Capítulo 3

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 – Não pegue atalhos quando o caminho certo já está preparado. – um locutor com a voz grave disse pelo rádio.

O rádio do meu BMW preto estava precisando de alguns reparos, ele trocava de estação automaticamente, com o movimento na estrada. Eu estava indo para a escola e a história do caminho certo me chamou a atenção. Mesmo tendo ouvido aquilo numa estação cristã.

Pensar em caminho certo era o que eu menos queria, afinal – eu pensava comigo mesmo – quem decidia qual era o caminho certo? Eles? Deus? Talvez não fosse tão fácil assim. A vida é bem mais complicada do que muitos imaginam, ou como papai dizia, nós é que complicamos.

Talvez ele fosse inocente demais para perceber a verdade. Ou talvez, eu fosse burro demais para entender o que ele queria dizer.

A resposta nem sempre precisa de explicações e detalhes, as vezes, ela precisa apenas de uma oportunidade. E essa oportunidade nunca era dada por mim.

A coisa certa a se fazer estava tão distante das minhas mãos. Eu não enxergava uma saída para tanto sofrimento. Me sentia numa prisão, onde os cadeados eram inquebráveis e as chaves estavam escondidas. Ninguém dava nada por mim, nem mesmo eu.

E as pessoas da Station High Jersey, – a escola da burguesia, que mesmo tendo em aula os alunos mais ricos da cidade, ainda aceitavam bolsistas e faziam obras de caridade, – eram meus amigos apenas por interesse. Todos brigavam para se sentar ao lado do garoto riquinho e mulherengo, Tommy Banks. Eles colocavam em mim suas expectativas e buscavam na minha vida um referencial, um referencial de desumanidade e ambição.

– Tommy, festa hoje na casa da Tracy. Tá dentro? – meu amigo Kyle perguntou ao me ver entrar na escola. Ele era alto e forte e passava a maior parte do seu tempo malhando e bebendo.

Antes que eu pudesse responder, meu melhor amigo Billy chegou. Ele nos cumprimentou e ajeitou a mochila nas costas.

– E então Tommy, tá dentro? – Kyle perguntou novamente, estávamos parados no início do corredor, próximos a entrada.

Billy me fitou, provavelmente imaginou sobre o que estávamos conversando. Ele não gostava de festas nem de nada imprudente e passageiro, mas nas últimas semanas me acompanhava em todas. Talvez estivesse me vigiando, sua empatia era formidável.

Deixei Kyle sem resposta por um instante e comecei a andar, ainda decidindo se iria na festa ou não. Costumávamos fazer festas todo fim de semana, chamávamos os universitários da Princeton University e fazíamos nosso "American Pie Particular".

Kyle e Billy me seguiram.

Enquanto caminhávamos pelo corredor, todos nos observavam e muitas garotas nos lançavam sorrisos. Eu retribuía alguns deles e até piscava o olho para algumas das garotas, na verdade para todas.

Billy colocou seus fones de ouvido e ignorou nosso "Momento Especial". Ele era meu amigo desde que Call havia se tornado alguém conhecido e se tornado amigo do seu pai, eles jogavam golfe juntos todos os domingos no Clube Delevery Betee. Billy era diferente do pai, na verdade, era diferente de muitos que eu conhecia ali. Ele era retraído e esperava o melhor das pessoas.

– Que horas? – perguntei a Kyle enquanto abria meu armário e pagava alguns livros.

– Que horas o quê? – ele perguntou enquanto fitava algumas garotas saindo do banheiro feminino.

– A festa. – respondi.

– Ahh! A festa! Nove em ponto, logo após a... Corrida na Arena. – ele sussurrou a última parte e sorriu.

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