Primogênito

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Era o primogénito

Era o primeiro

Era o único

Era o melhor

Era o ser individual

Era o que recebia os parabéns

Era o que se conheciam como vencedor

Era o melhor da família

Já não posso mais afirmar isso

Já não posso mais me vangloriar desse meu feito

Já não posso me fazer de único

Já não possa mais me fazer de escolhido

Hoje sou mais um

Hoje meu próximo me substituí

Hoje nem de conselheiro sirvo

Hoje já não me alegro mais

Coloco meu coração na estante

Já que no meu corpo não mais sentido ter

Coloco a venda para que for o próximo pródigo

Coloco o para que o próximo tenha pelo menos meu sinal

Já vi que meu irmão

Foi o estonteante senhor da casa

Que até os que o odeiam agora o peçam por pais

Já vi que meu irmão é o vencedor

Já não vou mais viver aqui

Já não sirvo para lhe fazer feliz

Já não quero mais essa cama

Já vi que meu destino está traçado

Minhas salas agora são bueiros

Meus vizinhos ratos

Meus companheiros as baratas

Meus irmãos já até me consideram do clube da cachaça

O que um dia foi taças de vinho

Hoje são garrafas de cachaça de 1 real

O que já foi cama de linho

Hoje um pedaço de papelão já faz o serviço

Já me diziam que a rua era dura

Mas nunca que ela era minha

Que um dia poderia ser ela

Que um dia fazer ia parte dela

Hoje me conheço como João

João da rua 26ª

Que me conheço como derrotado pela vida

Que hoje já não valo mais nada

Depressão PoéticaOnde histórias criam vida. Descubra agora