Passou-se um mês desde que a Elle dançou à noite naquele estúdio de dança; e ela ainda não tinha parado desde então. Depois disso, depois de ter voltado a dar esse primeiro passo, ela começou a dançar diariamente e a trabalhar cada vez mais do que alguma vez fizera. Ela queria tornar-se melhor. Ela queria tornar-se tão boa que as pessoas que tinham chegado a duvidar dela não tinham outra opção se não admirá-la.
Elle também não se tinha tornado a cortar desde aquela noite; ela não podia voltar a levar lâminas para junto da sua pele visto que o Zayn andava a tomar tão bem conta dela. Depois de ele ter desenhado aquela borboleta no seu pulso no parque, ele desenhava uma nova a cada dia – visto que desaparecia constantemente – de modo a que Elle não se voltasse a magoar. Até agora estava a funcionar.
Contudo havia certos momentos onde ela se sentia triste ou chateada – devido a alguma discussão entre os seus pais ou entre ela e o Joseph – e esteve muito perto de o voltar a fazer, mas isso nunca aconteceu. Ela sabia que se cortasse, que o Zayn iria ficar muito desiludido. Em vez disso, ela limitava-se a chorar, a rasgar livros, a partir coisas no seu quarto e depois ligava-lhe, pedindo que a viesse buscar e a acalmasse.
Num desses dias, quando ela lhe ligou, ele implorou que ela deitasse as lâminas para o lixo porque assim ela não teria tanto desejo em voltar a cortar-se. Contudo automutilação não é só cortar a pele. Elle podia estar sozinha, num quarto trancada, e ainda haveriam maneiras de ela se magoar, mas ela não lhe iria contar. Ela disse que o faria e ele sorriu, orgulhoso do progresso dela. Mas Elle não sorriu. Os papeis sangrentos onde ela guardava as lâminas estavam guardados, juntamente com o seu diário, atrás de uns desenhos.
Quanto a ambos, nenhum sabia ao certo o que queriam. Quereriam ficar apenas amigos? Quereriam ser algo mais? Elle não queria, definitivamente, perder o Zayn porque, neste momento, ele era a única pessoa na sua vida que se importava com ela – ou então fingia importar-se, ela continuava a lembrar-se. Ele fazia com que ela se sentisse forte e tinha a habilidade a fazer sentir menos sem esperança... por isso ela estava confusa sobre o que iria acontecer entre eles.
Zayn também estava confuso. Ele gostava de Elle mas sabia que ela estava demasiado 'estragada' mentalmente e que não teria a capacidade para pensar sequer numa relação. Ela ainda tinha problemas em saber como se amar a si própria, e ele também tinha de aceitar o facto de ela ser viciada em automutilação... E foi aí que ele teve uma ideia.
Aconteceu alguns dias depois de terem partilhado o seu primeiro beijo; Zayn pegou na sua guitarra e foi até ao parque com ela. Depois de lhe tocar a Autumn Leaves e outras músicas que ele escrevera – e Elle tinha-se apaixonado completamente com isso – ele olhou para os olhos dela e mordeu o seu lábio. "Isto é para ti" ele murmurou e depois correu as mãos pelo seu cabelo. Depois começou a tocar. Elle reconheceu rapidamente a música porque ela tinha ouvido algumas vezes na rádio. Era a Let Me Love You do Ne-Yo. Ela deixou-o acabar de cantar e, de seguida, segurou o rosto dele e beijou-o, com os olhos cheios de lágrimas.
Eles ainda não tinham posto um rótulo naquilo que tinham mas eles já não eram 'apenas amigos'.
Neste momento, Elle está deitada no sofá da sala enquanto vê um programa de culinária na televisão com o seu pai. Já passam alguns minutos das sete da tarde e, visto que ela não tinha saído de casa, ela ainda está de pijama, e o seu cabelo encontra-se todo despenteado pois ela nem se tinha dado ao trabalho de o pentear.
"Ele nem sequer misturou bem os ingredientes!" O seu pai queixou-se, abanando a sua cabeça negativamente para o homem rechonchudo que estava a cozinhar no ecrã.
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Wingless » z.m. [Tradução PT]
RandomElle queria morrer. Zayn pensou que, talvez, a pudesse salvar. Copyright © 2016 por Catarina M. Todos os direitos reservados. Este livro não pode ser reproduzido ou usado de qualquer modo sem a permissão expressamente escrita da autora, exceto o uso...