Capitulo 5

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-Então Rodrigo soube que está no terceiro ano, que faculdade pretende fazer?-Ana tentou puxar assunto tentando parar com aquele silêncio perturbador.

As únicas pessoas que falavam na mesa eram meu pai e Christian pelo que eu havia entendido o cara era americano, já a mãe da Rebeca era brasileira, havia ido fazer faculdade em Nova Iorque e lá que o conhecerá e logo se casaram.

Enquanto isso eu, Alice, Ana e Rebeca comíamos quietos apenas ouvindo a conversa de ambos e a ruiva continuava a mostrar sua feição de apavorada.

-Não tenho ideia, mas qualquer lugar o mais longe daqui-sorri forçado colocando um pedaço de carne na boca.

Ela tentou sorrir, mas mostrou seu constrangimento ao fazê-lo, olhou rapidamente para sua comida e então olhou para Rebeca e sorriu orgulhosa alisando os cabelos da filha.

-Rebeca pretende fazer faculdade em Nova Iorque não é querida?-Rebeca assentiu sem falar nada.

-Nossa que bacana, o que pretende fazer?-meu pai perguntou com um sorriso doce que nunca vi ele dar para ninguém, nem mesmo quando eu era pequeno.

Rebeca abriu a boca deixando um leve sorriso escapar de seus lábios para responder, mas seu pai foi mais rápido.

-Minha Rebeca fará administração não é querida? Cuidar dos negócios do seu pai em New York não?-falou ele com um sorriso orgulhoso e o português carregada só sotaque americano.

Vi o sorriso de Rebeca se desmanchar e seu rosto ficar pálido quando assentiu. Aquela pessoa frágil de expressão de pavor não tinha nada haver com a garota linda, ousada e atrevida que eu havia visto naquela manhã em minha cozinha e olhando Rebeca bem ali tinha certeza que não sabia absolutamente nada sobre ela, na verdade, achava que ninguém sabia.

O jantar passou e durante todo ele Christian falava e exibia sua esposa e sua filha como prêmios é uma mera propriedade, me perguntei como Rebeca e Ana poderiam atuar aquilo, se ele era daquela maneira naquele jantar não conseguia imaginar como ele era diariamente.

-Então o que acharam deles?-meu pai perguntou assim que entramos dentro de casa não dei bola apenas subi as escadas ignorando ele e a Alice que me olharam sem entender.

Minha irmã disse mais alguma coisa que não me esforcei para ouvir, apenas passei pelo corredor e entrei no quarto jogando minha camisa no chão e subindo novamente as escadas.

Ouvi gritos e coisas quebrando e vinha da casa dos vizinhos, olhei pela janela me deparando com dois vultos que deduzi ser Ana e Christian. Pelo que via Ana estava encolhida e Christian lançava coisas no chão e eu permaneci ali parado até ver ela sair de meu campo de visão e ele berrar mais alguma coisa e a seguir.

À luz do quarto de Rebeca estava ligada então presumi que estivesse tentando não ouvir a briga dos pais então apenas me joguei de volta em minha cama e tentei ler o resto do livro que começara, estava totalmente sem sono graças à tarde sonolenta que tive.

Quando parei de ler já era uma da manhã e não conseguia mais ouvir mais um ruído então presumi que os pais de Rebeca haviam finalmente parado de brigar e decido ir dormir, decidi olhar pela janela uma última vez antes de tentar dormir de verdade.

Procurei Rebeca por todos os lados mais não vai sinal dela em nenhum lugar, continuei a procurá-la com os olhos e então me deparei com um corpo mais longe do que eu conseguiria ver. Corri até o banheiro e subi no vaso tentando ver pela janela e não acreditei quando vi, mas Rebeca estava encima do telhado em pé e eu sabia muito bem o que ela queria fazer.

Ah não

Sai correndo agradecendo aos céus por meu pai e minha irmã estarem dormindo abri a porta de casa e corri em direção à casa de Rebeca o mais rápido que pude me condenando por ter escolhido um quarto tão longe mais uma vez.

Cheguei pela borda da casa e me deparei com ela de braços abertos seus olhos estavam fechados e seus cabelos ruivos cobriam boa parte de seu rosto.

-Não faz isso!-gritei e ela abriu os olhos assustada, não disse nada apenas abriu a boca e colocou os cabelos para trás da orelha-Não faz isso Rebeca.

Ela permaneceu parada em choque e vi uma lágrima solitária escorrer por sua bochecha borrando um pouco seu rímel.

-Isso não tem nada haver com você!-berrou ela com a voz tremendo assim como seus dentes que trincavam um no outro.

-Claro que tem! Uma maluca tá tentando se suicidar enfrente a minha casa!

Não, era muito mais que isso, alguma coisa dentro de mim dizia que era muito mais que isso, que ela era muito mais que isso.

Não seja louco Rodrigo

-Vá embora!-berrou ela agora furiosa deixando lágrimas grossas deslizarem por sua bochecha.

-Não! Não quero ouvir a polícia amanhã, nem a ambulância, nem esses vizinhos mal amados e curiosos que vão se amutuar aqui pra ver a palhaçada que você fez e depois comentar.

-Cala a boca!-gritou ela ainda chorando suprimindo o soluço que queria sair.

-Você não vai se jogar Rebeca! Você não vai se matar! E sabe porque você não vai fazer isso? Porque você sabe que não pode ser tão fraca assim, porque você sabe que tem muito o que viver ainda, você sabe que pode dar a volta por cima-gritei congelando louco para que ela saísse dali e voltasse louco para dentro antes que eu e ela tivéssemos hipotermia-Volta para dentro ruivinha, sei que você é mais forte que isso.

Não acreditei que era mesmo eu falando quando ouvi minha voz sair suave e um pouco carinhosa. Vi uma última lágrima escorrer por sua bochecha branquinha e tive que suprimir a vontade de seca-la, vê-la daquela maneira tão pequena é tão frágil me dava vontade de abraçá-la e protegê-la.

Estou ficando louco. O que essa cidade está fazendo comigo?

-Volta pra dentro-repeti apontando com o queixo para a janela. Rebeca assentiu e começou a tentar voltar aos tropeços para sua janela.

Rebeca deu um passo em falso num dos tijolos e vi meu coração parar de bater quando ela escorregou pelo resto do telhado, ouvi seu grito alto e apavorado e em questão de segundos corri em sua direção e recebi o peso e o alívio de vê-la caindo em meus braços segura, em meus braços e a milímetros de meus lábios.

Uma ruiva irresistível Onde histórias criam vida. Descubra agora