No dia seguinte, ao abrir os olhos, me assustei ao perceber que estava num hospital. Meu cabelo estava bagunçado e caía sobre meus olhos. Sentei-me num impulso e busquei alguma resposta nas paredes brancas e tristes daquele lugar. Minha visão ainda estava embaçada. O bipe dos aparelhos era o único som que ecoava lá.
– A bela adormecida acordou? – a voz de Call surgiu no quarto. Me surpreendi ao vê-lo sentado numa cadeira a minha frente, só agora eu conseguia enxerga-lo. Seu tom irônico e sua cara de satisfação me causaram repulsa.
– Como você me encontrou? – perguntei.
– Ligaram daqui do hospital lá para casa ontem a noite. Por sorte sua mãe não acordou, decidi poupa-la da decepção de encontrar seu filho nesse estado. – ele respondeu enquanto cruzava as pernas, demonstrando desdém e felicidade por minha situação.
Call era um sujeito jovem, era branco, alto e magro, ao contrário de muitos proprietarios de lanchonetes por aí. Ele, como mamãe, cultuava o próprio corpo. Sua voz era firme e sempre expressava um duplo sentido, seu caratér era altamente duvidoso.
– Você está adorando isso não é? – perguntei e me deitei novamente na cama, dicidi agir com calma, não queria dar a ele a alegria de me ver arrazado daquela forma. Uma missão quase impossivel.
– Não me julgue tão mal meu querido Tommy. – seu sarcasmo era absurdo. – Os médicos disseram que em dois dias você pode ir para casa. Vou inventar uma desculpa para sua mãe, dizer que você viajou com uns amigos, ou coisa assim, e em dois dias venho te buscar. Use esse tempo para refletir. Por sorte a mídia não teve conhecimento sobre a situação. Use esse tempo também para amadurecer. – ele se levantou e abriu a porta. – Ah, antes que eu me esqueça, sua moto está na garagem lá de casa. Guardei sem que sua mãe visse.
Ele saíu. Sua satisfação era notória e seu falso cuidado também.
Eu só queria me levantar e grudar em seu pescoço, mas imaginei que não conseguiria coordenar bem meus movimentos, uma dor de cabeça se cobria sobre mim.
Algumas horas depois, após a saída de Call, percebi minha mochila encima da cadeira onde ele estava. Provavelmente ele me trouxera algumas roupas.
Passei a mão na roupa de hospital em meu corpo e resolvi que precisava sair dali. Me vesti rápidamente e coloquei minha carteira com meus documentos e alguns poucos doláres no bolso direito do jeans, e no esquerdo pus meu celular.
Abri a porta do quarto, e uma placa dizia: QUARTO 251 – ALA B.
Notei alguns enfermeiros passarem com seus jalecos brancos e então avistei algumas pessoas vestidas com roupas normais. Visitantes, acredito eu. Me infiltrei em seus passos e os acompanhei até entrarem no elevador. Eles me olhavam desconfiados, algo em minha aparência não estava legal. O elevador desceu e ao se abrir no andar de baixo, andei depressa até a saída.
Eram 10:00 da manhã. O sol já estava reluzindo seu brilho nas vidraçãs dos outros prédios que cercavam a rua. Andei por alguns quarterões, meu dinheiro não era suficiente para pagar um taxi.
Depois de uma exaustão me completar, sentei-me num parquinho e fiquei observando algumas crianças brincarem.
Elas subiam e desciam pelos escorregadores. Todas alegres e inocentes, seus pais as acompanhavam. Obviamente lembrei-me do meu.
Olhei meu reflexo no visor do celular e vi o quão desgrenhado eu estava. Cabelo despenteado e olheiras expressivas. Realmente eu estava acabado, agora entendia por que as pessoas no elevador me olhavam de forma tão estranha. Aproveitei que o celular estava em mãos e decidi ligar para Billy vir me busar.
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Fazendo Acontecer
SpiritualTommy é um jovem rico, egocêntrico e cheio de feridas e traumas. Tudo na sua vida ia bem. Muitas festas, muitos amigos, corridas ilegais de moto e pouco amor, mas então algo acontece. Seu pai, que ele não via há 8 anos morre de câncer, deixando para...