Cena 14 - Extra 02: Efeitos Colaterais

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A bela garota andava impaciente em meio às outras pessoas pelo terminal arrastando a pequena mala marrom no carrinho de mão. O local estava cheio de gente, pessoas de diversos voos detidas ali sem explicações sobre o que estava acontecendo. A garota usava uma jaqueta preta com os dizeres Hearts on Fire nas costas juntamente com o desenho do cavaleiro de armadura cinzenta confrontando o mago do fogo, álbum da famosa banda Hammerfall, calças jeans, botas de couro que iam até quase os joelhos e agora, devido ao frio, um longo cachecol rosa enrolado no pescoço. Os longos cabelos ruivos estavam soltos caindo pelas costas, já havia amarrado rabo de cavalo no alto, baixo e trançado algumas mechas enquanto tentara ficar calma sentada numa das cadeiras de plástico azuis. Aquilo era o caos, como podiam prender os cidadãos americanos por mais de três horas naquele local? Precisava sair logo dali, falar com alguém. Chris saberia de algo, com certeza, mas seu celular estava sem sinal para ajudar a piorar tudo. Tinha que fazer alguma coisa, precisava descobrir o que acontecia.

—Senhor? – disse a jovem aproximando-se de um soldado que estava próximo a uma porta. O mesmo vestia-se com uniforme militar verde e carregava uma metralhadora. Aquilo lhe parecia incomum. Estariam segurando aquelas pessoas ali por alguma suspeita de atividade terrorista? – Preciso ir ao banheiro, é urgente, estou aqui há mais de três horas, não dá mais pra segurar – explicou, embora fosse apenas uma desculpa para sair dali.

—Senhora – respondeu o homem com uma falsa calma – Preciso que fique com as outras pessoas, não tenho autorização para permitir que qualquer um deixe o perímetro. Todos serão liberados em breve, basta que aguarde, por favor.

Claire sabia que aquilo não era verdade, sabia que aquele homem ali em pé não tinha mais conhecimento do que estava acontecendo do que ela. Era apenas mais um seguindo ordens, um desses cãezinhos que abanam o rabo e fazem qualquer coisa por um caramelo. De qualquer forma não podia enfrentar alguém com o dobro do seu tamanho e armado e se fosse presa além de não obter nenhuma resposta poderia acabar na lista de suspeitos de seja lá o que estivessem procurando. Precisava ser inteligente.

* * *

Leon virou-se na cama com dificuldade procurando pelo celular que tocava em algum lugar, ainda que não fizesse ideia de onde o havia deixado. Alcançando o criado-mudo com a mão, meia dúzia de coisas foram ao chão na tentativa de pegar algo no escuro sem sucesso. O que estava acontecendo com ele? Aquele não era seu jeito de agir. Tudo por causa daquela mulher, Nathalie, sua ex-noiva. Havia chegado à Manhattan na noite anterior, logo depois de uma longa viagem e após uma grande discussão com a garota. Por que ela não entendia o quanto aquele trabalho era importante em sua carreira? Além do mais, ele não tinha intenção de deixá-la, queria trazê-la consigo para a ilha, fixarem-se, encontrarem um lugar só deles, formarem uma família. Mas não havia acordo, ela nunca deixaria a pequena cidadezinha no interior do Kansas para vir com ele e ele não podia deixar aquela oportunidade passar. Havia feito dezenas de testes e entrevistas para aquele trabalho, não era fácil ser aceito como policial ali e sabia que as chances de crescer profissionalmente eram grandes. Sua cabeça doía como se algum duende encapetado estivesse dentro dela dando marteladas em seu cérebro. Agora sabia que não era uma boa ideia misturar Margueritas com Bourbon. Gostaria de saber quanto havia bebido na noite passada, mas não se lembrava de nada.

Finalmente virara-se na cama e encarara os números digitais de cor vermelha no rádio-relógio do criado-mudo do motel: 14hs48min. Maldição! Havia dormindo tanto assim? Estava quarenta e oito minutos atrasado em seu primeiro dia de trabalho no Departamento de Polícia de Manhattan, iria levar uma advertência logo de cara!

O que Leon ainda não sabia era que não receberia nenhuma advertência naquele dia.

* * *

Claire encarava o soldado fixamente como se tentasse hipnotizá-lo para que o mesmo lhe permitisse sair daquele lugar. Odiava ficar detida, odiava ficar presa em um mesmo lugar por muito tempo desde criança. Nunca se sentira bem com a ideia de ficar "de castigo" por qualquer coisa que fosse. O homem continuava imóvel, como uma estátua. Era preciso tomar medidas drásticas, ser ousada se quisesse sair dali.

Resident Evil: Primeira AçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora