Exploração Oceânica

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O espírito humano é sem dúvida inquieto e curioso por natureza. Por milênios que a raça humana viveu confinada a superfície do globo terrestre, toda sorte de mitos e criaturas foram construídas para preencher o espaço vago no nosso conhecimento sobre o mundo.

Assim, ao mesmo passo que a curiosidade exige a descoberta de um mundo obscuro, a imaginação se dispõe a trabalhar no impossível. Em 1997, o primeiro registro assustador de um barulho no oceano foi registrado. Os pesquisadores o apelidaram de "Bloop" e conseguiram rastrear razoavelmente sua origem para o sul do oceano pacífico em proximidade ao Chile.

O imaginário popular rapidamente atribuiu o som para um gigantesco animal marinho, mas as pesquisas logo apontaram que poderia ser um deslocamento de gelo no solo oceânico. Como disse, mitos e monstros são criados para preencher nossa ignorância sobre o mundo real.

Após a virada de século os registros foram ficando mais frequentes. Tivemos um grande registro em dezembro de 2016, e outro ano passado em 2020, poucos dias após as olimpíadas de Tóquio. A comunidade científica logo ficara preocupada com as consequências e motivações desses eventos.

Várias expedições foram programadas para o fundo do oceano, mas sem sucesso. O país ainda se recuperava timidamente de uma crise econômica grave e estava reconstruindo suas bases e passando a investir em tecnologia e ciência. Não víamos no horizonte nenhuma possibilidade real de fazer essa expedição e parecia que o mito estava mais uma vez na nossa frente.

Qual não foi a surpresa de descobrir que o financiamento foi possível, devido a uma jovem apresentadora da internet e exímia engenheira que gerava conteúdo relacionado com ciência. Vinda de uma tradição da transformação da ciência como espetáculo, Chatherine conseguiu apoio e patrocínio de diversas instituições internacionais para compor o time de especialistas.

Esse time seria eu, Alberto Nascimento, um oceanógrafo experiente e a Dra. Josiane Santos. Juntos, iríamos desbravar o Oceano Ártico e o sul do Oceano Índico, em busca da origem do som misterioso e quais as consequências que isso estava trazendo para a superfície. Hoje irá falecer mais um mito, iremos explorar o fundo do oceano como nenhuma outra expedição jamais o fez.

Nos encontramos pela primeira vez já na Estação Antártica Comandante Ferraz, agora completamente recuperada do incêndio que a tinha destruído em 2012. Somente lá pude dialogar melhor com uma das minhas companheiras nessa longa viagem, a Doutora Santos.

— Bom dia Doutora, há quanto tempo.

— Alberto meu querido, como está?

Tínhamos nos conhecidos em um simpósio organizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e desde então mantivemos breves contatos

— Ansiosa para mergulhar por uma semana no oceano?

— Não sei ao certo se estou ansiosa para tal, mas estou claramente nervosa. Temos uma enorme responsabilidade em nossas mãos, Alberto.

— Concordo, Doutora, mas acho que lidaremos bem... Como foi sua experiência na cápsula de isolação?

—Tranquilizante... Pude levar alguns livros e entreti-me divertidamente enquanto durou o exercício. Mal quis sair de lá quando acabaram. E o senhor?

— Devo dizer que não me adaptei tão bem... Saudades da minha família logo me apertaram o peito, e me fez falta jogar conversa fora com alguém. Mas não acho que foi um total desastre.

— Ah... um tipo mais sociável o senhor, não? Fico imaginando como nossa companheira mais jovem lidou com o exercício.

— Muito bem, posso dizer – Disse a jovem youtuber.

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