Episódio 02: AMANDA

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Algum período dentro do ano de 2013

Em mais de uma semana ela não mandou uma mensagem, muito menos ligou. Todo esse desaparecimento repentino vem deixando Caetano incrivelmente disperso do mundo real, como que mergulhado num universo paralelo, encasulado em si mesmo. Ela nunca agira assim. Ela sempre esteve acessível, ao alcance da mão. Em outras palavras, mas sem soar vulgar, ela sempre foi uma garota bem fácil.

Caetano tem vertigens só de passar com o carro em frente ao café em que sempre se encontravam. Quatro anos de namoro!! Quatro anos em que aquele café estivera presente em sua vida como oxigênio. Um dia, o fim chegara. Mas não foi o fim fim, aquele fim de verdade. Houve uma volta. E outro fim. E outra volta. Para cortar o papo-furado, vários fins e várias voltas. Esses frequentes absurdos de quando o amor gosta de nos fazer de io-iôs humanos. No entanto... O mais recente fim está sendo diferente dos outros. Mais cruel, mais frio, mais violento. Com mais cara de fim mesmo.

Não a encontrara mais na Internet e aparentemente ela também trocara de número de telefone. Não era possível que até de casa mudara. Certa noite, tomou coragem, após exatos 10 dias, pegou o carro e se mandou atrás dela (ele jamais havia feito isso, sempre era ela quem dava o braço a torcer, mesmo quando ele era o errado). Caetano estava se sentindo outro homem, quase um louco ou mesmo um imbecil. Onde raios ela aprendera a dar um gelo desse tamanho? Quanta ousadia de sua parte! Pelo visto, tudo apontava para um único motivo: outro cara. Caetano era um rapaz sereno, mas em questões amorosas, era um tigre de dentes e garras afiados, sempre disposto a proteger o que era "seu". Já estava até com medo dos pensamentos macabros que urravam em sua mente, caso ela estivesse de fato envolvida com outro. Caso ela tivesse de fato lhe trocado por outro. Àquela altura, seria capaz até de usar a violência para reavê-la.

Nessa mesma noite, Caetano regressou para casa com o dobro de frustração. Ela simplesmente não estava em casa. Ou, sei lá, mandou a mãe dizer que não estava. Apesar de insistir um pouco em saber sobre seu paradeiro, tudo que conseguiu arrancar da mulher à sua frente foi que a vida de sua ex-namorada andava normal e tranquila e que, no momento, a mãe não sabia se ela estava na casa de uma amiga ou noutro lugar. Outro lugar. Foi como se alguém arranhasse Caetano bem na espinha, lentamente. Insanamente, ele saiu rodando pela cidade, numa busca inútil. Se bem que, diante das circunstâncias, uma volta de carro, com o vidro da janela abaixado, poderia diminuir um pouco a tensão, fazê-lo se distrair da dor lancinante que se lançava em forma de saudade. A que ponto Caetano chegara?

"Cara!! Me conta o que foi que você fez pra emagrecer tanto?", perguntou Elias, melhor amigo de Caetano, cerca de 15 dias após o episódio recém-relatado.

"Não consigo esquecer a Patrícia, mano. Eu tô quase pra ficar louco com isso, mal como direito", admitiu Caetano, encontrando em Elias o único porto seguro capaz de ajudá-lo a encarar o fardo.

"Quase? Pra mim, você já ficou louco. Olha só, tá até usando um sapato diferente em cada pé."

Sim, Elias tinha essa liberdade que só os grandes amigos têm, mesmo que o outro esteja em frangalhos. Caetano olhou para os pés, parecendo surpreso. No pé esquerdo, um tênis esporte azul e branco. No direito, um sapato de couro marrom. Voltou-se para Elias, deu de ombros, dando a entender que as coisas andam tão péssimas que esse tipo de coisa não fazia diferença.

"Não conseguiu contato com ela de jeito nenhum, Caetano?"

"Nada. A mulher sumiu, virou poeira. E eu fui na casa dela umas cinco vezes, mas toda vez ela nunca tá ou... Sei lá, acho que estão mentindo pra mim e é ela quem tá mandando dizer que não tá. Já pensei até em ficar de tocaia ali por perto, sabia?"

DESAPAIXONANTE-- 2a TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora