Unexpected

11 ~ Heather

– Que saudade! - foi assim que Autumn me recebeu, me esmagando em seus braços assim que adentrei em sua casa.

Minha amiga se afastou para me encarar com os olhinhos azuis brilhando e deu um sorriso bobo quando eu revirei os olhos para toda aquela demonstração de afeto. Essa era a Autumn que eu conhecia. Essa era a Autumn que eu amava. Não demorou a enlaçar nosso braços e me puxar casa adentro, pouco se importando com a mochila pesada que eu trazia nas costas.

Autumn parecia extasiada ao me ver naquela sala e vê-la dessa maneira me aqueceu por dentro. Foram raras as vezes que Autumn e eu nos encontramos em sua casa. Na maior parte das vezes, os encontros das meninas, como ela gostava de chamar, aconteciam na minha casa, com a presença da Valerie para reclamar das nossas escolhas de filmes. Minha irmã não era muito romântica e isso só piorou depois da sua última desilusão amorosa, então era por esses e outros motivos que eu havia me surpreendido com a sua declaração dias atrás. De qualquer forma, eu só esperava que esse novo rapaz a fizesse feliz.

Voltando ao assunto, o fato é que Autumn era filha única e morava sozinha com a Olívia, sua mãe, desde os seus oito anos de idade quando Joseph, seu pai, - se é que podemos chamá-lo assim - resolveu abandonar as duas. Logo quando nos conhecemos, eu não entendia o motivo de Autumn nunca citar o nome do pai ou me convidar para ir à sua casa, mesmo quando já éramos íntimas o suficiente. Foi só quando ela se apaixonou pelo Tyler e me explicou toda a história que eu entendi que agir daquela forma era uma espécie de defesa da minha amiga, sempre tentando se envolver o mínimo possível com as pessoas por medo de elas a abandonarem, como Joseph havia feito.

Demorou para Autumn desconstruir essa barreira e era por esse motivo que eu me sentia tão feliz em perceber que ela havia aberto não só a sua casa, mas o seu coração para que a sua vida voltasse a acontecer. Tyler era um dos grandes responsáveis por essa conquista e eu sabia que aquele brilho nos olhos da Autumn também tinha a contribuição dele. Foi por isso que não me surpreendi ao vê-lo esparramado no sofá da sala dela, totalmente à vontade e em casa:

– Boa noite para você também, lindinha. - disse ao me ver, sentando-se em um dos extremos do sofá para me dar espaço.

– Eu achei que a noite era das meninas. - comentei provocativa e ele revirou os olhos. Autumn já estava sentada em uma das suas pernas e depositou um beijo em sua bochecha, desculpando-se pelo riso contido que deu após o meu comentário.

– Eu já estou de saída, se isso for do seu interesse, senhorita McCurtie. - respondeu levemente ofendido e eu não pude deixar de sorrir.

– Você sabe que eu amo você, Ty, mas amo mais ainda vocês dois assim, juntinhos. - falei e eles trocaram um olhar cúmplice, sorrindo largo um para o outro.

Eu até tentava não lembrar do Noah nesses momentos amorosos, mas era extremamente impossível. Cenas daquele tipo entre Autumn e Tyler eram tão comuns quando estávamos juntos que, por alguns segundos, eu tive certeza que Noah aparecia naquela sala, zoando o Tyler por ter perdido mais uma partida do FIFA Soccer no vídeo game.

Havia sido assim na nossa última viagem juntos. Tyler nos arrastou para casa dos seus avós em Santa Mônica, na Califórnia e ficamos naquele pedacinho de terra incrível por uma semana. Como de costume, Tyler e Noah se provocaram durante toda a viagem e eu posso afirmar que, ainda que a troca de afeto entre os dois chegasse a ser nojento em alguns momentos, - Autumn era ainda mais impaciente - a viagem sem eles não teria sido a mesma.

– Você só pode estar me zoando, Noah! - Tyler esbravejou, fazendo todas as pessoas sentadas nas outras mesas nos olharem assustadas.

– Sua mãe não te deu educação, garoto? Dá pra falar baixo? - Autumn sussurrou, irritada com o tom exageradamente alto do namorado. Ele passou os braços em seus ombros e a envolveu num abraço de desculpas.