Borboletas no estômago

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Quando vi seu rosto meu coração disparou. Era Doug na minha frente. Me impedindo de um suicídio.
Mas como ele sabia? Como ele sabia que eu iria me suicidar ?

- Me solta - digo me soltando de seus braços.

- Não gosto de te ver triste - ele diz calmamente.

- Você nunca me viu triste. - digo

- Eu só te vejo triste, Emma - ele diz com sua voz tranquila. E seu rosto sem expressão.

- Está vendo só ? Eu ia tirar essa tristeza de mim, você não precisaria mais me ver triste. Eu já ia acabar com essa droga de vida... E você estragou tudo. - digo aumentando o tom de voz.

- Tudo parece que está desabando, tudo está escuro. Mas calma, sua hora de ser feliz vai chegar. Nada é pra sempre, nem a sua tristeza! - ele diz passando suavemente suas mãos geladas pela maçã de meu rosto.

Ele me olha fixamente. E então percebo o quanto ele é bonito, percebo os seus mínimos detalhes. E então aquele choque volta, e eu não quero ficar apenas olhando para Doug. Eu quero mais.

Tiro a mão dele de meu rosto. E as borboletas do meu estômago morrem, e minha expressão muda.

- Você está certo. Nada é pra sempre. Nem a minha vida - digo e saio rapidamente de perto dele.

Não sei o que me deu. Não sei por que sai de perto de Doug, foi do nada, foi rápido. E aconteceu e não tem como voltar atrás.

Já estou de volta ao Centro Psiquiátrico, John Kelst.
Subo até o quarto andar onde fica o meu quarto.
Ando tranquilamente pelo corredor, até que sinto uma mão tocar o meu ombro, olho para trás e me deparo com Doug.

- Você tem algum problema comigo, só pode. Por que você vive me seguindo ? - digo irritada. Não aguento ser seguida, e muito menos encarada.
- Por que eu te amo - ele diz sem expressão.
- Você deve estar louco... Ops você é Louco. - digo sarcásticamente.
- Eu te amo. - ele repete.
- O amor é uma palavra usada muitas vezes, e muitas vezes cedo demais. E você não me ama. - digo.
- Talvez eu não te ame - ele diz.
- Tá - viro de costas e continuo o meu caminho.
Ele puxa meu braço novamente, e eu olho para ele.

- Quero te mostrar uma coisa. - ele diz me puxando pelo braço e me levando para o terraço.

É lindo, da pra ver a cidade toda daqui. Tem alguns vasos de flores espalhados. E um cheiro de liberdade.

- Eu venho aqui para conversar. - ele diz olhando a vista.
- Com quem ? - pergunto
- Eu não sei, depende do dia... As vezes com Billy e outras vezes com Morgan.
- Quem são ? - pergunto curiosa.
- Eu não sei, eles aparecem para me contar sobre você. - ele diz me deixando assustada.
- E o que eles falam sobre mim ?
- Que há algo frio e vazio por trás do seu sorriso. - ele diz desviando os olhos da paisagem e os pousando em meus olhos. - É estranho... Uma pessoa que sorri todos os dias ser uma pessoa triste.
- Sabe Doug. Seus amigos sabem mas de mim do que eu mesma. - digo
- Eles sabem de muita coisa. - ele diz

Doug é esquizofrênico. Sei que esses tal de Billy e Morgan são frutos de sua imaginação.

Ele toca meu rosto, e fita seus olhos nos meus. Ele da um sorriso fofo sem mostrar os dentes e aproxima seus lábios dos meus. Antes que nossos lábios se toquem consigo sentir o gosto do seu hálito. Uma mistura de cigarro com menta.

Nossos lábios se tocam e nossas línguas entram uma na boca do outro. Beijando em perfeita harmonia.

Eu saio de órbita. Estou flutuando. As borboletas de meus estômago parecem voar, e pela primeira vez na vida me sinto viva. Antes eu só existia. Agora eu estava realmente vivendo

- Sempre quis beijar uma garota - ele diz assim que nos afastamos para respirar.
- Você beijava garotos ? - pergunto
- Eu nunca beijei ninguém... Até por que eu estou neste lugar a 8 anos.
- E você gostou do beijo ? - pergunto.
- Não! Detestei. Me arrependo de ter trazido você aqui em cima, de ter falado com você e de ter te seguido. Não gostei nada! E a única coisa que eu quero fazer agora é vomitar. - ele diz e seca os lábios com a manga da blusa e sai rapidamente de perto de mim.

Meu mundo acabá. Ele me iludiu. Ele me tirou do fogo para me jogar em um penhasco. Doug havia mudado. Sua personalidade era outra, e agora ele só olhava para mim para fazer cara de vômito.

Isso não me espanta. Não mas... Até por que nenhuma pessoa gosta mesmo de mim, eu já estou acostumada a ser jogada de lado, de ser abandonada e de ser maltratada.

Garota De PapelOnde histórias criam vida. Descubra agora