Margem | Diogo Piçarra

Capítulo 1

Madalena POV

Mais um dia normal na minha rotina, em que me levantava, tomava o pequeno-almoço e saía disparada para a estação para apanhar o comboio até ao King's College of London - uma das mais prestigiadas faculdades de Londres e a meu ver, do mundo.
Não era propriamente a mais barata, e daí todo este meu esforço. Acabo quase sem tempo para mim mas como os meus amigos não têm o hábito de sair, não me sinto mal por isso. 

Enquanto passava os olhos por uns apontamentos, sentia-me bastante observada por um rapaz sentado à minha frente que sempre que olhava para ele, ele fingia estar interessado nas linhas das suas mãos. Parecia um rapaz sério mas o olhar dele assustava-me, era tão penetrante. 

Finalmente, o nome da minha paragem tinha soado, e os olhos dele, acompanhavam os meus passos. Saí do comboio e ele continuava a olhar. 

-Hey! - ouvi assim que o comboio arrancou.

Assim que acordei, vi Alex à minha frente a abanar-me os ombros.

-Bom dia, não ? - diz irónico tendo reparado que eu estava distraída

-Desculpa, não ... Não estava cá.

-Eu percebi - ele encolheu os ombros - Donuts?

Sorrio para ele e vamos até ao quiosque do Krispy Kream. Pedi o mesmo de sempre, e seguimos o caminho até à faculdade.

-Porque é que estás tão calada hoje?

-Cansada, só isso ...

-Hum... Sabes que já te conheço há tempo suficiente para... - interrompi-o

-Okay Alex, foi só um coisa estranha no comboio - rio.

-Conta-me

-Foi só um rapaz que não parava de olhar e seguia os meus passos, ugh... Estranho, eu sei.

-Creepy - ele olhava p'ra mim com as sobrancelhas franzidas - Mas é normal olharem p'ra ti.

- A-ai é?

-S-sim...Quer dizer, tu és muito bonita - ele sorri envergonhado.

-Bom dia ! - Brooke aparece de repente mesmo para nos cortar o clima.

-Bom dia - respondemos-lhe.

-Prontos para a aula do Mr. Stevens?

-Tinhas mesmo de me lembrar disso ? - Alex diz suspirando desesperado.

Diogo POV

E entro finalmente, cumprimento o porteiro e subo para o meu estúdio. A aula era daqui a uma hora mas resolvi vir mais cedo pois tinha coisas em que queria trabalhar.
Pousei a mochila , tirei um café na máquina de corredor e voltei lá para dentro. Assim que me sentei, voltou à minha cabeça a imagem daquela rapariga. Era tão bonita, tão simples. 

Sou interrompido nos meus pensamentos por alguém a bater à porta.

-Já aqui tão cedo?

Marco entra e depois de nos termos cumprimentado senta-se do meu lado.

-Sim, queria gravar qualquer coisa.

-Então e estás à espera do quê? Vai lá p'ra dentro que eu quero ouvir

Lá fui inseguro , como sempre, com a minha guitarra e comecei a cantar : "Se tu pensas em mim, como eu penso em ti, temos tudo então p'ra poder voltar ao sonho outra vez. Se tu dizes que sim, sei por onde seguir" E parei.

-Então?! - pergunta triste.

-Então, não tenho mais nada - rio-me.

-É um crime não escreveres mais nada para essa música, acredita. A melodia está lá, até fica na cabeça! Não desistas dela, por favor!

-E-eu não sei. Está assim tão boa?

-Eu gosto . Sabes que sou sempre o primeiro a dizer-te quando está bom ou não . Não foi por acaso que ganhaste o Ídolos. Tu tens talento. Aproveita isso. Acredita em ti .

Simplesmente sorrio para ele.

-Então e mais temas? Não vais ter um álbum com uma música pois não?

Voltei para a cabine .

Madalena POV

Tivemos um intervalo finalmente e assim que pego no telemóvel vejo que tenho uma chamada do meu irmão. Devolvo-lhe a chamada.

-Estou? - a voz dele soa do outro lado.

-Estou mano. Ligaste?

-Sim, preciso de ti urgentemente.

-Então, o que é que aconteceu?

-É por causa do jantar de hoje. Tenho de ir comprar roupa mais casual e preciso que venhas comigo ao centro.

-Jantar?

-Sim, o jantar !

-Qual jantar?

-O jantar do pai.

-Que jantar do pai?

-Então mas não te lembras de ele ter dito que hoje há um jantar lá em casa com uns sócios do pai por causa do programa?

-Ahhh, eu esqueci-me completamente. Mas eu vou lá contigo. Vem ter aqui à uma.

-Okay, até logo então.

-Até logo - desligo.

Esqueci-me completamente.
As aulas passaram rápido e num ápice, o Daniel estava à porta para me apanhar.