Capítulo II - PENAS E GOZOS FUTUROS

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I - O NADA - A VIDA FUTURA

958. Por que o homem repele instintivamente o nada?

- Porque o nada não existe.

959. De onde vem para o homem o sentimento instintivo da vida futura?

- Já o dissemos: antes da encarnação o Espírito conhece todas essas coisas, e a alma guarda uma vaga lembrança do que sabe e do que viu no estado espiritual. (Ver item 393).

Em todos os tempos, o homem se preocupou com o futuro de além-túmulo, o que é muito natural. Qualquer que seja a importância dada à vida presente, ele não pode deixar de considerar quanto é curta e sobretudo precária, pois pode ser interrompida a cada instante e jamais ele se acha seguro do dia de amanhã. Em que se tornará depois do instante fatal? A pergunta é grave, pois não se trata de alguns anos mas da eternidade. Aquele que deve passar longos anos num país estrangeiro se preocupa com a situação em que se encontrará no mesmo. Como não nos preocuparmos com a que teremos ao deixar este mundo, desde que o será para sempre?

A ideia do nada tem algo que repugna à razão. O homem mais despreocupado nesta vida, chegado o momento supremo, pergunta a si mesmo o que será feito dele e involuntariamente fica na expectativa.

Crer em Deus sem admitir a vida futura seria um contra-senso. O sentimento de uma existência melhor está no foro íntimo de todos os homens e Deus não o pôs ali em vão.

A vida futura implica a conservação da nossa individualidade após a morte. Que nos importaria sobreviver ao corpo, se a nossa essência moral tivesse de perder-se no oceano do infinito? As consequências disso para nós seriam as mesmas do nada.


II - INTUIÇÃO DAS PENAS E DOS GOZOS FUTUROS

960. De onde procede a crença, que se encontra em todos os povos, nas penas e recompensas futuras?

- E sempre a mesma coisa: pressentimento da realidade, dado ao homem pelo seu Espírito. Porque, ficai sabendo, não é em vão que uma voz interior vos fala e vosso mal está em não escutá-la sempre. Se pensásseis bem nisso, com a devida frequência, vos tornaríeis melhores.

961. No momento da morte, qual o sentimento que domina a maioria dos homens: a dúvida, o medo ou a esperança?

- A dúvida para os céticos endurecidos; o medo para os culpados; a esperança para os homens de bem.

962. Por que há céticos, desde que a alma traz para o homem o sentimento das coisas espirituais?

- São em menor número do que supondes. Muitos se fazem de espírito forte durante esta vida por orgulho, mas no momento da morte não se conservam tão fanfarrões.

A consequência da vida futura se traduz na responsabilidade dos nossos atos. A razão e a justiça nos dizem que, na distribuição da felicidade a que todos os homens aspiram, os bons e os maus não poderiam ser confundidos. Deus não pode querer que uns gozem dos bens sem trabalho e outros só o alcancem com esforço e perseverança.

A ideia que Deus nos dá de sua justiça e de sua bondade, pela sabedoria de suas leis, não nos permite crer que o justo e o mau estejam aos seus olhos no mesmo plano, nem duvidar de que não recebam, algum dia, um a recompensa e outro o castigo pelo bem e pelo mal que tiverem feito. É por isso que o sentimento inato da justiça nos dá a intuição das penas e das recompensas futuras.

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