"Já ouviste dizer que eles a vão deitar a baixo na próxima semana?" Dani disse enquanto secava a loiça que estava a segurar com uma toalha azul bebé.
Joseph foi desde a cadeira até à bancada, inclinando-se na mesma, e manteve-se ao lado da sua namorada já de há quatro meses. Ele não precisava de perguntar a qual edifício ela se referia. Ele sabia que era aquela casa abandonada que Elle costumava ir há um ano.
Depois da morte da sua irmã mais nova, a sua vida tornou-se numa enorme confusão da qual ele não sabia se conseguia consertar. Estavam todos devastados com a perda; os seus pais e ele. Eles foram deixados confusos pois não sabiam porque razão ela faria uma coisa tão horrível como deixá-los sem pensar nas consequências. Eles não sabiam muito bem que Elle não estava bem mas eles não faziam a mínima ideia que ela seria capaz de arrancar a sua própria vida.
Primeiro ficaram todos calados em casa, demasiado calados. Era como se eles fossem fantasmas ambulantes, que deambulavam de quarto para quarto. Estavam sempre a evitar, a todo o custo, de falar sobre o que tinha acontecido ou sobre como tinham sido deixados interiormente. Eles só tinham perguntas mas já estavam demasiado magoados para tentarem arranjar respostas às suas perguntas.
Após um mês, quando eles finalmente interiorizaram que Elle tivera falecido e que nunca mais voltaria, as discussões começaram. A mágoa, a raiva acumulada, a confusão estavam finalmente livres enquanto os familiares descarregavam uns nos outros. A sua mãe, Miranda, culpou o seu pai por não ter sido um bom modelo como marido. Mas os irmãos foram os únicos que nunca se deram muito bem. Contudo as discussões só duraram duas semanas, porque, após um tempo, os seus pais aperceberam-se que não podiam continuar assim, algo que conduziu, nada mais, nada menos, a um divórcio.
Miranda permaneceu em casa deles por quinze anos, não querendo deixar o único lugar que lhe relembrava da sua filha da qual ela sentia bastante falta. Will, por outro lado, fez as suas malas e partiu para Deus sabe onde; Joseph simplesmente não fazia ideia. Ele não queria ouvir falar do seu pai nunca mais, por isso manter o contacto com o seu pai durante os últimos meses foi algo que ele não fez.
Dani chegou muito mais tarde à sua vida. Depois da sua estranha e triste conversa no funeral de Elle só se voltaram a ver cerca de oito meses depois. Elle foi a razão uma vez mais pois ambos se encontravam a caminho do cemitério para colocar algumas flores na sua campa.
Resumindo, a amizade entre ambos transformou-se rapidamente numa relação romântica. Em primeiro lugar ele achava que a relação não iria durar muito pois Dani fazia-lhe lembrar muito a sua falecida irmã; afinal ela era a melhor amiga dela. Mas rapidamente aceitou que Elle fazia parte do seu passado então, aqui estão eles, um ano depois, a viver juntos num pequeno apartamento em Londres.
Já passou um ano. O tempo voa. Joseph pensou.
"Ouviste-me?" Dani questionou suavemente, descansando a sua mão sobre o ombro dele. Joseph não falou; limitou-se a assentir. Depois ele pegou nas mãos dela e depositou um leve beijo nas mesmas.
"Pensei que gostasses de saber" ela explicou e depois voltou a focar-se no seu trabalho.
"Obrigado" ele finalmente murmurou.
***
Joseph sempre quis ter ido àquela casa velha e suja desde que a sua irmã falecera. Contudo estava assustado pois tinha medo de encontrar algo que o marcasse para o resto da sua vida. Ele fez sempre planos e prometeu sempre que ia, mas a verdade era que ele nunca tinha tido coragem para o fazer.
Contudo ele agora tinha de ir porque a iriam deitar a baixo na semana seguinte e ele não teria outra oportunidade.
Por isso, na manha seguinte, por volta das seis da manhã, após ter acordado do seu pesadelo normal - a sua irmã deitada morta nos seus braços - Joseph vestiu um casaco e caminhou até ao outro lado da cidade, até à casa abandonada.
Ele estava parado em frente à mesma, demasiado assustado para se mexer. Ele estava congelado naquela posição. O jardim da casa estava cheio de ervas daninhas e folhas que tinham caído de árvores grandes e velhas. A cor vermelha da cerca tinha desaparecido e a porta estava partida.
