Um bom motivo

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Capítulo 2

- Um bom motivo

- Arabella Lockhard

Eu não fazia a menor ideia do motivo por eu ter acordado antes do sol surgir no horizonte. Não era a primeira noite que eu sabia da presença de Jules no corredor e nem era a primeira vez que durante a madrugada eu consegui conversar com ele por um pouco menos que dois minutos, mas era com certeza a primeira vez que eu havia me deitado na cama tão cansada a ponto de não conseguir dormir e ficar me remoendo por dentro, tentando arranjar um modo de conseguir falar de Jules para os meus pais.

Eu apostava todas as minhas fichas no meu pai, eu sabia que ele poderia me compreender porque fora isso que acontecerá com ele, o futuro rei de Parforce tinha se apaixonado por uma pessoa fora da nobreza. A lógica deveria ser na verdade minha mãe compreender, pois ela não era originaria da nobreza e deveria entender que o coração era muito mais forte do que qualquer título que pudéssemos carregar, mas ela tinha medo de toda dor que tínhamos o risco de sofrer ser tão em vão quanto treinar uma tartaruga para uma corrida.

É, eu sabia que meus pais haviam enfrentado algumas batalhas para ficarem definitivamente juntos, nada era fácil na vida e eles sabiam disso melhor do que ninguém! E eu sabia que poderia sofrer para ficar com Jules se eu realmente decidisse levar isso a frente. Mas era aí que se encontrava o tal problema, eu não pensava se eu levasse, eu pensava em quando eu levasse, eu amava Jules e com certeza lutaria por isso mesmo com medo ou até vergonha de ser a escolhida pelo destino para ser a primogênita, e consequentemente herdeira do trono, e recusar todo um país porque eu achava que amar uma só pessoa era bem mais importante.

Respirei fundo tampando os meus olhos com o antebraço para evitar qualquer claridade que pudesse se infiltrar pelas cortinas finas de cor caramelo que eu tanto gostava.

Estiquei meus pés até onde pude, os coitados logo seriam espremidos em sapatos altos cor de marfim, eu trabalharia sentada na maior parte do dia, mas eu sabia que alguns ficavam a espreita de um mero deslize, até mesmo ao simples e mais magnífico ato de retirar os pés dos sapatos.

Mas com sinceridade, eu amava saltos altos, até mesmo aqueles extremamente extravagantes que eram repletos de brilho, lantejoulas (alguém ainda usa isso? Eu adorava!), paetês (esse é o nome mais bonito de lantejoulas? Eu deveria saber isso e só falar paetês?), spikes e tudo mais. Qualquer salto eu gostava, não só porque me deixava mais formal para as reuniões, mas muito mais porque eu me sentia poderosa. E não poderosa como se fosse superior a alguém, mas poderosa como se eu estivesse acima para poder alcançar melhorias para aqueles que pulavam e não alcançavam.

Era como ser a irmã mais velha, coisa que eu já era, mas para um país inteiro. Você pega o biscoito mais precioso da prateleira mais alta e dá de bom grado para o mais novo, e você se sente tão bem por poder ser o mais velho e não precisar que o mais novo sofresse para alcançar algo.

Rolei mais uma última vez na cama tentando acalmar qualquer pensamento pessimista ou não. Não deu muito certo e eu decidi levantar antes das minhas criadas chegarem. Fui em direção a minha penteadeira e recuperei minha agenda onde se encontrava todos os eventos importantes do ano, durante o dia ela ou estava nas minhas próprias mãos ou nas de Katherine, a criada mais velha que me auxiliava.

Eu não tinha um relacionamento tão íntimo com nenhuma delas, mas eu confiava nelas para me ajudarem durante o dia e com toda certeza eu nunca trocaria elas por mais ninguém.

Comecei a folhear a agenda e encontrei o dia de hoje, 8 de abril. Eu teria uma reunião com Elena, a assistente pessoal da rainha (minha queridíssima mãe, sem ironias, ela era querida e linda mesmo!), para falar sobre as fantasias que usaríamos na comemoração dos Jogos Belforte que se aproximava, depois iria para a praça central de Heide para a comemoração das crianças vencedoras de um concurso educacional de matemática, onde eu seria a que entregaria os troféus e faria o discurso que eu havia escrito a mais de uma semana com o intuito de agradar e incentivar os estudos mais e mais nas crianças.

ArabellaOnde histórias criam vida. Descubra agora