Prólogo

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Colisão entre carro e caminhonete deixa um morto e dois feridos.

O acidente, ocorrido nesta noite (22/04) na rodovia US-101 W que liga Port Angeles a Port Townsend, envolvendo Noah Jones (20), filho dos empresários Vincent e Audrey Jones, e uma caminhonete com a placa de Sequim terminou em tragédia. O filho do casal de empresários apresentou ferimentos graves e não conseguiu resistir, morrendo no local do acidente antes mesmo do socorro chegar.

Os outros dois homens que estavam na caminhonete também sofreram ferimentos graves e foram encaminhados para a emergência do Olympic Medical Center, em Port Angeles, e estão sob observação até o presente momento. Testemunhas contam que o acidente aconteceu após a caminhonete realizar uma ultrapassagem arriscada, o que causou a colisão frontal entre os dois veículos.

Vincent e Audrey contam com os amigos e familiares para a cerimônia fúnebre que será realizada amanhã (23/04) no cemitério municipal, às nove horas da manhã, em memória de Noah Jones.

Já fazia quase duas horas que meus pais receberam uma ligação desesperada de Vincent e vieram até o meu quarto dizer que "sentiam muito" e me abraçar de um modo que me fez sentir medo antes mesmo deles me contarem o que tinha acontecido. Já fazia quase duas horas que meu celular não parava de tocar e apitar depois de receber inúmeras mensagens e ligações que eu não queria ler ou atender. Já fazia quase duas horas que eu estava encarando aquela notícia que havia saído no jornal local de Port Angeles, com o estômago embrulhado e lágrimas que pareciam brotar dos meus olhos cada vez que eu piscava. Já fazia mais de duas horas que Noah Jones, meu namorado há dois anos e melhor amigo há muito mais que isso, havia morrido.

Morrido. Essa palavra me causava um nó no estômago, no peito, na garganta, que eu nunca havia sequer experimentado antes. Depois que meus pais me contaram o que havia acontecido, meu ouvido pareceu não sintonizar mais, como se eu simplesmente estivesse saído de estação como as rádios costumam fazer e eu me senti assim por semanas: fora do ar.

Eu fui ao funeral de Noah, tive que ouvir as condolências de pessoas que nunca tinha visto antes, tive que falar com os pais dele e encarar os olhares de pena que meus amigos me lançavam, mas nada disso me incomodou, porque eu não estava realmente naquele lugar. Minha cabeça estava em outro universo, em um universo em que Noah ainda estava vivo e nada daquilo que estava acontecendo fazia sentido, tanto que eu nem havia chorado nos dias que se seguiram a notícia da morte dele.

Um mês se passou e eu ainda tentava digerir o que havia acontecido. Os pais de Noah haviam ido embora de Port Angeles e até me presentearam com algumas coisas dele (fotos, roupas e os LP's que ele costumava colecionar), que eu guardei na parte mais alta do meu guarda-roupa para não ter que encarar. Minha irmã trancou a faculdade de Medicina temporariamente e voltou a morar na casa dos meus pais para me dar suporte, meus pais praticamente tiraram férias do trabalho e Autumn me visitava quase que diariamente, nem que fosse só pra ficar em um monólogo, já que eu não participava do que eram pra ser conversas que ela tanto se esforçava para criar.

Até que a ficha caiu. Um mês e meio depois, a ficha finalmente caiu e eu desabei. Chorei de soluçar praticamente um dia inteiro e, finalmente, tive coragem de pegar as coisas dele que eu havia guardado no armário, responder todos os e-mails e recados de condolência que as pessoas haviam me mandado via Facebook e, o mais difícil, aceitar o que havia acontecido. Naquele mesmo dia, liguei para Autumn que até se assustou, já que ela estava voltando a ouvir minha voz sem ser num tom robótico e ensaiado, depois de quase dois meses. Eu estava chorando desesperadamente quando liguei para ela, mas, ainda assim, ela pareceu aliviada por se dar conta de que eu tinha finalmente saído do transe em que eu estava.

Ela foi até a minha casa e me deixou chorar no seu colo por horas, sem dizer uma palavra sequer e, quando eu finalmente consegui parar de chorar, ela me abraçou forte e sussurrou um "Senti sua falta, Heather". Assim como ela, eu também estava sentindo falta da Heather que eu sempre fui. Por isso, eu decidi que precisava retomar minha vida.

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