Atravesso a avenida a passos largos. Apresso-me mais ainda ao ouvir xingamentos e lamentações. Chego em meu destino quase correndo.
– De quanto está o jogo, senhor? – pergunto.
– Brasil tá perdendo! – O dono do mercadinho na esquina da Alameda Madrid responde com uma certa incredulidade.
– Sabia que essa seleçãozinha não conseguiria ganhar jogo nenhum nessa Copa! – Concluo.
– Calma, rapaz tem todo o segundo tempo. – um homem diz.
– Ahhh tá no intervalo? É?
– Claro!
– Ah não! Dá tempo virar (disse isso só para me enganar). A Turquia não é isso tudo! – mas tinha um atacante que era o bicho, um tal de Hakan Sukur. Não foi ele quem marcou nesse dia, porém jogava muito.
Aproveitei que o jogo estava no intervalo e, com meu pessimismo em alta (eu não via qualidade alguma naquele time), aproveitei para apelidar quase todos os jogadores da seleção canarinho.
Scolari, o comandante do escrete, foi carinhosamente chamado de RUINLIPÃO. Marcos virou RUINCOS.
Cafu era RUINFU.
Rivaldo, RUINVALDO.
Ronaldinho Gaúcho, era RUINALDINHO GAÚCHO.
Ronaldo fenômeno ganhou o apelido mais bonitinho de todos, RUINALDO. E Luizão, que cavou o pênalti para o gol da virada, eu chamei de RUINZÃO.
Havia ainda RUINÍLSON, RUINQUE Júnior, RUINIOR e RUIMBERTO Carlos.
Os presentes naquele humilde, mas requintado entreposto, se divertiram à beça ouvindo os apelidos. Pouco mais de dez pessoas, entre as quais, meninos, acadêmicos e clientes, que se amontoaram entre as prateleiras para assistirem a estreia da seleção verde e amarelo e, como não poderia ser diferente, sofreram muito.
Quando saiu o gol da virada, ninguém queria saber se o Brasil havia jogado bem ou não. Todos começaram a gritar (inclusive eu), outros se abraçavam.
Depois disso, encontrei em um jornal uma tabelinha que mostrava o Brasil campeão em 2002. Passei a acreditar.
O título veio deforma emocionante, não porque eu comecei a confiar naquele plantel (a talfamília Scolari), mas pelo futebol solidário praticado por eles.
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Crônicas e Contos Universitários
Non-FictionCrônicas e contos universitários traz, na maioria dos textos, histórias e episódios baseados na vivência de Dorcídio Ponciano nos tempos de faculdade. Além de os fatos abordados nas crônicas serem, em sua grande maioria reais, o autor apresenta dive...