Capítulo 1: Entre a sanidade e...que sanidade?

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Desconhecido

       Cruzar o campus era mais que uma rotina. Era um ritual observar o dia a dia de cada pessoa a minha volta se iniciando, porém, não sabendo onde, ou melhor, como terminaria. Já eram 07h30min, à hora da caminhada! Observei o relógio em meu pulso, levantei a cabeça aos poucos e lá estava: cabelos loiros presos no alto da cabeça; top preto segurando o busto; calça apertada roxa; mp3 preso no braço tocando qualquer música. O percurso durava de 40 a 50 minutos, desde a saída do dormitório, até a praça central. Uma parada para alongar próxima ao lago e já eram 08h10min. Anotei o horário no caderno e logo voltei a observá- la. Hoje completaram três meses desde que meus olhos pousaram sobre ela, e era uma tortura apenas a olhar. Mas faltava pouco.

Ariel Scolfield


       Era difícil não acordar com a barulheira que Emily fazia após voltar da caminhada.

— São oito da manhã!— gritei pedindo silêncio.

       Eu estava prestes a iniciar as minhas primeiras provas e estava em pânico. Já Emily, estava aqui há um semestre a mais que eu e tudo para ela já estava praticamente resolvido: grade, salas, professores e etc. Enquanto eu ainda me confundia se a aula de Neuroanatomia era no bloco norte ou oeste.

— Ok, já levantei!— me levantei aos poucos da cama e ela estava no banho ouvindo uma música indu qualquer.

       "Em saber que eu terei que me acostumar com isso todos os dias." Pensei. Aproveitei que já havia levantado e enrolei meu cabelo castanho em um coque. Estiquei meu braço e peguei meu caderno que continha as matérias do primeiro semestre de Psicologia Forense. Sentei cruzando as pernas e coloquei o caderno sobre elas. Eu gostava de estudar pela manhã, como eu acordava com a mente tranqüila, sempre conseguia me concentrar mais. O ruim era quando a noite era recheada de pesadelos, mas isso não vem ao caso no momento. Comecei a ler alguns parágrafos a respeito da matéria, mas eu sabia que a felicidade duraria pouco. Agora a música estava ainda mais alta.

— Estava bom demais para ser verdade. — falei baixinho para mim mesma e fiz uma careta me levantando e indo até a porta do banheiro. Bati algumas vezes. — Emily, tem alguém tentando estudar aqui fora. Abaixa esse som!

       É claro que ela não respondeu. Quando Emily Price entrava no banho, demora séculos e ai de quem a atrapalhasse. Peguei minha toalha, um short jeans rasgado que estava sobre minha cômoda e uma blusa larga de alça branca, e sem me esquecer do caderno, sai do quarto indo na direção do banheiro coletivo feminino no mesmo andar. Assim que cheguei lá já fui recebida com sorrisos.

— Me deixa adivinhar? Emily tomou conta do banheiro!?.— Chloe disse sorrindo.

— Acertou!— eu sorri colocando minhas coisas em cima de um banco no banheiro.

— Espera que ainda não terminei: Música indu?

— Música indu!— afirmei sorrindo para Chloe que riu alto. Seu sorriso era bem bonito e a sua pele morena sempre dava um toque especial. Seus cabelos pretos estavam soltos e aparentemente ela já estava saindo do banheiro.

— É o ritual dela após a caminhada matinal.

— Estou me acostumando. — eu disse sorrindo. Chloe mandou um beijo no ar e saiu do cômodo me deixando sozinha. Fiquei ali parada por alguns instantes olhando um ponto fixo qualquer e só me despi do blusão branco que usava, quando me dei conta que não podia perder mais tempo.

       Abri o chuveiro e deixei que a água gelada caísse sobre meu corpo. Fechei os olhos e inclinei a cabeça para frente para que o líquido não molhasse meus cabelos. Naquele momento eu poderia pensar em tudo o que já havia acontecido na minha vida, mas por incrível que pareça, eu não consegui. Quando fechei os olhos só o que consegui ver foi escuridão, como se não houvesse nada em minha mente. Quando dei por mim, já haviam se passado dez minutos, então terminei de me ensaboar e me enrolei na toalha.

A Vítima PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora