Capítulo II

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CAPÍTULO II
Escondi meu rosto entre as mãos, abrindo uma pequena fresta com os dedos para conseguir enxergar a tela à minha frente, só para me arrepender amargamente.
— Meu Deus! — soltei em horror, tampando a boca com a mão sob o olhar acusador de Javier por fazer tanto barulho numa sala de cinema. — O que é? — cochichei de volta para ele. — É um filme de terror, será que não tenho o direito de ficar assustada?
— Sim, mas só nas horas certas. Agora não é o momento de gritar.
— Achei que eu pudesse decidir quando vou me assustar.
— Não, pra isso servem os diretores do filme. Não seja uma mulherzinha, fica quieta, eu quero escutar.
Ele levou uma mão cheia de pipocas à boca, e eu o olhei, incrédula, tirando o celular do bolso e respondendo às mensagens pendentes em vez de prestar atenção ao filme. E daí que eu estivesse sendo uma mulherzinha? Eu era uma mulher, era direito meu ser uma mulherzinha.
Ainda assim, decidi não discutir com Javier sobre isso. O namoro dele tinha ido para o ralo e eu concordei em sair com ele para que tivesse alguma distração. Eu tinha imaginado que ele não chegaria nem perto de um filme de romance, mas pensei que talvez comédia fosse uma opção. Bem, eu estava errada.
— Se você veio pra ficar trocando mensagens com o seu namorado poderia ter ficado em casa — ele murmurou ao meu lado, inclinando-se em minha direção sem jamais tirar os olhos da tela.
— Ele não é meu namorado! — apressei-me em negar. — Nós só saímos juntos algumas vezes.
— Quase todos os dias — Javier corrigiu.
Não respondi àquilo, porque era mesmo verdade. Não a parte de Will ser meu namorado, claro, mas a parte de estarmos saindo juntos praticamente todos os dias. Mas sempre que nos encontrávamos surgia a ideia de fazer algo novo e divertido numa próxima oportunidade, então nós acabávamos marcando. Não era proposital, meio que estava acontecendo e fugindo do nosso controle.
Eu entendia o motivo de Javier achar que estava acontecendo algo mais entre mim e Will, especialmente quando o próprio Will demonstrou pensar o mesmo quando decidiu me beijar. Mas então eu o afastei, dizendo não me sentir pronta depois do meu último relacionamento e resolvi ir embora.
Quando contei o que tinha feito a Christine ela mal pôde acreditar, e então tivemos uma daquelas conversas onde só ela fala e eu escuto, me chutando mentalmente por não esconder as coisas dela. Chris gritou coisas como “acha que ele vai voltar a te procurar depois disso?”, “qual é o seu problema, Linda?”, “era só um beijo, ele não pediu sua mão em casamento!”. Eu sabia que no fundo ela tinha razão, e foi por isso que, no dia seguinte, eu mesma tomei a iniciativa de ligar para Will e convidá-lo para fazer alguma coisa legal.
Nós continuamos saindo, nosso quase beijo foi esquecido e Christine até estava orgulhosa por eu ter tomado a iniciativa de chamar um cara para sair.
***
— Você é mesmo incrível, Mel. Espero que saiba disso.
Mesmo estando acostumada a ele, sabendo que ser educado e lisonjeiro era parte dele, era inevitável corar a cada vez que Will dizia esse tipo de coisa.
Sentada no bar de uma danceteria nova que ele me levou para conhecer, eu sorvi um gole do meu drinque, tentando ganhar tempo para encontrar algo elaborado que pudesse dizer. Quando olhei para Will, a intensidade do olhar dele me pegou desprevenida, e o que quer que eu estivesse prestes a articular foi esquecido quando ele pegou uma de minhas mãos e depositou um beijo cálido sobre o dorso.
Engoli em seco, um sorriso nervoso nos lábios quando ele riu para mim, um gesto sexy e convidativo ao qual eu não sabia bem como reagir. O rosto dele se aproximava devagar, meio hesitante, como se testasse a minha reação. Não era a primeira vez que ele fazia aquilo, mas agora o gesto possuía uma calma deliberada e ele sondava minha expressão atentamente. O hálito dele bateu contra meu rosto e cheirava a vodca. Era diferente e bom ao mesmo tempo, mas ainda assim, virei o rosto timidamente, me esquivando do contato, meio sem jeito.
— Desculpe — balbuciei, porque queria que ele soubesse que realmente sentia muito por não poder seguir com aquilo.
— Você não está pronta? — ele quis saber, afinal, foi como eu o afastei da outra vez, dizendo não me sentir pronta.
— É só que... eu não esperava por isso — deixei escapar num riso nervoso.
— Como não? Eu já tentei antes, Mel, e te enviei sinais a noite inteira de que era isso que eu queria.
E eu não duvidada que ele pudesse mesmo ter feito isso. Porém, eu não era boa lendo esse tipo de sinais.
— Desculpe — tornei a dizer, na falta de algo melhor. — É só... ainda é muito recente.
Não precisei ser mais articulada. Ele sabia do que estava falando e eu também não queria ir a fundo naquele assunto.
— Eu não acho — retorquiu, e seu tom de voz era tão casual que era quase como se estivesse falando algo sobre sua bebida. — Acho que você só está com medo de se envolver com alguém.
— Não — neguei mais que depressa, porque aquilo não era verdade. Eu não queria que fosse. — Não se trata disso, é que...
— Estou mesmo a fim de você, Mel — ele me cortou. — E, honestamente, acho que você devia me dar uma chance.
A expressão dele era séria, mas então se suavizou num sorriso, e eu espelhei seu gesto, mesmo que as bochechas ainda estivessem rubras pelo constrangimento.
— Eu tive um relacionamento bem complicado, Will. Você sabe. Não quero que algo assim aconteça de novo.
— Seu ex foi mesmo muito estúpido por deixar você escapar, Mel.
Bufei para ele, cética, tentando sufocar aquele sentimento estranho que me assolava todas as vezes em que alguém se referia a Robert como meu ex.
— Ele discordaria de você — retorqui. — Ele me perdeu de propósito, Will, não foi sem querer.
— Então esse cara não te merecia.
— É — considerei, num leve aceno. — Foi o que me disseram.
— E o que você acha?
A pergunta me pegou de surpresa, bem como o olhar perscrutador que Will me lançou. Minha boca se abriu, mas na falta de algo coerente que eu pudesse dizer, acabei ocupando-a com um novo gole da minha bebida, ganhando alguns segundos extras.
— Acho que se não fazíamos bem ao outro, então é melhor que não estejamos juntos — articulei, por fim.
— Mas você ainda está apaixonada por ele?
— Não — respondi de pronto, sem ao menos me dar o trabalho de pensar. Eu não pensava sobre essas coisas, exceto quando Christine me obrigava, mas aquela resposta era a única que eu podia dar.
Will não pareceu se importar com a forma como respondi no ímpeto. Ele apenas acenou em concordância.
— Sabe o que acho? — perguntou, casualmente. — Que você está pronta, sim, só está com medo.
— Medo de quê? — Franzi as sobrancelhas.
Então Will se inclinou de novo em minha direção, seu rosto tão perto que eu podia sentir seu hálito batendo contra a minha boca. Contudo, o modo como ele me olhava tornou impossível que eu desviasse o olhar. Eu me perdi, por um momento ou dois, na firmeza e na sinceridade que eu via estampadas nos olhos dele.
— De deixar alguém entrar e terminar machucada como da última vez.
— Eu te trouxe pra minha vida, esqueceu? — perguntei, tentando empregar alguma leveza à minha voz. Sem muito sucesso. — Não tenho medo de deixar as pessoas entrarem.
— Mas tem medo de se apaixonar — retorquiu, e dessa vez eu não tinha mesmo argumentos. Eu só me apaixonei uma única vez na vida, e as coisas não terminaram nada bem. Eu fui ao inferno e voltei, não queria ir até lá de novo, a experiência já foi o bastante por uma vida. — Só que — ele retomou, seus dedos tocando meu rosto numa carícia tão suave e cálida que era até mesmo desconcertante — se você se apaixonar por mim, eu prometo não te desapontar.
Aquele era um bom momento para afastá-lo e dizer que não, não iria acontecer, porque eu simplesmente não conseguia. Não era mentira, eu bem sabia, no entanto, nada me saiu pelos lábios. Apenas minha respiração ruidosamente trêmula.
Os dedos de Will massagearam minha boca devagar, numa calma sem precedentes, e esse foi o único instante em que seus olhos se desviaram dos meus, para encarar meus lábios entreabertos.
Eu me lembrava de ter feito uma promessa para mim mesma, de que iria me apaixonar de verdade e ser feliz. Genuinamente feliz, como nunca antes experimentei ser. E olhando para Will, para o modo enternecido como ele me olhava, pensei que talvez houvesse mesmo um jeito de fazer isso funcionar.
— E como faço isso? — perguntei baixinho, num fio de voz.
— Isso o quê? — Will devolveu a pergunta, espelhando meu tom.
— Como me apaixono por você?
Talvez soasse ridículo articular algo assim, porém eu queria mesmo saber. Não me sentia pronta, mas talvez jamais fosse me sentir, por isso, se Will guiasse o caminho, eu estava disposta a seguir por ele.
Seus lábios moldaram um sorriso enorme e encantador. A mão em meu rosto escorregou até minha nuca e, por longos segundos, achei que ele tivesse mudado de ideia, reconsiderado. Fechei os olhos, exalando o ar com um pouco mais de força, incerta sobre o que viria a seguir, recebendo em meus lábios, logo em seguida, a respiração dele.
Eu queria abrir os olhos e analisar sua expressão, talvez medir através de seu olhar o que estava se passando em sua cabeça, mas a pressão da boca macia contra a minha me impediu. O toque me pegou desprevenida, mesmo que já estivesse esperando por ele. Foi um contato longo, demorado, mas nenhum dos dois moveu um único músculo.
Will se afastou, encarando-me, e eu fiz o mesmo. Ele parecia procurar por algo em meu rosto, e tendo ou não encontrado, trouxe os lábios de encontro aos meus novamente, com bem menos calma, bem mais desejo exalando de seus poros.
Receber a língua dele em minha boca foi diferente, e eu me surpreendi por achar o contato tão simples e descomplicado. Simplesmente tão bom.


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Oieeeee!
Gente, o capítulo era pra ter saído no domingo, mas me enrolei aqui, porque estava viajando e meus horários estavam loucos.
Cheguei ontem, mas já tarde, então vim trazer capítulo pra vocês. Hehehehe
Obrigada pelo apoio! Vocês são lindas. ❤❤❤

Doce Amargo - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora