Capítulo 1

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  "UM"

Atlantic City, Agosto de 2004

Particularmente falando, eu nunca gostei de mudanças.

Eu odiava o fato das circunstâncias mudarem, do tempo passar e das coisas saírem do meu controle. Eu odiava perder o controle.

Muitos gostam de ser surpreendidos, de sentir aquele "friozinho na barriga", mas eu não. Eu não gostava de nada que pudesse me pegar desprevenido, por mais legal e incrível que fosse.

Porém, tudo estava além do meu comando, estava além da minha intervenção, e começou a piorar quando eu tinha dez anos de idade, com uma simples pergunta:

– O que você quer ser quando crescer?

Meu pai estava sentado em minha cama, me colocando para dormir como fazia todas as noites e suas palavras interrogativas me surpreenderam.

Mesmo com dez anos de idade, eu ainda tinha problemas para ficar sozinho na hora de dormir. Não era medo do escuro nem medo de monstros ou fantasmas, o meu medo era de fechar os olhos. No momento em que isso acontecia, uma série de assustadoras cenas se misturavam em minha cabeça, acelerando meus batimentos cardíacos e agravando minha crise de ansiedade, que os médicos diziam estar no Estágio 2, onde toda e qualquer emoção podia me deixar louco.

Os pesadelos me deixavam tão apavorado, que as vezes, quando meu pai se retirava do quarto, eu me sentava lentamente na cama e esperava até ver os raios do sol entrarem pela minha janela.

Dias antes na escola, antes do meu pai me perguntar aquilo, eu havia ouvido a mesma pergunta da minha professora. Um garoto ao meu lado, cheio de sardas no rosto e com uma risada extremamente estranha, chamado Kesley Dinkson respondeu:

– Quando eu crescer quero ser como o meu pai.

Todos os alunos o fitaram, inclusive eu.

Eu também gostaria de ser como o meu pai.

Nossa professora, Srta. Bruwell, lhe lançou um sorriso, aproximou-se dele e disse delicadamente:

– Não querido, você precisa ter seus próprios sonhos. As vezes o que vemos, nem sempre é o que imaginamos.

Observei atentamente a situação. Absorvi aquelas palavras como uma esponja intocável, que jamais poderia perder seu composto.

Nessa época, eu já usava muito o cérebro comparado as outras crianças da minha idade. Estava acima da média em questões intelectuais e mesmo com as crises constantes de ansiedade, eu tirava boas notas e era tão curioso, que tudo me atraía, mas nem tudo me deixava feliz. Eu era uma criança que pensava demais para uma criança. Que sonhava demais para uma criança.

Meu pai esperou uma resposta. Pensei em responder que queria ser como ele quando crescesse, mas não foi o que fiz. Lembrei–me que o que vemos nem sempre é o que imaginamos e que meu pai era o melhor pai do mundo, mas eu precisava ter os meus próprios sonhos. Eu precisava me descobrir.

– Eu ainda não sei. – respondi enquanto ele pousava a mão em minha perna, tentando me fazer dormir.

– Um dia você vai descobrir pequeno Tommy. – ele disse pacientemente.

Meu pai se chamava Andrew Banks, ele era calmo e amável com todos, principalmente comigo. Ele era mecânico e passava o dia inteiro em sua oficina, consertando carros e tentando fazer novos clientes, mesmo não obtendo muito sucesso.

Minha mãe se chamava Anne.

Ela trabalhava como garçonete numa lanchonete num bairro boêmio da cidade. Como papai também trabalhava e eu não podia ficar sozinho em casa, ela me levava. Enquanto ela servia os clientes, eu me sentava no balcão e ficava marcando palavras-cruzadas.

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