O jovem respirou fundo antes de começar a andar. Empurrou a porta, deixando as suas mãos rapidamente sujas devido ao material enferrujado. Com passos lentos e cuidadosos, caminhou até à porta principal. Era branca e de madeira mas agora as suas mãos estavam a tremer demasiado e ele não conseguia girar a maçaneta. Quando finalmente conseguiu, a mesma abriu-se com um som estranho.
Fez o seu caminho - pelo que parecia a sala de estar - e tentou imaginar a sua irmã naquele lugar. O que é que ela fazia sempre que se encontrava lá?
Ele caminhou um pouco pela divisão, prestando muita atenção onde colocava os pés. Ele tinha a certeza que haviam lá ratos, talvez até cobras, e ele não queria pisar nada disso. O interior da casa era mesmo como ele imaginava. A mobília estava coberta de pó, alguma ainda estava coberta com lençóis brancos. Ele não se lembrava quem tinha vivido nesta casa há dois anos atrás, antes de se terem ido embora, mas ninguém tinha vindo cá desde que a sua irmã falecera.
A cor das paredes tinha desaparecido ligeiramente - era um amarelo claro agora - e encontravam-se algumas molduras nas paredes, que adicionavam um pouco de ar assustador àquele local. Joseph apercebeu-se que tinha estado na sala de estar este tempo todo por isso decidiu ir ver as outras divisões.
Por muito que não quisesse ver algo que indicasse que Elle tivera estado lá, ele estava à procura disso. A primeira porta que abriu encaminhou-o para a casa de banho por isso ele tornou a fechá-la, indiferente.
A segunda porta que ele abriu encaminhou-o para um quarto. Ele fechou a porta assim que entrou e disse uma enorme quantidade de palavrões quando pisou numa folha seca, fazendo-o quase gritar de susto. O quarto estava pintado com um azul claro - ele adivinhou devido à quase cor azul desaparecida das paredes - e uma enorme cama de casal no centro do quarto. Os cobertores tinham uma cor bege fraca e Joseph encontrou-se a pensar se Elle alguma vez tivera deitado naquela cama. Ele esperava que não. Também havia uma mesa de cabeceira de cada lado da cama, tal como um armário alto em frente à cama. Joseph queria andar em frente e talvez abri-lo, mas os seus pés não cooperavam.
Em vez disso, ele caminhou para trás e entrou noutra divisão. A porta seguinte encaminhou-o para um quarto vazio mas Joseph entrou pois sentia algo estranho em relação ao mesmo; contudo ele não conseguia dizer o que era ao exato. Ele fechou a porta atrás dele e caminhou para dentro do quarto.
E depois viu.
Os seus joelhos enfraqueceram e a sua cabeça estava a andar à volta. Não, não pode ser. Ele também devia de estar a alucinar, não havia outra explicação. Ele beliscou-se, fechou os olhos e depois contou calmamente até dez. Ainda estava lá quando os abriu.
A sua irmã.
Bem, um graffiti da sua irmã. Estava na parede e umas asas pretas surgiam das suas costas. Ela estava a olhar para o chão, a sorrir provavelmente - algo que fazia sempre - e as suas bochechas estavam vermelhas. Ela estava a usar um vestido preto simples. Era largo e alcançava as suas coxas, que estavam mais magras que o normal. Não era um retrato completo, apenas chegava até aos seus joelhos.
Olhou em volta e tentou arranjar uma explicação lógica para aquilo que via, mas simplesmente não conseguia. Depois reparou que todas as outras paredes estavam pintadas de branco e que não havia mais nenhum graffiti nelas.
Ele aproximou-se e prestou atenção a todos os detalhes. Como é que podia ser real? Elle não sabia desenhar e Zayn simplesmente não existia... Certo?
Joseph sentou-se e escondeu o seu rosto nas suas mãos. As lágrimas ameaçavam cair dos seus olhos mas ele não permitiu que isso acontecesse. Quando finalmente olhou, reparou em algo que não tinha reparado antes. No canto inferior direito estava a assinatura do pintor. Ele não conseguiu à primeira mas finalmente conseguiu ler as duas letras.
Z.M.
FIM.
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Wingless » z.m. [Tradução PT]
RandomElle queria morrer. Zayn pensou que, talvez, a pudesse salvar. Copyright © 2016 por Catarina M. Todos os direitos reservados. Este livro não pode ser reproduzido ou usado de qualquer modo sem a permissão expressamente escrita da autora, exceto o uso...