Depois de deixar Heather, passei rapidinho em casa, apenas para pegar um casaco para mim e outro para Hope, que eu iria buscar dali alguns minutos no terapeuta. Minha irmã havia sido diagnosticada com Autismo quando completou três anos de idade e isso influenciou muito na minha escolha profissional. Eu sempre tive uma grande aptidão para cozinhar e, por isso, já estava praticamente certo de que Gastronomia era o curso que eu gostaria de fazer, mas, depois de um tempo, passei a tentar entender pelo o que Hope passava e decidi fazer Psicologia para tentar ajudar não apenas ela, mas todas as outras pessoas que possuem o Autismo.Dez minutos depois, eu estava em frente à terapeuta que Hope frequentava. Ela estava me esperando na calçada do consultório, estalando os dedos de forma repetitiva e seu rosto se iluminou quando percebeu que eu havia chegado. Assim que ela entrou, lhe entreguei seu casaco e esperei que ela o vestisse para que eu pudesse dar partida.
– Como foi a terapia hoje? – perguntei. Hope estava tão acostumada a ir ao terapeuta que para ela não era nada constrangedor que as pessoas soubessem ou perguntassem sobre.
– A mesma coisa de sempre, pra falar a verdade. – disse com os olhos azuis presos no trânsito. Ela não gostava muito de estar dentro de um carro e já havia tido até mesmo algumas crises dentro de automóveis quando era mais nova, por isso, eu tentava distraí-la o máximo possível nessas horas. – E a faculdade?
– A mesma coisa de sempre, pra falar a verdade. – repeti o que ela disse e ela me encarou com as sobrancelhas erguidas, me fazendo rir um pouco.
– Acho que você está mentindo. – disse, me deixando confuso. – Heather estava com você hoje no restaurante, então ela provavelmente voltou a ir à aula. Ou seja, não foi a mesma coisa de sempre. – falou com convicção e me deixando meio surpreso por sua observação.
– Você tem razão, Hope. – sorri de lado.
– E ela está bem? – perguntou, parecendo realmente interessada na resposta.
Não respondi de imediato, porque eu não sabia se Heather estava realmente bem. Dava para perceber que ela estava tentando, com todas as forças que tinha, fazer sua vida voltar a caminhar ao voltar para a faculdade, mas ela não estava exatamente feliz como costumava ser antes de tudo acontecer. Na verdade, nem eu, nem Thomas, Tyler ou Autumn estávamos, mas era ainda mais complicado para ela.
– Ela vai ficar. – garanti à minha irmã, que assentiu, parecendo satisfeita com a minha resposta.
Desde que papai havia falecido, eu acabei adquirindo boa parte das responsabilidades da casa. Não que a mamãe houvesse me encarregado de tais afazeres, muito pelo contrário, acontece que era o meu velho era o suporte da nossa família, em todos os sentidos. Era ele quem ia ao supermercado fazer as compras para a nossa casa e para o restaurante, que levava a Hope no colégio e nas aulas de pintura e que sempre arranjava um tempo para cobrir o turno da mamãe quando ela tinha que se encontrar com as amigas ou ir ao salão de beleza. "Pobre de um homem que não tem uma mulher como você, querida", era o que ele sempre repetia quando mamãe dizia que não era necessário substituí-la no restaurante.
Papai era, sobretudo, o meu suporte, o melhor amigo que qualquer garoto ou homem poderia ter. Ele me compreendia como ninguém conseguia compreender e, mesmo que eu tentasse disfarçar um aborrecimento e dissesse que nada havia acontecido, ele sempre arrancava a verdade de mim. "Não minta para o seu velho, Ethan Carter", era o que ele sempre dizia tentando soar rude, missão praticamente impossível para alguém tão doce como Oliver Carter.
Hope parecia impaciente ao meu lado e só então me dei conta que passei muito tempo preso em meus próprios pensamentos, deixando a minha irmã levemente entediada:
VOCÊ ESTÁ LENDO
Unexpected
RomanceEra necessário recomeçar e Heather sabia disso. Por mais difíceis que fossem os seus dias sem Noah, o grande amor da sua vida, ela precisava ser forte e voltar a encarar a vida. Heather só não esperava se aproximar de alguém que se tornaria tão espe...