo o campus a fim de chegar no meu destino, mas uma voz não muito agradável interrompeu meu trajeto.

— O pique-se-esconde acabou?

       Olhei para trás e vi a nada formidável face de Marian. Ela deu alguns passos ficando a centímetros de distância do meu corpo.

— Achei que nunca mais fosse te ver.

— Quer alguma coisa?— perguntei seca.

— Cicatrizaram rápido.— ela observava meu rosto com atenção.

       Estúpida!  Virei de costas para ela e para minha surpresa, a ruiva mal encarada me puxou pelo braço chamando assim a atenção das poucas pessoas que circulavam por ali e também de outras que estavam sentadas no gramado.

— Parece que se recuperou rápido da morte da sua colega de quarto.

— Marian, vai procurar alguém que ligue para sua existência!— tentei me soltar da mão dela, mas não consegui. — Me solta!

       Ela sorriu debochada e eu continuei:

— Como você consegue ser tão fria garota? Você conhecia Emily e ainda assim continua agindo como uma idiota.

— Ah Ariel!— Marian gargalhou — Não seja ridícula. A resposta para sua pergunta é porque diferente de você, eu não sou hipócrita!

— O que?— Eu estava me segurando para não perder ainda mais a paciência com ela, porém estava quase impossível. E como parecia exatamente o que ela queria, tentei ao máximo me controlar.

— Vai me dizer que não ficou feliz? Não sei quanto as outras pessoas, mas eu entendi seu joguinho. Parece que o destino foi totalmente ao seu favor né.

— Para de falar em códigos Marian.— por fim soltei meu braço.— Eu tenho muito mais o que fazer.

— Pagar de boa moça para depois consolar o namoradinho da amiga morta.— ela sussurrou e naquele momento eu saí de mim. Quem ela pensava que era? E sobre o que estava falando?

— Se você falar outra vez uma besteira como essa, de adeus aos seus cabelos pintados e seu silicone!— Desta vez as palavras saíram entre meus dentes e eu senti minhas bochechas ferverem. Marian ameaçou falar algo, porém eu dei meia volta e fui na direção do prédio. Pude ouvir sua última frase sair abafada:

— Espero que o soco que te dei tenha valido a pena. Pelo menos para mim, valeu.

* * *

        A biblioteca estava cheia, como de costume. Assim que cheguei fui na direção da categoria de livros que eu procurava. Não demorou muito para que eu achasse os que foram recomendados. Desde que eu entrei ali dentro havia sentido a leve sensação de que estava sendo seguida, porém continuei minha trajetória de volta para o quarto sem mais delongas. 

     Entrei no elevador, mas antes que o mesmo fechasse suas portas, uma mão masculina o fez parar. Não tive uma boa surpresa ao ver quem era. O "famoso" professor Rick Morris, posso dizer assim devido aos vídeos, se posicionou ao meu lado. Naquele momento milhares de lembranças surgiram em minha mente inclusive, e principalmente, a que ele estava com Emily.

— Achei que havia sido demitido.— falei sem pensar. Eu já estava estressada pela conversa com Marian e aquilo havia me impulsionado a soltar meu descontentamento.

       Ele abaixou a cabeça e sorriu de canto. Rick sabia quem eu era.

— Mas não fui.

       Olhei para ele que segundos depois, firmou seus olhos em mim.

— Não gosta das minhas aulas, Scolfield?

— Não gosto de você.

       O sorriso que antes estava estampado no rosto do homem desapareceu rapidamente e eu senti um frio na barriga. O que estava fazendo afinal? Eu estava "discutindo" com um homem que mal conhecia, e pior, eu suspeitava dele e não podia negar isso. Para mim, o seu envolvimento com Emily foi estranho, e o fato dele ser novo ali aumentava ainda mais minha curiosidade. Engoli a seco quando ele falou novamente:

— Está suspeitando de mim?

     Fiquei em silêncio e depois de um sorriso irônico, ele continuou:

— Te espero na minha próxima aula.

       Em seguida, a porta do elevador se abriu e ele saiu. Meu andar seria o próximo.


       Já era noite e eu estava me preparando para ir a uma festa a alguns quarteirões da faculdade. Chloe havia me mandado uma mensagem de tarde, e depois de muita indecisão eu decidi ir, afinal, precisava distrair a mente e me divertir um pouco. Coloquei um vestido preto um pouco acima do joelho com um salto branco, e fui para a rua afim de encontrar um táxi que pudesse me levar até lá. A festa seria na casa de uma amiga de Chloe , e segundo a morena, não havia problema nenhum se eu fosse. Assim que apareceu um táxi eu estendi a mão para dar sinal. Feito isso, abri a porta do veículo amarelo e entrei dizendo ao motorista para onde iria.

— Lincoln Ave!

     Ele consentiu, porém antes de eu fechar a porta, alguém a segurou por fora para que eu não prosseguisse com o ato.

— Lincoln Ave?— um homem perguntou.

— Sim.

— Será que eu poderíamos rachar a corrida? Também vou para lá.

— Claro. Sem problemas.— disse com a cabeça abaixa, não mais encarando o homem já que eu estava tentando achar meu celular supostamente perdido em minha bolsa. Logo em seguida, o motorista deu início a corrida.

A Vítima PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora