Louis
Chovia muito lá fora. De dentro do carro era possível ouvir o som alto das gotinhas de chuva batendo contra o vidro da janela... Estava escuro, por certo, como uma típica noite de tormenta. Era um meio fio qualquer onde eu estava estacionada, esperando uma ideia, por menor que fosse, surgir em minha mente. Minha respiração se entrelaçava com a de Mike, pequeno e adormecido em meu colo, com a cabeça pequenina deitada em meu peito. Os olhos verdes âmbar adormecidos, o cabelo castanho dourado totalmente desalinhado, lembrando mais do que nunca os cabelos de seu pai. A pequena mãozinha agarrada a minha camisa, fechada em punho. Os lábios avermelhados entreabertos, respirando lentamente. Passei os braços em volta dele, sentindo o calor de seu pequeno corpinho ser fundido ao meu. Sorri ao pensar em como era incrível como eu o amava. Como era incrível saber que depois de tudo, eu ainda tinha a ele.
Arrastei os lábios e selei um beijo em sua testa, sobre a franja de seu cabelo. E de repente eu chorava. Talvez mais por Mike do que por mim... Mais por saber que o sonho dele de ter um pai nunca se tornaria realidade. Nunca. (Este foi o prólogo, lembram?!)
A primeira coisa que pensei ao ver todo aquele teatro que se armava? Levar Mike pra longe dele, porque estranhamente sabia que Harry poderia resolvê-lo, que de alguma forma, talvez pudesse mudar a mente doentia de William. Doente, é óbvio! Apenas uma doente seria capaz de entrar no aniversário da mãe e dar aquele escândalo maluco...
"Pai, porque o meu papai não veio com a gente?" perguntou em meu colo, olhando-me tristonho. Aquilo definitivamente partiu meu coração em dois.
"Porque... Ele tem que resolver alguns assuntos com o tio Will" pigarreei botando-o num dos carros de meu pai, dando e partida em seguida.
"Mas ele vai depois?" questionou se deitando no banco de trás. Uma chuva se armava no céu, e me fazia pensar em quão covarde estava sendo; olhei pelo retrovisor, e observei os olhinhos verdes de Mike tristinhos, meio perturbados, e cheguei a conclusão que não. Eu não era covarde! Isso tudo era por ele, e nada que fosse pelo meu filho e de Harry seria demais. Nada!
"Mike, fica quietinho, tá? Deixa o papai pensar..." suspirei dirigindo pra qualquer lugar.
"Pai, tá chorando?" perguntou com o rostinho assustado "porque pai?" percebi que sim, estava chorando... Então passei a mão na bochecha, segurando o volante com a outra enquanto corria.
"Por nada Mike, por nada..." menti "fica quietinho, deita ai e dorme."
"Não quero dormir" disse encostando-se ao banco, olhando pra mim todo o momento.
Segui dirigindo, alguns pingos de chuva já se chocando contra os vidros do carro, algumas gotinhas molhando nós dois. Fechei os vidros quando ele reclamou, porém minha mente vagava por o que acontecia lá. As palavras de William ecoando em minha mente com força, o rosto de meus pais em minha direção, o de todos os convidados de minha mãe para a festa... A indignação, em certas vezes. Pensei em Harry, e na loucura que seria se ficássemos juntos, porque... Ai seriamos os imorais, os traidores... E Mike apenas sofreria tudo isso. Mais lágrimas caíram; a chuva era forte demais. Será que o peso também seria? Será que para Mike ser feliz eu teria de deixar Harry, pelo menos eu? Os pais separados era a melhor coisa para ele? observei sua imagem, os olhinhos olhando a chuva fora do vidro, quase intocável. Ofeguei, e tive a certeza de que William não nos deixaria em paz, talvez nunca se fôssemos felizes...
Estacionei em um canto qualquer no acostamento; a tormenta seguia caindo sobre a cidade, uma noite intensa em todos os aspectos. Mike já quase dormia quando o coloquei em meu colo no banco da frente. Arrastei os lábios e selei um beijo em sua testa, sobre a franja de seu cabelo. E de repente eu chorava. Talvez mais por Mike do que por mim... Mais por saber que o sonho dele de ter um pai nunca se tornaria realidade. Nunca. O celular tocou alto, e o número de Harry aparecia no visor quando o peguei em minhas mãos. Pensei em não atender, mas foi mais forte do que qualquer coisa. E de repente, lá estava eu o mandando vir até mim, jogando tudo pro alto por ele novamente... Harry não merecia isso, nem por um segundo merecia ser tratado como o culpado, desconsiderado. Ele era perfeito, maravilhoso... Havia me entendido, e agora seria quase como egoísmo fazer qualquer coisa ruim para ele.
Assim que vi o carro estacionou no meio fio em frente ao meu, coloquei um Mike mergulhado em sonhos no banco do passageiro e saltei para fora do carro, pouco me importando com a chuva; a porta do carro dele também bateu, o rosto molhado vindo em minha direção encharcado pela chuva. Nossos corpos se chocaram, e ele me prensou contra seu peito forte, deslizando as mãos por meus braços. A chuva sobre nós nos gelava, mas mesmo assim seguíamos do mesmo jeito sob o céu mais escuro que o normal, sem estrelas, sem a lua forte; apenas mais uma noite de tormenta onde nos chocávamos, como sempre.
"Louis, não me deixa, por favor, não me deixa..." dizia competindo com as gotas da chuva "eu... Eu... Por favor, não faz isso comigo, não!" choramingava com sua voz forte "não posso mais viver sem você, sem o Mike, eu te amo, eu o amo, e vou morrer sem você, sem meu filho..." seu tom de súplica era insuportável, então me agarrei mais a ele.
"Não Harry, eu não vou" beijei seus lábios "desculpa, não vou embora, não..." o abracei de novo.
"Ah Lou..." me apertou mais "para de me matar assim."
"Porque vocês estavam molhados?" Mike movia a toalha no cabelo de Harry, curioso.
"Porque saímos na chuva..." disse novamente, sorrindo pra ele.
"Eu nem vi..." lamentou-se "também queria ter ido na chuva!"
"Nem pensar, já estava dodói, não precisávamos de mais nada..." repreendi me jogando na cama do hotel ao lado deles, os dois olhando pra mim.
"Vocês têm que decidir logo se vão ficar juntos pra sempre" falou abaixando a toalha, me vendo escovar o cabelo. Olhei para Harry meio confuso, e ele sorriu em minha direção "não gostaria que ficassem longe. Quero ficar com vocês dois."
"Você vai ficar com nós dois, Mike" afirmou com certa convicção "nós não vamos ficar longe nunca, tá bom?"
"Tá... Mas agora todo mundo sabe que você é meu outro pai, Harry" seus olhinhos estavam confusos "não é mais um segredo nosso."
"E quem disse que não queremos que saibam?" sentou-se "é a verdade, então todos tem que saber" Mike me olhou.
"Vai ficar tudo bem se estivermos juntos, Mike" segurei sua mão pequena "eu, você e o Harry. Tudo bem."
"Promete?" sussurrou "não quero que tio Will fique bravo com você."
"Tio Will não vai mais incomodar..." Harry garantiu.
Não demorou muito para Mike dormir, e Harry e eu sentarmos no sofá juntos, abraçados e quietos. Até a coragem me dominar, e eu perguntar...
"O que houve com William?"
"Ele armou um escândalo, Louis" me olhou de cima "chamaram a policia, e quando chegaram... Ele estava gritando ameaças pra você, pra mim, pro seu pai, pro mundo" ironizou "e o levaram por estar descontrolado. Pelo que seu pai me disse, ele será submetido a um teste de sanidade."
"Ah..." lamentei-me "porque William teve de acabar assim, me fala?"
"A reflexão da loucura interior, amor" murmurou "tenho dó do William, no fundo..." confessou "tenho dó porque ele simplesmente não soube encontrar seu lugar, não soube fazer-se, foi ofuscado por você... E talvez a culpa não seja totalmente dele, entende? A cobrança sempre foi grande por vocês serem iguais, e um superar o outro em alguns aspectos" assenti junto a ele "podia ter sido diferente."
"O pior é que podia" quando dei por mim, estava chorando "mesmo que ele fosse como era, era meu irmão e eu... Nunca quis o mau dele" suspirei, abraçando-o mais "espero que agora ele encontre o caminho, e que não seja rude demais..."
O silêncio dominou, e tudo que pude pensar foi no futuro que me aguardava, enquanto meu irmão seguiria sendo, talvez, dado como louco. Pensei em minha mãe... Em como deveria estar doendo para ela saber disso; pensei em antigamente, quando éramos pequenos... E sonhei com coisas assim a noite toda.
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Stormy Nights (Larry/Mpreg)
FanfictionLouis não sabia se tinha feito o correto. Não sabia se ter assumido a identidade do irmão gêmeo no dia de seu casamento era a decisão mais sensata... William Havia desistido, e agora cabia a Louis casar-se em nome do irmão para não botar tudo a perd...