Capítulo 4

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Em todos os lugares a que vou há uma carcaça de um carro queimado me esperando.
Considero isso a estabilidade do meu emprego.

Horas em um hotel e comida de restaurante.

Em todos os lugares a que vou acabo fazendo pequenas amizades com as pessoas que sentam ao meu lado seja de Logan para Krissy ou Willow Run.

Sou um coordenador de recall, ou pelo menos é o que digo ao novo amigo sentado ao meu lado, mas estou me esforçando para construir uma carreira de lavador de pratos.

Você acorda no O'Hare de novo.

Zayn colocou um pênis em tudo depois daquilo. Normalmente em close, ou então punha uma vagina do tamanho do Grand Canyon, a uma altura de quatro andares contorcendo-se com a pressão sanguínea enquanto a Cinderela dançava com o príncipe encantado e as pessoas assistiam.

Ninguém reclamava. As pessoas comiam e bebiam, mas a noite não era igual. Algumas passavam mal, começavam a chorar e não sabiam o por quê.

Só um beija-flor poderia ter pegado Zayn com a mão na massa.

Você acorda no JFK.

Eu me derreto e depois dilato naquele momento da aterrissagem em que as rodas acertam a pista, mas o avião fica meio inclinado para o lado e tenta decidir se vai acertar ou rodar.

Nada mais importa naquele momento. Olhe para as estrelas e desapareça. Nada mais importa.
Nada de malas. Nada de mau hálito.

Você vê a escuridão lá fora através das janelas e as turbinas roncam alto lá atrás.
A cabine está em um ângulo errado em relação ao ronco das turbinas e você nunca mais terá de preencher um formulário de reembolso ou pedir recibo de coisas que custem mais do que vinte e cinco dólares. Nunca mais terá que cortar o cabelo.

Outro tranco e a segunda roda o asfalto da pista. Então vem o som de cem cintos de segurança sendo abertos e o seu amigo descartável ao lado de quem você quase morreu diz:
-Espero que não perca sua conexão.-
É, eu também espero.
Esta é a duração daquele seu momento. E a vida segue.

De alguma forma, por acaso, Zayn e eu nos conhecemos.

Era hora de tirar umas férias.

Você acorda no LAX.
De novo.

Conheci Zayn quando fui a uma praia de nudismo.
Era bem no final do verão, e eu estava dormindo. Zayn estava nu, suado, coberto de areia e com os cabelos molhados e caindo no rosto.

Zayn andava por lá bem antes de nos conhecermos.

Ele estava tirando troncos de madeira da água e os arrastando até a praia.
Na areia molhada, Zayn já tinha feito um semicírculo de troncos colocados à apenas alguns centímetros um do outro na altura de seus olhos.
Havia quatro troncos e, quando acordei, vi Zayn trazer o quinto pela praia, cavar um buraco para uma das extremidades, levantar a outra até que o tronco deslizasse para dentro do buraco e ficasse ali em pé, formando um pequeno ângulo.

Você acorda na praia.

Éramos as únicas pessoas da praia.

Com um graveto, Zayn fez uma linha reta na areia a alguns metros de distância e depois voltou até o tronco para acertar sua posição colocando areia no buraco e em volta da base.

Eu era a única pessoa assistindo aquilo.

Zayn gritou:
-Sabe que horas são?-
Sempre uso relógio.
-Sabe que horas são?-
Onde, pergunto.
-Aqui mesmo.- Ele responde. -Agora.-

Eram dezesseis horas e dezesseis minutos.

Make a wish.

Depois de um tempo Zayn se senta de pernas cruzadas à sombra dos troncos levantados, fica ali alguns minutos, levanta-se e vai nadar.
Depois veste uma camiseta, calça de moletom e começa a ir embora.

Eu tive que perguntar.

Tinha que saber o que Zayn estava fazendo enquanto eu dormia.

Se eu podia acordar em um luar diferente em uma hora diferente, será que podia acordar como uma pessoa diferente?

Perguntei se Zayn era artista.

Ele deu de ombros e me mostrou como os cinco troncos eram mais grossos na base. Depois mostrou a linha que tinha riscado na areia e como a usava para medir a sombra feita por cada um dos troncos.

Às vezes você acorda e precisa perguntar onde está.

O que Zayn tinha criado era a sombra de uma mão gigante, mas agora os dedos estavam do tamanho dos de Nosferatu e o polegar era pequeno demais, mas ele falou que as dezesseis horas e trinta minutos em ponto a mão ficaria perfeita.

A sombra da mão gigante ficou perfeita durante um minuto e, durante um minuto perfeito, Zayn se sentou na palma de algo perfeito que ele mesmo havia criado.

Você acorda e não está em lugar algum.

Um minuto era o suficiente, Zayn falou, a pessoa tinha de trabalhar duro para fazer aquilo, mas um minuto de perfeição valia todo o esforço.
Um momento era o máximo que você poderia esperar de algo perfeito.

Você acorda e é o suficiente.

Seu nome era Zayn Malik e ele era projecionista do sindicato, garçom de um hotel no centro, e ele me deu seu número de telefone.

E foi assim que nos conhecemos.

In Zayn we trust •

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