08 ~ Ethan

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Mr. Clark era um velhinho bem fofinho, isso não havíamos como discutir, mas o que estava realmente fora de discussão era o quanto a aula dele estava sendo chata naquele dia – e olha que eu estava me esforçando para prestar atenção. Tudo bem que, em alguns momentos, tentei distrair a Heather lhe mandando alguns bilhetes com frases nada importantes para o momento, mas eu simplesmente precisava compartilhar a minha frustração com alguém – assim como precisava que a Young calasse a boca e não fizesse mais nenhuma pergunta nesses precisos últimos dois minutos de aula.

Quando Mr. Clark nos liberou, simplesmente voei em direção ao corredor, arrancando uma gargalhada engraçada da Heather dentro da sala, ainda terminando de guardar as suas anotações. Eu já estava revirando os olhos quando Young resolveu parar a minha amiga no meio do caminho, mas me senti extremamente indelicado ao perceber que ela estava entregando as anotações das aulas passadas à Heather:

– Young é tão fofa! – comentou Heather assim que me encontrou no corredor.

– Seus olhinhos puxados e sua inteligência são realmente um charme, mas ela deveria deixar de fazer tantas perguntas durante as aulas. – comentei impaciente e dividindo com Heather parte dos livros que ela carregava.

– Você não acha que ela e o Martin formariam um belo casal? – Heather disse com um sorriso no rosto e eu discordei de imediato.

– Duvido muito que eles tenham tempo para outra coisa que não seja estudar. – respondi e ela deu um tapa delicado no meu ombro em repreensão ao meu comentário.

Eu não estava sendo rude, apenas estava sendo realista. Se Heather não se lembrava, eu era o melhor amigo do maior nerd da Port Angeles's Institute, vulgo Thomas, e ele já havia se mostrado péssimo na arte da conquista em diversos momentos. Eu até poderia estar errado quanto a Young e Martin, mas, infelizmente, Thomas não me deu a chance de desfazer esse meu pensamento acerca de pessoas com QI acima da média.

Caminhamos pelo refeitório lotado do Western University of Washington Extended Education, tentando achar alguma mesa livre e numa região silenciosa o suficiente para conversamos um pouco acerca do seminário que se aproximava.

– Essas pessoas ainda não encontraram outro lugar para ficar nessa universidade? – perguntei quando finalmente achamos uma mesa isolada do aglomerado de gente.

– Ethan, já está quase na hora do almoço. Você realmente esperava que isso aqui tivesse vazio? – ela me perguntou e eu dei de ombros, abrindo o meu caderno para iniciar algumas anotações.

– Tudo bem, mas eles poderiam falar um pouco mais baixo, não acha? – perguntei enquanto anotava a data no espaço reservado para isso na folha do caderno.

– É para isso que existem as bibliotecas e foi por isso também que dei a sugestão de irmos para lá. – comentou e eu analisei o que ela havia dito. Até que fazia sentido.

Depois de um tempo, finalmente conseguimos nos concentrar e ter algumas ideias para o seminário. O tema que havíamos escolhido, Neuropsicologia Infantil, era totalmente familiar para mim por ter uma irmã diagnosticada com Síndrome de Asperger e, embora eu achasse difícil que Heather tivesse tido um contato tão profundo quanto eu, ela se mostrava bastante por dentro do assunto e interessada em saber mais.

Decidimos que o autismo, a dislexia e o TDAH seriam os eixos principais da nossa apresentação e combinamos que visitaríamos alguns grupos de terapia infantil para descobrimos ainda mais sobre o assunto. Heather se disponibilizou em escrever o relatório, enquanto que eu me arriscaria nas filmagens feitas durante as visitas e Autumn ou Thomas nos ajudaria na edição do vídeo, já que Autumn estudava Fotografia e Thomas era ótimo em tecnologia – e em matemática, português, geografia... Enfim, um nerd.

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