De súbito, a porta da minha sala se abriu. Era o grupo de veteranos da faculdade vindo avisar sobre o trote que estavam organizando. Tremi todo. "Meu Deus! Como vou reagir a isso? " Eu me perguntava. Já ouvi tanto sobre trotes violentos, daqueles em que os pobres calouros são obrigados a ingerir bebidas alcóolicas, fumar, dançar, raspar a cabeça, passar tinta no corpo, correr só de cueca, pular em piscinas – e eu nem sei nadar –, além de serem torturados exaustivamente. Por isso, hesitei em ir para a faculdade na primeira semana de aula. Todavia, parece que eles adivinharam, não nos procuraram nos primeiros dias de aula, para nos surpreender depois.
Um rapaz do curso de Pedagogia e outros tantos de Direito chegaram nos amedrontando. A mulherada da minha turma achou o máximo e olha que elas eram muitas ali; 37 no total.
– O nosso trote acontecerá na sexta-feira, mas antes precisamos de uma mecha do cabelo de cada um de vocês, como compromisso de que não deixarão de vir no dia combinado. – Um dos rapazes disse isso e eu fiquei aliviado por um lado e muito preocupado por outro.
– Ninguém trisca em meu cabelo! – Eu gritei e levantei da carteira.
– Segura esse cara, segura esse cara! – Alguém gritou e correu para a porta.
– Se alguém tentar cortar meu cabelo vai se arrepender! – Eu disse.
Tive que me manter firme e corajoso na frente de todos, mas o que eles não sabiam é que eu estava com medo, muito medo.
O rapaz que liderava o grupo de veteranos veio em minha direção dizendo:
– Rapaz, deixe de idiotice. Se nós quisermos, você sai daqui careca!
Nessa hora eu tremi na base, mas ninguém podia perceber. Continuei firme e em pé, próximo à porta. Estava preparado para chutar, dar pontapés, socos, tudo que fosse preciso. As meninas me olharam estarrecidas. Eu não podia fraquejar, pensava.
Depois de recolher as mechas de quase todas as garotas da sala, um dos veteranos voltou a me ameaçar:
– E aí? Posso cortar? – com a minha recusa, ele disse: "Galera, vamos segurá-lo! "
Só me restou uma saída: correr. No descuido de quem guardava a porta, abri-a e saí em disparada. Todos ficaram rindo. Pude ouvi-los de longe. Pelo menos meu cabelo continuou intacto e, para evitar maiores problemas, não fui à faculdade na sexta.
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Crônicas e Contos Universitários
Non-FictionCrônicas e contos universitários traz, na maioria dos textos, histórias e episódios baseados na vivência de Dorcídio Ponciano nos tempos de faculdade. Além de os fatos abordados nas crônicas serem, em sua grande maioria reais, o autor apresenta dive...