PUCK: Ola, ninfa. Onde vai?
FADA: Vou me esgueirando por estes bosques, por estes gramados, mais rápida que a lua quando navega sobre as florestas. Vivo à serviço de Titânia, rainha das fadas. Vou sacudindo as pétalas das rosas, vou voando por aí pra soprar o orvalho das plantinhas.
PUCK: Meu rei, Oberon, vem vindo pra cá. Não se encontre ele com Titânia, pois eles brigaram feio. Ela tirou dele aquele deusinho indiano, pra ser seu pajem. Mas o rei não se conforma. E quando os dois se encontram, fazem tanto barulho que tudo fica quieto de medo.
FADA:: Se não me engano, você é Puck. Não é você que atrapalha a vida das pessoas por pura brincadeira? Atrapalha as peças do moinho, rouba a nata do leite, faz desandar a manteiga e não deixa a cerveja fermentar. E ainda desvia o viajante nas noites escuras e frias, escondendo-se pra rir. E quando te chamam de Puck amigo, você não faz brincadeiras e traz sorte. Não é isso?
PUCK: Isso mesmo. Eu sou esse espírito vagabundo que faz traquinagens pra que meu amo fique alegre. Como ele ri quando eu cavalgo num cavalo bravo, aos pinotes. E quando faço a velha errar a boca e o vinho entorna na sua roupa? E quando a tia gorda vai se sentar e eu de mansinho tiro o banco do lugar e ela, pumba, vai direto no chão e machuca a... consciência. Epa, aí vem vindo Oberon. Cuidado!
FADA:: A rainha também. (entram Oberon, com elfos, de um lado. Titânia com fadas, do outro)
OBERON: Titânia orgulhosa! Mal sinal te encontrar ao luar!
TITÂNIA: Oberon ciumento! Olhem quem está aqui! Fadas, vamos embora!
OBERON: Um momento, presunçosa. Ainda sou teu rei.
TITÂNIA: Não quero saber de você. Pensa que não sei que você deixou a India e veio pra cá só por causa dessa Hipólita, que vai se casar com o duque?
OBERON: E você fala como se eu não soubesse que está apaixonada por Teseu. Não foi com sua ajuda que ele conseguiu fugir da Perigenia?
TITÂNIA: Tudo isso você inventa com ciúmes. Nunca mais pudemos nos reunir nas praias desertas ou nos prados floridos pra dançar ao som dos ventos. Você sempre começa com estes ataques. É por isso que tudo está tão fora de ordem: os ventos agora são vapores venenosos, o trigo apodrece antes de amadurecer, morrem os bois. As estações estão desordenadas, o inverno trocou de roupa com a primavera. E nós é que somos os culpados, com estas brigas inúteis.
OBERON: Então me devolva o pajenzinho que você roubou. Tudo voltará ao que era.
TITÂNIA: Pode desistir! A mãe dele era sacerdotiza do meu culto. E eu vou criar este deusinho, quer você queira, quer não.
OBERON: Você pretende morar neste bosque?
TITÂNIA: Só enquanto durarem as bodas de Teseu e Hipólita. Se quiser, poderá assistir às festas conosco. Se não, é só avisar, que evitarei o seu caminho.
OBERON: Dê-me o deusinho e eu seguirei contigo.
TITÂNIA: Inútil. Vamos, vamos. (saem Titânia e as fadas)
OBERON: Puck! Puck, venha aqui. Vou já cuidar dessa rainha altiva. Puck. Lembra-se daquele dia em que eu estava sentado num promontório, ouvindo uma sereia que cantava no dorso de um golfinho?
PUCK: Lembro, lembro.
OBERON: Preste atenção. Naquele dia eu vi algo que só os deuses podem ver. Vi Cupido armado com suas setas de ouro, perseguindo uma vestal da deusa Lua. Atirou sua flecha mas os raios de luar fizeram com que a mesma errasse o alvo. A sacerdotiza continuou tranquila o seu passeio. Mas eu vi onde caiu a seta. Caiu numa florzinha que era branca e ficou vermelha, por causa da ferida de amor. Chama-se amor ardente. Vá buscar essa flor. Com ela farei um filtro de amor e se despejarmos o líquido nos olhos de alguém adormecido, ao acordar essa pessoa ficará apaixonada pela primeira coisa que enxergar. Vai e volta depressa.
PUCK: Em quarenta minutos vou dar uma volta na terra. (sai)
OBERON: De posse desse líquido farei com que Titânia se apaixone pelo primeiro monstrengo que lhe surgir à frente. Seja urso, leão, lobo, boi ou macaco. E antes de quebrar o encantamento, farei com que me devolva o meu deusinho. Mas quem vem aí? Sendo invisível, ouvirei o que dizem. (entram Demétrio e Helena)
DEMÉTRIO: Não me siga, Helena. Eu não te amo. Quero apenas encontrar Lisandro, pra matá-lo e depois ser morto por Hérmia.
HELENA: Demétrio, eu vou te seguir por toda a floresta. E a culpa é sua.
DEMÉTRIO: Minha? Mas eu sempre te maltrato.
HELENA: Por isto mesmo. Eu sou como um cãozinho seu.
DEMÉTRIO: Eu me sinto mal só de ver você na minha frente.
HELENA: E eu me sinto mal se não te vejo.
DEMÉTRIO: Você se compromete, me seguindo tão tarde neste bosque.
HELENA: Pra mim você é como um dia, por isso não tenho medo.
DEMÉTRIO: Vou deixar você sozinha, entregue às feras do mato. (sai Demétrio)
HELENA: Qualquer fera é mais branda que você, Demétrio. Vou seguir você até o fim. (sai Helena)
OBERON: Adeus, menina. Vou dar um jeito de resolver o seu problema. (entra Puck) Então, Puck, achou a flor?
PUCK: Aqui está.
OBERON: Sei onde Titânia dorme. Conheço o agradável local onde rosas lhe servem de leito e as ervas são suaves ao contato. Ali ela é acalentada pelo canto das fadas. Irei lá sorrateiramente e espremerei a flor em seus olhos. Agora, você. Tome um pouco das flores. Há no bosque uma moça perseguindo um rapaz. Ele é ateniense, descubra pelas roupas. Esprema as flores nos olhos dele, quando estiver dormindo. Mas cuidado pra que ele a veja logo que desperte. Use só um pouquinho e verá como provocará nele uma paixão violenta. Vamos, vamos.