04 ~ Ethan

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Embora eu não tivesse tido aula naquele dia, o mesmo havia sido bastante cansativo. Além de acordar cedo para levar Hope à aula, tive que ajudar a mamãe no caixa do restaurante. O movimento de clientes naquele dia estava intenso, fazendo com que eu só tivesse tempo de sair para buscar a Hope no colégio quando já era bem próximo da hora do almoço.

Almoçamos pelo restaurante mesmo e fomos para casa o mais rápido possível, porque Hope não parou de reclamar um segundo sequer do assunto ensinado na aula de matemática, insistindo para que eu a ajudasse com as tarefas de casa – mesmo que eu não fosse lá um dos melhores alunos na matéria. Para completar a minha jornada do dia, Heather apareceu em casa mais cedo do que eu esperava, iniciando a sua maratona de esclarecimento de dúvidas.

Eu não estava reclamando daquele dia, até porque, eu gostava de dias atarefados e que fizessem com que eu me sentisse útil. Acontece que ser submetido aos questionamentos do Thomas àquela hora da noite, numa visita inesperada e totalmente invasiva, me fazia questionar porque a nossa amizade excedia os limites da individualidade:

– Você não pode me culpar por não ter me dito a verdade! – exclamou assim que eu me joguei na cama, claramente vencido pela insistência do meu amigo.

– O que você quer saber? – perguntei, enfiando meu rosto no travesseiro, deixando a minha voz abafada.

– Se ainda somos amigos. – declarou e eu gargalhei sem entender a resposta. Ele revirou os olhos em sinal de impaciência.

– Claro que somos, Thom. – agora eu já estava sentado, tentando entender o rumo que a conversa estava tomando.

– Então, por que não me diz a verdade e conta logo de uma vez que vocês se beijaram? – cruzou os braços e eu bufei impaciente. – Acha que eu sou tão inocente ao ponto de acreditar que aquela tarde de estudou se resumiu a teorias que criaram para explicar a mente humana? – perguntou erguendo uma das sobrancelhas.

Era a milésima vez, somente naquela noite – sim, porque eu já havia esclarecido as coisas no próprio dia, quando ele me ligou desesperado por novidades - que eu deixava claro que não havia acontecido nada entre Aimee e eu, mas, por algum motivo desconhecido, Thomas não se dava por satisfeito com a minha resposta. Aparentemente, meu amigo achava um completo absurdo que eu não tivesse nada com a garota.

– Cara, se vocês não se beijaram, ao menos rolou alguma coisa. Disso eu tenho certeza! – sentou-se na cadeira, esperando por alguma reação minha, mas a única coisa que o meu amigo conseguiu de mim foi um sorriso carregado de segundas intenções. – Ethan Carter, a sua cara de bonzinho não me engana desde o high school! – me deu uma tapa no ombro e eu gargalhei.

Thomas Thompson estava certo: aquele tarde, diferente da minha com a Heather, não se resumiu ao esclarecimento de dúvidas. Eu não menti quando disse que não nos beijamos, mas podemos considerar que nossa amizade estava se tornando cada vez mais – digamos – intensa e, por mais que eu soubesse que não deveria deixar que as coisas tomassem o rumo que estavam tomando, o que eu poderia fazer? Eu era homem! E Aimee Sandler parecia, cada vez mais, atestar essa característica em mim.

Não posso ser injusto e dizer que Aimee não estava interessada nos meus conhecimentos sobre Psicologia Experimental. De fato, ela estava interessada, até porque, Aimee era bastante estudiosa e conseguia beirar a neurose tratando-se desse assunto em alguns momentos, mas eu não posso negar que, em determinado momento da tarde, nomes como Wundt e Titchener tornaram-se desinteressantes para a ruiva.

– Ethan, - ela me chamou e percebi que tinha os olhos verdes cansados – podemos parar um pouco? Sinto que é muita informação para ser assimilada de uma vez só. – pediu, relaxando o corpo na poltrona em que estava sentada e soltando a caneta que segurava para cortar as dúvidas que já foram esclarecidas da sua Lista de Dúvidas, como ela mesma denominou. Não demorou a que encostasse a cabeça na mesa.

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